Era como uma despedida sem previsão de volta. A sensação era totalmente inadequada para os fatos. Mesmo assim, ambos, em cada parte do país estavam repetindo para si: "são só alguns dias".
Melhor que o combinado, antes mesmo de Ally chegar ao check-out já encontrou Iza. Assim que a viu, Ian disparou correndo para abraçar a madrinha que tanto adorava.
— Antes que eu me esqueça, obrigada pela ajuda com o apartamento. — Iza disse enquanto puxava uma das malas com uma mão e Ian com a outra. — Sentimos falta de vocês, aliás, o que aconteceu? Você parece tão cabisbaixa...
— Não sei, deve ser só...acho que estou estranhando por algum motivo, dessa vez. É bem mais estranho do que deveria.
— E por que ele não veio?
— Coisas da produtora. Ele conseguiu fechar o dia e o horário que queria com a Galeria para a exposição. Eu poderia ficar lá, mas as crianças...
— Iria fazer tão mal ele perder os primeiros três dias de aula? — Iza estava colocando o cinto de segurança depois que ambas haviam colocado as duas crianças no banco de trás.
— Talvez sim, talvez não. Mas a verdade é que eu não gosto que ele perca muitos dias de escola. Além do mais, a Izzy vai começar a creche também...
— E o Mingus?
— Ele vem nas próximas férias. Está até com uma namorada nova.
— E ela é bonita?
— Pelas fotos, sim. Não cheguei a conhecê-la. Sabe como é essa idade, ele não quer o pai envolvido tão cedo...
— No caso desse pai, especificamente, é melhor mesmo. Vamos para a minha casa? Ou você quer ir para a sua primeiro?
— Só depende se você fez planos...tem algum?
— Dessa vez não...só que não estou gostando da sua carinha...Vai me contar logo o que está acontecendo? Foi aquele lance do seu pai?
— Nah...isso eu acho que finalmente é página virada...Foi só meio triste ir embora, mesmo...Não sei o porquê.
— Tem vez que a gente não está bem mesmo...deve ser isso, foi muita coisa que você não esperava ter que resolver em casa...a gente precisa de um tempo de refúgio nessas horas, por mais forte que se sinta...
— Deve ser isso mesmo.
— Então, está decidido: vocês ficam na minha casa hoje, amanhã levo vocês, tudo bem?
— Não vamos incomodar? O Jeffrey está ocupado com o script, não?
— Acho que é bom termos visitas um pouco. Ele precisa relaxar um pouco...
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— Bem... — Norman falou consigo mesmo enquanto olhava para o apartamento vazio. — Sozinho, de novo. No mesmo lugar.
Ally havia ligado avisando que estava indo para a casa de Iza e Jeffrey, o que ele achou uma boa ideia. O dia seguinte era domingo e teria bastante tempo para chegar em casa e preparar as crianças para a escola no dia seguinte.
Aquela mensagem que havia visto do Marco no celular dela voltou à superfície de sua memória de repente. Quando viu, dias atrás, chamou sua atenção, mas com a sequência de tantas coisas acontecendo, acabou esquecido por um tempo. Agora que ela estava longe, a velha cisma voltava a atormentar. Ela não havia falado nada a respeito, das duas uma, ou não tinha importância nenhuma ou ela não queria que ele soubesse.
"Bobagem. A minha mente que está pregando peças" - concluiu enquanto pegava uma cerveja e se sentava no sofá. Tinha bastante trabalho pelos próximos dias.
Estava lendo os scripts nos e-mails e o rádio estava ligado. Em algum lugar, um carro cantava pneu e disparava uma buzina que antecipava o quanto havia chegado perto de uma colisão. Lá fora vários ruídos se espalhavam, mas lá dentro o silêncio tinha uma força estranha que mantinha os ruídos fora do apartamento.
Ela havia deixado a cama desarrumada e haviam manchas nos lençóis como provas de um crime. Sentou-se na beirada da cama, com a cabeça recostada como se alguma parte dela ainda estivesse lá.
Só percebeu que havia caído em um sono profundo quando o celular o acordou.
— Norm, cara...ainda está em NY? — O antigo colega de trabalho, Sean Patrick falava alto como sempre no outro lado da linha. Se não estava bêbado ainda, estava prestes a chegar lá.
— Oi, cara...estou sim. Até quarta-feira, no máximo.
— Chama alguém para ficar com as crianças, então, estou em uma festa no Rooftop, traz a Ally também!
— Ela já voltou para Senoia, cara. — Norman respondeu esfregando os olhos. Aliás, que horas são agora?
— Quase oito horas.
Mal estava entendendo que caíra no sono de repente, como também havia dormido mais do que imaginava.
— E aí, você vem ou vou ter que arrancar você daí? Vai ficar de luto pela esposa viva agora?
— Me liga daqui a uns 15 minutos. Rooftop, certo?
— Se eu ligar e você não estiver a caminho, vou te arrastar.
Desligou o celular e foi para o banheiro da suíte, pelo menos lavar o rosto para se livrar da sonolência pesada, mas achou melhor tomar um banho de uma vez. Separou uma camisa preta e uma calça de alfaiataria que Ally adorava ("é a mais fácil de abaixar o zíper" ela brincou uma vez) esfregando desajeitadamente a toalha nos cabelos úmidos. O celular começou novamente a tocar, pensou que era o Sean que o apressava sempre que combinavam algo.
— Shoo? Está tudo bem? — Ally perguntou do outro lado da linha. — Achei melhor ligar agora, não sei se você vai dormir cedo, pelo horário que acordamos...
— Não, tudo bem...na verdade acabei cochilando umas horas depois de chegar em casa. Acordei agora há pouco.
— Mas está tudo bem? Você parecia meio pra baixo...
— Você também estava, sua tonta...eu percebi...
— Droga...— ela riu com uma falsa modéstia. — Eu não queria que você percebesse...
— Você é péssima nisso. E então, vai ficar com o casal hoje?
— Pelo menos essa noite. As crianças já ajudaram na fazenda, estão vendo filme agora...melhor que ficarmos sozinhos e entediados em casa...
— Então sou eu a diversão da família?
— Hey...não fique tão cheio de si, tá bom?
— Sempre. Olha só...o Sean-Patrick me ligou agora há pouco, uma festa aqui perto...espero não chegar muito tarde.
— Não, tudo bem...é uma boa, eu estou com amigos aqui também, você deveria fazer o mesmo. — Por algum motivo não estava acreditando nem um pouco no que ela mesma dizia. — Vai lá, aproveita para relaxar um pouco. Eu estou por aqui...
— Se eu te ligar mais tarde...
— Não muito tarde. Posso estar ocupada com meu amante.
— Ah, não, não quero incomodar vocês. Só não chama ele pelo meu nome, tudo bem?
— Nessas horas eu chamo ele pelo seu segundo nome... — Ela brincou enquanto acendia um cigarro. Gostava quando riam juntos das próprias piadas íntimas.
— Como eu posso chamar a minha amante, então? Você não tem segundo nome...
— É bem simples: não chame.
Ele gargalhou alto com essa.
— Vai encontrar seus amigos, Shoo. Não é justo você se cercar de trabalho o tempo todo.
— É, acho que vou sim. Beije as crianças por mim, tudo bem?
— Claro. Estamos com saudades.
— Eu também.
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...