ORGULHOSA

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Por mais que acreditasse que notícias ruins que viajavam rápido, Jo não demorava em trazer as boas notícias. Ally esperava por algo que fosse relacionado à carreira de Norman, já que aos poucos se acostumava a não lutar contra o fato de que não poderia se decicar à sua própria naqueles meses (que passavam rápido e ao mesmo tempo, tão devagar). Por isso, quando viu que Joanna já havia ligado 3 vezes enquanto ela dormia e mais duas vezes quando estava no quintal com as crianças enquanto Iza e Jeffrey conversavam e tentavam se entender na sala (e Ally torcia para que conseguissem sozinhos; odiava ter que intervir), não teve pressa em retornar a ligação. Se fosse tão importante assim, teria alguma mensagem, afinal.

Estava procurando o maço de cigarros, para fumar na parte mais escondida do quintal (e longe dos pulmões jovens) quando o celular começou a vibrar em seu bolso.

- Ally, onde você estava? Quase liguei para o Norm!

- Estava aqui o tempo todo, Jo, não precisa de todo esse pânico, está tudo bem, só a correria doméstica mesmo. Cheguei a ver que você ligou, mas não estava conseguindo atender a tempo, quando vi...

- O que você tem? A sua voz parece tão desanimada, aconteceu alguma coisa?

- O quê? Não, não...é só cansaço, acho. - Mentia tão mal que esfregou os olhos para disfarçar como se Jo pudesse vê-la. - Então, o Norman disse que você ligaria...

- Primeiro, preciso saber uma coisa: Ainda sente falta de trabalhar?

- Todo santo dia...apesar de que trabalho por trabalho...

- Eu sei. Mas me refiro ao seu trabalho mesmo. Quer dizer, tem alguma coisa para publicar, ou que ficou pendente?

- Em tradução, não, me apressei em terminar tudo antes do final da gravidez...mas os livros...

- Exatamente onde eu queria chegar. Olha só, tem uma editora que está precisando...quer dizer, eles já conseguiram um tradutor da equipe da empresa mesmo. O que você acha?

- Mas você se refere aos livros que lancei no Brasil, quer dizer, para o Brasil, ou o que ficou estagnado agora?

- O que você achar melhor. Mas na verdade, a editora foi contatada pela sua editora no Brasil com o primeiro. E querem ele traduzido antes de qualquer outro.

Antes de terminar de levantar uma mão para o céu, interrompeu o movimento bruscamente. O sorriso continuou no rosto, mas não nos olhos.

- E então? o que acha?

- Bom...como isso aconteceu?

- Simplesmente aconteceu, Ally. O seu editor brasileiro...

- ... O Marco?

- Ele mesmo, deve ter contatado algum agente da Penguim.

- Assim, de repente, sem falar comigo nem nada?

- Ally... - Joanna bufou do outro lado, já sabendo o que estava tão estranho para Ally. Norman havia pedido para manter segredo, mas Joanna sabia que Ally não era nenhuma boba e que o conhecia mais que o suficiente àquela altura. - Você sabe muito bem de quem foi a ideia...

- Jo, e você sabe que eu não gosto que ele faça isso. Eu cheguei até onde cheguei sozinha, e quero continuar assim!

- E quem disse que você não vai conseguir sozinha?

- É o que ele insinua sempre que insiste em fazer isso. Não preciso de empurrõezinhos.

- Bom, acho que agora você está num beco sem saída...Mas não precisa ser tão dramática. Não é como se ele estivesse pagando para te publicarem, afinal. O mérito continua sendo seu, da sua capacidade.

- Como se eu não tivesse capacidade sozinha.

- Ally, pensa nisso com cuidado. Afinal, não é justo. O Marco se esforçou para te ajudar até hoje e você sempre chamou isso de parceria. Porque não seria uma parceira entre nós quatro?

- Nós quatro?

- Eu, o Norman, você e o Marco...

- Fica parecendo mais ainda que eu sou uma criança precisando ser carregada no colo.

Jo começou a gargalhar no outro lado da linha.

- Me desculpe...mas o Norman sempre disse que você é orgulhosa, mas agora me pegou de surpresa! Não é nada disso, Ally. Você não vai ser "a namorada do Norman Reedus que escreveu um livro". Ou você acha que seu livro deu tão certo no seu país por isso?

- Não é difícil.

- Pois bem, não foi assim. Você devia ter acompanhado isso mais atenta. Na verdade, tem mais mérito a sua parceria com o Marco do que a sua relação com o Norman por lá. Deve ser por não associarem, bom, pelo menos por enquanto, a sua imagem com a de namorada dele.

- E como você sabe tudo iss... - bateu na própria testa e respirou fundo. - Claro que você esteve de olho na minha carreira por lá, não foi? eu tenho uma RP aqui e não sabia...

- Na verdade, Ally, não foi só a pedido do Norman, mas também porque o meu trabalho fica mais fácil. Não se esqueça que eu fui a primeira pessoa de confiança que você teve quando veio, não foi?

- Isso é verdade...bom, e qual é o plano, então? Eu assino onde?

- Se você tiver tempo livre para olhar seu e-mail, o contrato e a autorização estão lá. O contrato com a Penguim e a autorização para o tradutor, claro. A não ser que...

- A não ser que o quê?

- Você é tradutora, porque não faz essa parte?

- Seria uma ótima ideia, Jo, mas só de pensar já fico mentalmente exausta. Se eles querem que outra pessoa traduza, por mim, tudo bem. Vou olhar com calma o contrato. Pelo menos não é á moda antiga igual estúdios de filmes. E Jo...uma coisa...

- Sim?

- O que isso tudo tem a ver com NY?

- Ah, sim, quase me esqueço, essa é a parte divertida. O prazo que a editora combinou, a partir do contrato, é de 6 meses para a tradução. E então, querem um lançamento do livro, aí que NY entra.

- Uma Barnes & Noble da vida?

- O que você quiser. Você escolhe. Em Novembro, o que acha?

- Se for o que eu quiser...é até o local?

- Desde que em NY.

- Já sei onde. E quem. E quando.

- Hm, parece que não foi tão ruim assim, afinal, a voz já melhorou...pode compartilhar as ideias que estão passando na sua cabeça?

- Não por enquanto, primeiro vou ver esse contrato com calma.

- Combinando todo o cronograma, acertamos isso tudo, então...e Ally? Posso pedir uma coisa?

- Depende...

- Não briga com o Norman por isso. Ele fez muito pouco, na verdade, não mais do que me passar o contato do seu agente e combinar com ele a reunião na editora.

- O Marco está em NY?

- Não, eu passei para ele a reunião por telefone...por quê?

- Ah, droga...iria adorar reencontrá-lo...Mas ele vai estar aqui quando sair a versão em inglês.

- Vai? Eu não...

- É a única parte do que estou planejando que posso contar, por enquanto.

- Então, você está de acordo com a proposta?

- Digamos uns 70%. O resto depende do contrato.

- Posso falar para o Norman que você não está brava com ele então?

- Pode, mas não tão já. Deixe ele preocupado por algumas horas...

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora