Nada havia desapontado naquele dia. De fato, alguns poucos minutos depois que Ally saiu, sua mãe estava na porta, com três sacolas, todas para os netos.
— Mãe, pelo amor de Deus, não precisa de tanta coisa...
— E eu perguntei se precisava? Se eu não puder mimar meus netos, vou fazer o quê com eles?
— Pelo menos a Izzy, ela nem entende ainda o conceito de "presentes".
Marianne abriu a boca pronta para censurar o filho. "Até parece que você não gostava de ganhar coisas quando pequeno!" estava pronta para vocalizar o pensamento, mas Ian correu para a porta com os braços abertos para abraçar a outra avó.
Enquanto pegava o menino no colo com um gemido forçado fingindo estar mais pesado do que era, olhou para Norman entre os beijos na bochecha gordinha.
— Pode ir fazer o que quer que você precise, filho, eu assumo o comando aqui.
Ele deu um beijo na testa da mãe, agradecendo. Por mais que reclamasse, adorava o amor que ela tinha pelo Ian. Eram mesmo almas gêmeas desde o primeiro encontro.
— Não vou demorar muito. Você é a melhor!
— A Ally deixou leite para a Izzy?
— No congelador.
Agradeceu a mãe mais uma vez antes de abraçar Ian e disparar pela porta. Quanto mais cedo terminasse todo o trabalho que esperava na produtora, mais rápido voltaria para casa.
Havia acabado de anoitecer quando voltou, Ally já estava lá, terminava de secar e vestir Izzy enquanto Marianne secava os cachinhos de Ian.
— Estava pensando em levar ele para cortar o cabelo, está comprido e embaraça o tempo todo com ele pulando pra lá e pra cá o dia todo...
— Mas você tem coragem? Eu não teria... — Ouviu Marianne respondendo.
— Eu deveria ter, mas é difícil...
Escutando a conversa foi até a porta do quarto, encostado no batente da porta. Ally se virou para pegar um pijaminha para a bebê e tomou um susto enorme com a figura dele estacionada ali.
— Quase me mata do coração, panaca! — ela riu batendo nele com o pijama.
— Só estava admirando as mulheres da minha vida.
Marianne riu batendo no ar dispensando o cortejo.
— Quando você começa assim é por que quer alguma coisa, Mark.
— Vocês sabem que eu nunca vou me acostumar com você chamando ele de Mark, certo?
— Eu tive bastante dificuldade quando todos começaram a me chamar de Norman... Ally, podemos conversar um pouquinho ali na varanda?
— É um convite para fumar um cigarro, não é?
— Eu não gosto de fumar sozinho.
Marianne pegou um livro que havia trazido nas enormes sacolas de compras enquanto Ally o acompanhava até a varanda.
— Como foi hoje? — Ele perguntou enquanto acendia o cigarro. — Você foi até o apartamento da Iza?
— Sim, resolvi tudo que ela precisava. Tudo em ordem. Voltei relativamente rápido, inclusive...e você? Como foi hoje?
— Cansativo...estou com dois scripts para ler, pouco tempo disponível...mas a parte boa é que consegui fechar uma data para a exposição nova.
— Isso é ótimo! — Ally sorria enquanto o abraçava. — eu sabia que ia dar tudo certo!
— Só tem uma coisa que está martelando na minha cabeça...
— Aquele convite para jantar que já não te causou uma boa primeira impressão na primeira vez, não é?
— Será que não é melhor cancelarmos? Fazer alguma outra coisa, só eu e você?
— O que você está tão preocupado com essa história toda? — Nem sequer estava olhando para o rosto dele, mas para os dedos que instintivamente tentava estalar. Aquele gesto nunca enganava ninguém.
— Já foi esquisito da primeira vez, não sei o que podem querer...na verdade...acho que você vai até ficar um pouco brava.
— Então melhor falar de uma vez, porque suspense me deixa mais brava ainda...
— Eu sei...na verdade, foi a Diane quem ligou. Não sei porque acabei contando que estava em NY e ela perguntou se poderíamos nos encontrar. Pra mim ficou subentendido que seria outro encontro como aquele de antes. Como fiquei super desconfortável falei que você iria junto.
— Não querem que eu vá?
— Não, não foi nada disso...Mas só depois fiquei pensando em como foi esquisito me convidar como se você não existisse.
— Não é como se ela não soubesse. Ou todos eles.
— O que deixa tudo mais esquisito ainda. Ou é só impressão minha?
— Eu também acho tudo isso esquisito...Por outro lado, o combinado já está feito, não é?
— Eu sempre posso criar alguma desculpa, desmarcar, o que você acha?
— Eu acho que você errou feio. Errou feio, errou rude. Não cheguei nem perto de ficar brava. Intrigada, um pouco, não entendo qual é a dessa gente, mas você fez questão de me incluir nessa. E isso foi muito legal.
Abraçou-o pelo pescoço, puxando-o para um beijo. Lá dentro Marianne já havia conseguido fazer todos dormirem.
— Não se incomodem comigo, crianças...só estou recolhendo essa bagunça... — ela comentou cobrindo os olhos com a mão enquanto recolhia papéis de presente rasgados no sofá. — De qualquer forma, já deixei a cama arrumada no quarto do Mingus. Ele vem aqui hoje?
— Acho que amanhã, depois da escola.
— Ótimo, ótimo... — Marianne comentou enquanto tirava uma manta perfeitamente dobrada do sofá para dobrar de novo. — Vou adorar passar mais um dia com todos os meus netos. Sabe, a sua irmã deveria ter trazido mais vezes os meninos, agora eles já são grandes e eu mal...bom, estou tagarelando um pouco demais. Acho melhor ir deitar agora.
— Vou deixar café pronto para você amanhã, Mary...boa noite!
— Boa noite, menina. Boa noite, filho.
— Boa noite.
Se olharam enquanto Marianne voltava para o quarto.
— Ela precisava mesmo fazer tudo isso? — Ally perguntou assim que ela saiu de vista. — Fico até um pouco sem graça, ela sempre faz tudo quando vem aqui...
— Ela gosta de ajudar, Ally...de qualquer forma, ela criou dois filhos sozinha, lembra? Deve sentir algo parecido quando te encontra.
— Mas eu não estou sozinha...
— Esteve por um bom tempo. Deve ser a mesma coisa.
Abraçou-a, encostando a testa na dela. Em seguida, abriu o casaco puxando-a mais perto para cobri-la.
— Está mesmo esfriando rápido...Não era o que eu esperava aqui...
— Quem mandou praguejar tanto contra o frio? — ele riu enquanto beijava sua testa. — Acho melhor pegar aquela manta que a minha mãe acabou de dobrar, se vamos passar algum tempo aqui fora.
— Acho que é melhor entrarmos. Não quero acordar tarde amanhã.
— Compromissos?
— Bem, assim como você tem a sua agenda, também tenho a minha. Mas antes de tudo, quero acordar mais cedo, senão a sua mãe vai dominar a casa e eu vou acordar querendo esconder o rosto dentro de um casco de tartaruga...
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Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.
ChickLitForam dois anos de esforços, tentado sustentar a relação e finalmente conquistar a confiança de Ally. Mas será que esses esforços bastavam? Com a relação evoluindo ao passo que a carreira de Norman avança, más decisões farão mal a todos. Mas será me...