VÊ SE CRESCE

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Naquela noite, Norman esperava que as gravações não demorassem muito além da manhã, mas a coisa toda se estendeu até o final da tarde. Afinal, era a última semana, Greg nunca havia sido tão cruel quanto daquela vez. Para evitar qualquer tipo de vazamento de quem morreria na próxima temporada, foram gravados takes da morte de cada um dos personagens — nenhum era exceção. E isso já estava avisado na leitura do script, bem claramente: "todos os personagens morrerão. Selecionaremos na próxima temporada um de vocês. Com amor, Greg =P". Piadinha de mau gosto, mas era o que mais faziam, de qualquer maneira.

A tensão doméstica parecia sob controle, bem, pelo menos pareciam ter feito as pazes naquela noite, antes de Norman ir para o set. Com o restaurante próximo da inauguração, estava combinado que a despedida daquela temporada seria uma espécie de pré-inauguração. Havia visto inúmeros anuncios no centro da cidade de um show de ninguém menos que Alice Cooper e traçava mentalmente os planos. Marianne não era muito dada a grandes reuniões, talvez até por isso ela se dava tão bem com Ally. Ela poderia ficar com a bebê e o Ian. Mingus, se ele não quisesse ir junto. A parte mais fácil estava feita: ingressos VIP para o show e todos já haviam confirmado, onze da noite, todos estariam no restaurante.

Exceto Andy, ele chegaria às onze e meia. Norman não havia perdoado a travessura com seus cigarros poucos dias atrás e era o momento da vingança.

— O que aconteceu? — Ally perguntou assim que o viu passar pela porta em direção à cadeirinha de descanso onde estava Izzy e dar um beijo no rosto de Ian e Mingus.

— Ué, o que?

— Você...você voltou para casa...limpo?

O tom desafinado da última palavra tornava óbvio tanto o choque quanto a surpresa. Ele apenas riu e voltou a atenção para a filha.

— Norm... por que estamos chegando em casa limpo, Reedus? — Virou de frente para ele, encostada na bancada com uma mão na cintura.

— E por que você está com essa pose de chaleirinha?

— Deixa eu ver... — Aproximou-se dele como um pastor alemão farejando à procura de drogas no aeroporto. — O cabelo está molhado, cheiro de sabonete, roupas limpas....Norman, você estava em um motel?

A pergunta veio tão de repente que ele não sabia o que dizer, ficou ali parado com o queixo esquecido e caído.

— O que? M-motel? O-o que v-v-v-ocê...não. Não! Não é nada disso!

Ally não sabia se ele estava entendendo que era uma brincadeira. A julgar pelo nervosismo e pela gagueira, ele realmente não havia entendido.

— Quem é a sirigaita?

— Quem é a o quê? — Ele estava cada vez mais confuso. Ally cruzou os braços e o encarava com um bico meio torto e sobrancelhas arqueadas. "Vale a pena criar umas rugas na testa apenas para me divertir um pouco" pensou. Mas o olhar de Norman mostrava que ele estava tão perdido e com medo de estar encrencado sem ter feito nada que o bico era um esforço dela para segurar o riso, até que ele percebeu.

— Dá o fora daqui, Ally. Que sem graça....cretina!

— Eu, cretina? Você estava tão assustado que estava preocupada de acabar colhendo algum problema de verdade enquanto estava brincando!

Mingus passou por eles para pegar um copo e uma caixa de leite na geladeira.

— Você caiu direitinho, pai...até eu que estava ouvindo lá de fora percebi que ela estava te sacaneando.

— Tá vendo? Não é culpa minha que você não presta atenção. Pato! Caiu feito um patinho!

— Ah, é? Conta até 3 que eu vou mostrar quem é o "pato" aqui.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora