Norman acordou antes que o despertador do celular tocasse. Mal se levantou da cama, voltou apressado para cobrir o peito nu, pois mais uma vez se esquecera de mudar o termostato do apartamento (que Ally nunca esquecia). O frio de NY não era o mesmo frio do Estado da Geórgia, isso ele sabia mas se reafirmava naquele instante. Olhou ao redor procurando o moletom que deixara jogado no chão em alguma parte ali (o lado bom de "brincar de solteiro" - roupas jogadas no chão sem levar nenhuma bronca por isso). Desistiu por um momento de procurar, apertando com mais força o cobertor pesado enrolado no corpo. "Café. Preciso de alguns litros de café".
Lembrou-se com um sorriso no canto da boca a longa conversa ao telefone com Ally enquanto esperava o pontinho laranja na cafeteira acender. Ao seu redor, o apartamento, seu velho apartamento estava como se nunca tivesse saído de lá. Bem, um pouco mais arrumado do que costumava ser, pelo menos, e nenhuma migalhinha de pão sequer sobre a bancada da cozinha.
Quando finalmente a luz laranja acendeu, esticou um braço para pegar a caneca, colocando-a sobre a bancada para se servir a primeira dose de café para começar a planejar o último dia em NY. Tocou o celular sobre a bancada e teve que com o mesmo único braço para fora da coberta, colocar a caneca de volta no lugar para pegar o aparelho. Antes de atender a ligação viu seu moletom preto caído no chão. Devia estar enrolado no cobertor, por isso não o encontrou antes.
— Pai?
— Oi, meu filho, bom dia! Por onde você esteve?
— É, eu sei, estou devendo para você e a Ally...
— Ela ficou preocupada também, que tivesse acontecido algo..
— Não, não aconteceu nada. Eu soube que você estava em NY, mas também ficou um pouco complicado...desculpa ter demorado tanto.
— Imagina, filho. Não precisa se desculpar, na verdade eu quem deveria pedir desculpas. Os últimos dias foram tão corridos que eu acabei me atrapalhando, mas...
— Não tem problema, pai, eu entendo. E como estão as coisas? A Ally? Ian? E a bebê?
— Bem, espero que estejam todos como eu eu deixei, mas sentimos todos sua falta. Aconteceu alguma coisa?
— Hm...aconteceram algumas coisas, sim, pai...
— O que houve?
— Não é nada ruim. Só...olha, a Ally está em casa, né? Ou ela veio com você?
— Ela ficou em Senoia. — Era estranho o sumiço do filho, e a última vez que soube dele, foi quando Helena disse que ele não iria voltar para Senoia depois das férias. Mas ninguém entrou em detalhes e isso o deixou confuso. — Você quer passar aqui? Vamos tomar um café ou algo assim. O que acha?
— Claro pai. Daqui a pouco eu chego aí, a minha mãe vai me levar. E...Pai?
— Sim?
— Promete não surtar?
— Eu prometo que vou tentar.
— Eu precisava muito falar com a Ally. Tudo bem se eu ficar com vocês por uns dias?
— Não vejo problema nenhum, filho. Mas...você não quer me contar o que está acontecendo? Ficamos preocupados...
— Não me entenda mal, pai...mas prefiro falar com ela primeiro. Quando eu chegar aí a gente vai para algum café, ou coisa do tipo, tudo bem?
— Tudo bem, filho. Estou esperando então.
Encarou o aparelho por alguns segundos com as sobrancelhas retas antes de largar o cobertor sobre o sofá e vestir o agasalho que pegou do chão. Havia jurado a si mesmo não surtar nem esquentar muito a cabeça sem real necessidade quando Mingus era bebê e imaginava como seria sua adolescência.
Mas agora que a idade havia chegado, sentia-se pego de surpresa. E como ele preferia conversar com Ally ao invés de falar com ele? Sempre foram amigos, melhores amigos um do outro.
