CARA A CARA

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Não era um lugar tão distante, apenas três quarteirões e uma caminhada curta até o restaurante. Marianne estava com as crianças e Ally não sentia confiança em nenhum dos passos em direção ao local de encontro.

Realmente, não era uma simples impressão dele. Apesar do outro casal os receberem com sorrisos (e a considerar os copos que já estavam em cima da mesa no restaurante, já estavam lá há algum tempo) Ally não sentia um pingo de sinceridade. Na verdade, sentia-se como se fosse uma espécie diferente de inseto que estavam examinando como duas crianças curiosas.

— Ele falou muito de você... — Joshua estendeu a mão para cumprimentá-la. Era a primeira vez que não sentia falta de nenhum beijo ou abraço como estava habituada. Na verdade, não estava confortável sequer naquele aperto de mão.

— Eu soube... — retribuiu com um sorriso que nunca acompanharia o olhar. Diane, por sua vez, estava com um sorriso um tanto largo demais para ser real quando apontou para as cadeiras.

Não houve aperto de mão com ela. Na verdade, havia um esforço muito nítido em olhar Ally nos olhos, e ambos perceberam isso.

— Então...animado com o filme? — Diane perguntou antes de receber mais uma taça de vinho.

Norman segurava a mão de Ally em cima da mesa.

— O filme? Sim, lógico que sim. É bem diferente do que eu costumo fazer, mas...

— E você, Ally? — Joshua interrompeu a conversa com o mesmo tom da outra vez. Havia algo desafiador na maneira que interrompia a esposa sempre que uma conversa começava.

— Acho que não entendi bem a pergunta. Não tenho muito a ver com isso...

— Mas deve ser complicado, não acha? Cenas de sexo, minha mulher com o seu marido, quer dizer, eu mesmo no elenco...

— Não sei se deveria me incomodar com isso, na verdade. Depende de outros fatores...

— E quais seriam? — Ele passava o dedo na borda do copo de uísque como se estivesse tentando extrair algum som.

— Se me incomodasse tanto, com certeza não perderia meu tempo...é Joshua, certo?

— Ally, eu acho que... — Norman engoliu seco. Se a vez anterior naquele restaurante havia sido estranha, agora beirava o insuportável. Poderia cortar o ar com uma faca, tão denso que estava. — Quer dizer, somos todos atores aqui, então deve ser estranho para eles, não é nada de mais...certo?

— Bem, não deveria ser, pelo menos...

Durante alguns poucos segundos ninguém dizia uma palavra sequer.

— Pelo que soube, você teve um bebê recentemente, não é? — Diane perguntou se curvando para Ally tentando ser amigável.

— Sim, ela nasceu em casa. Já tem mais de seis meses.

— você tem alguma foto dela? Queria ver...

Ally se virou para Norman com uma expressão cheia de dúvida. Ele também não se sentiu confortável com aquilo.

— Na verdade, estávamos conversando sobre isso no caminho...eu prefiro não guardar essas fotos quando saio, ficam no celular pessoal, esse que eu tenho é para trabalho...

— E eu também, com toda a correria, chegamos ontem em NY e com trabalho, crianças, o convite foi tão de repente que acabei esquecendo o celular em casa.

Não importa o quanto mentiram mal; não estavam confortáveis em mostrar fotos das crianças por qualquer motivo.

— Deve ser incrível...ter filhos — Diane comentou com um suspiro. — Ainda não chegamos a um acordo a respeito disso, eu e o Joshua.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora