"Caro Norman,
Feliz aniversário! (Bem, talvez esteja "um pouco" atrasada, mas ao menos não deixei passar em branco, certo?)
Espero que tenha aproveitado bem o seu dia, pelo menos pelo que vi no Instagram, foi bem divertido.
Bom, esta vai ser uma carta breve, meu filho acordou chorando e quando tentei amamenta-lo ele não conseguia. Então tirei sua temperatura, desconfiei que ele estava doente e lá estava: 39 graus de febre. Desconfio que seja dor de garganta. É normal em bebês da idade dele nessa época do ano (aqui é Verão e está calor e úmido feito um inferno). Além do mais hoje ele brincou com água, mas depois vacilei e deixei ele brincando perto do ventilador ligado. Mas não havia nada que eu pudesse fazer ele não queria brincar longe do ventilador, devia estar sofrendo também com esse calor maldito. Levei ele no pronto-socorro e tive que dar um banho frio nele para baixar a febre lá no hospital mesmo, acho que nunca tive tanto medo na minha vida. Quando chegamos lá ele já estava passando dos 40, eu morri de medo de ele ter uma convulsão. Me desculpe, mas não consigo pensar em mais nada para escrever, estou muito preocupada com ele. Talvez amanhã eu consiga escrever outra carta, está na hora de dar o remédio dele.
Xoxo
Ally"
- Essa eu não tenho como esquecer mesmo...estava em pânico real, ele dormia toda vez que tomava o antibiótico, chorava quando ia mamar...eu escrevi só porque eu estava sozinha mesmo. Minha mãe me ligava mas eu não conseguia falar, ela só perguntava "E o Ian, como ele estã?" e minha garganta começava a queimar de tanta vontade de chorar. Nunca tinha sentido essa vontade antes, queria que tivesse algum jeito de tirar as bactérias que estavam fazendo mal pra ele à unha de dentro da garganta dele...
- Conheço essa sensação...
- Agora me lembro...essa foi uma das cartas que você não respondeu, não é? Achei até que você não tinha recebido...
- Bom, receber eu recebi...mas eu não sabia o que dizer...e mesmo assim, logo depois veio outra carta e parecia estar tudo bem.
- Hmhm...
- E agora? Vamos ter outra sessão de pânico em breve, outro bebê que vai ter febre repentina, dor de ouvido, dentinhos saindo...
- Eu prefiro não pensar nisso por enquanto...já tenho bastante situação de pânico imediato pra administrar, melhor não antecipar os sofrimentos futuros...
- hmmm...certo...próxima carta?
Ela ainda lia aquela enquanto ele pegava uma outra.
"2 de Janeiro
Caro Norman,
Eu queria poder dizer Feliz Ano Novo, mas soube hoje que sua avó faleceu. Sinto muito por isso. É uma droga. Não sei como foi para você, mas considerando como você disse que aconteceu, não foi muito diferente de quando a minha avó faleceu. Eu tinha 15 anos quando ela morreu. Foi muito forte a história. Na noite anterior, quando ela foi dormir, me deu um beijo na testa como sempre fazia desde quando eu tinha 3 anos, e antes de subir para o quarto, falou "Pelo menos se eu morrer amanhã, já tem o dinheiro do meu enterro. Além do mais, eu sei que consegui o que queria: criei a sua mãe e você para serem duas mulheres fortes. É a única coisa que eu sempre quis que vocês fossem."
Eu não dei muita atenção naquela hora, talvez por instinto de proteção, sei lá, mas não disse nada. Não gostei do que eu ouvi, acho que foi isso. Na manhã seguinte, ela acordou às 6 como sempre, fez aquele café extremamente forte. Eu não tinha dormido a noite toda, não conseguia dormir. Então ela disse que estava com tontura e o peito doía. Se sentou na poltrona dela, e minha mãe desceu para ver o que estava acontecendo. ela reclamava que sentia uma queimação no peito. Ela gritava de dor e ouvi ela dizer "chama a Ally". Desci correndo do meu quarto para a sala, ela estava sentada ali, com a mãozinha no peito. E foi tudo que aconteceu. Segurava a mão dela o tempo todo e ela me disse "agora adeus, querida. Acabou". E morreu. O lance todo não durou nem 10 minutos. Ela tinha 86 anos. Ainda sinto tanta falta dela...Ela adoraria ver o bisneto que eu fiz e estou criando.
De qualquer maneira, acho que me deixei levar pelas lembranças agora. Na verdade era só para dizer que sinto muito, de verdade por sua perda. É foda, eu sei. Não sei se tem muito mais que eu possa dizer além disso. "
- Agora vamos ver....tem mais alguma?
"13 de Janeiro
Cara Ally,
Obrigada pela sua carta. É foda mesmo. Não foi muito diferente do que você contou. Eu só não estava ali. Me despedi dela no hospital e ela morreu algumas horas depois. Mas eu tento pensar no lado positivo, e acho que faria bem você incluir esse pensamento nas suas lembranças: ao menos tivemos a oportunidade de nos despedir. Poucas pessoas têm direito a esse luxo, se pensar bem. E concordo com a sua avó, pelo menos do que eu li até agora: ela realmente criou uma mulher forte. Mais do que ela mesma esperava até. Mas ainda assim, fica uma coisa que eu nunca entendi, talvez por eu não ser uma mulher: mas o que significa "ser forte"? como é isso?
Pergunto porque fiquei pensando aqui, exatamente agora que eu concordo com a sua avó, mas provavelmente não do mesmo ponto de vista. Ou ponto de leitura, no meu caso. Mas com tudo que você já contou aqui que sobreviveu, com certeza não há nenhum sinal de fraqueza.
Agradeço muito pela sua carta, aguardo a próxima.
Xoxo
N.M.R."
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...