— Tudo bem. Deve ser algum assunto sobre meninas. É mais confortável falar com ela. Espero que seja isso.
Olhou ao redor, pensando consigo mesmo "agora dei para falar sozinho...".
Pensou em ligar para Ally, mas provavelmente ela o chamaria depois. Nesse meio-tempo, conferiu a agenda do celular os planos que tinha, o único dia que não estava cheio de compromissos profissionais (pelo menos, nenhum urgente ao qual pudesse se atrasar). Ligou a TV em um canal de notícias enquanto acendia um cigarro para acompanhar o café.
Como se "alguém" pudesse ver o edredom em cima do sofá, Norman o recolheu e levou para o quarto, deixando-o esticado na cama.
Tinha acabado de sair do banho e se vestir quando Mingus chegou. Assim que o garoto passou pela porta, foi um susto. Ele estava crescendo rápido, logo alcançaria sua altura. Talvez até passasse dele, mas de alguma forma, ele ainda via o garotinho que passeava pelas ruas de NY sentado em seus ombros.
— Hey, pai... — Mingus falou com meio sorriso no rosto enquanto colocava uma mala e uma mochila no chão ao lado da porta.
Ele se adiantou, abraçando o filho. Se perguntou se deveria dar uns tapas nas costas como um homem adulto. Era de fato, quase um homem. Mesmo assim, beijou seu rosto como sempre fazia desde quando nasceu.
— Você está bem, garoto? — perguntou segurando o rosto do filho com as duas mãos.
— Estou sim. Hm...vamos aonde? Mesmo lugar de sempre?
Norman pegou a carteira em cima da mesa diante do sofá.
— Pode ser. Ou você tem alguma outra ideia?
— Não, nenhuma pai.
— Quase esqueço de perguntar. Isso é tudo que você vai levar? — perguntou apontando com o queixo para a mala e a mochila. Mingus passou a mão nos cabelos enquanto colocava a outra no bolso da calça.
— Não quero levar muito, se precisar de mais alguma coisa, me viro por lá.
Norman beijou mais uma vez o rosto do filho enquanto abria a porta. Segurando a mão do rapaz como se ainda fosse um menininho, entraram no elevador e saíram do prédio. A dois quarteirões entraram no pequeno café onde iam juntos há muitos anos.
— Não foi nada contra vocês, muito menos com o nascimento da Izzy. Foi só um...azar, sabe? Aconteceu numa hora que eu não ia ser boa companhia.
— Mas o que aconteceu para você se afastar tanto assim? Nós ficamos aflitos, Mingus...
— Eu sei, mas...não tenho muito como explicar agora, pai...E de qualquer forma, ainda estou em tempo, não?
— Claro que está. Você sempre teve as portas abertas, isso nunca vai mudar. Isso eu falo por mim e pela Ally também.
— Eu sei, pai. Ela deve estar enlouquecida, não? Outro bebê, e ainda mais assim...
— Assim como?
— Deve ser estranho, sei lá.
— Bem...ela é estranha, então...
Mingus riu com o pai.
— Hey... — Norman disse segurando a mão do filho. — Eu estou feliz que você voltou.
— Eu sei, pai. Eu também senti falta de vocês.
Conversaram sobre trivialidades, sobre a escola, sobre a família. Combinaram que se encontrariam no apartamento às nove. Norman providenciaria uma passagem para Atlanta para o filho e voltariam juntos para casa.
"No total são...eu, Ally e três filhos. Ainda não são tantos filhos assim" — pensou e riu quando percebeu que se tivesse falado em voz alta e Ally tivesse escutado, levaria um tapa no braço por conta do "ainda".
Estava com saudades. O apartamento ainda era o mesmo, mas não era onde estava seu lar agora. Despediu-se do filho ainda na porta do café. Mingus dissera que tinha "umas coisas para resolver" antes de ir. Norman precisava apenas finalizar o contrato com a galeria onde faria uma exposição de suas fotos.
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
Chick-LitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...