Desajustes

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- Você vai me contar qual é o problema, ou eu tenho que ficar tentando adivinhar?

- Norman.... - Ally suspirou enquanto colocava a bolsa no balcão. - Não é nada disso. Eu só não sei o que dizer sem que vire uma briga.

- Se você continuar assim, aí teremos mesmo uma briga. Não é melhor falar de vez qual é o problema?

Ela coçou a cabeça um pouco enquanto pegava uma maçã e cortava para servir para o filho.

- O problema aqui, Norman...é que você sabia o quanto eu estava preocupada. Me pareceu um puta descaso, você tinha todo o tempo do mundo para ir ver esse negócio de trocar de carro. E ainda me chega com um carro desse, Norman? Onde a gente coloca o bebê nesse carro? No porta-luvas?

- eu não comprei o carro para as crianças, Ally, comprei para mim, você não entende isso? Eu não posso comprar nada para mim?

- Mas então precisava trocar o carro? E se o meu carro quebrar e precisarmos levar as crianças para o hospital? E se acontecer alguma coisa comigo?

- Existe o 911 para esses casos, Ally.

- Então, primeiro vamos confiar no meu carro, depois no 911 porque o pai simplesmente prefere ter um carro só pra ele? Eu...porra, Norman...parece que você ignora a gente.

- Eu não estou ignorando niguém, Ally, para de exagerar. É só um carro! Eu compro o antigo de volta se esse é o problema, pronto. Podemos parar com isso agora?

- Mas você quase perdeu a consulta hoje por causa de uma...uma vaidade dessas. Isso que me incomoda. Parece que não havia nada mais importante do que você comprar um brinquedo novo pra você, igual...aqueles caras que nunca tiveram dinheiro antes e começam a comprar um monte de coisas inúteis. Você não era assim, eu não estou entendendo isso, Norman, o que tá acontecendo com você?

- Eu não posso querer realizar o sonho de um carro então, sem você ficar me julgando?

- Eu só fiquei surpresa, Norman...você não parecia ligar para essas coisas...

- Ah, aí é um problema seu, Ally. Se você gosta de tudo de qualquer jeito, é problema seu. Se você recebesse o que eu recebo e trabalhasse o quanto eu trabalho, não ia se meter assim.

- O que você tá falando? Que eu sou ignorante por não ter interesse em um Porsche ou tolerar esse relógio de ouro que você queria tanto? Eu só disse que....você parecia não ligar para essas coisas, pelo menos eu nunca vi...

- Talvez porque agora você não está mais conseguindo se projetar em mim, Ally. Eu sempre gostei dessas coisas. Quando eu te comprei aquela Triumph de presente, não foi tão ruim, não é?

Ally se calou naquele mesmo instante. Apertou os lábios com as sobrancelhas franzidas enquanto voltava-se para o filho, levando-o para o quintal. Assim que passou pela porta, voltou para ele.

- Talvez eu deva apenas apreciar quando ganho algo que é de coração, como você mesmo disse quando me deu aquela moto. Ou quando você colocou esses brinquedos para ele aqui.

- Ally, não foi isso que eu quis...

- Ah não foi? o que você quis dizer, então? Tonara que este bebê não resolva nascer enquanto você estiver fazendo compras com a sua nova fortuna, Norman Reedus. Iria odiar interromper um momento tão importante com uma coisa tão banal.

- Ally...espera...

- Sabe o que mais? Não tem motivo para essa casa ficar no meu nome também. Antes que você resolva jogar isso na minha cara de novo. Filho da puta presunçoso. Nunca esperei que você fosse assim, Norman.

- Mas eu não sou...é só...eu devolvo o carro, tá bom? você tem razão eu priorizei a coisa errada, não é hora para isso.

- Ah, agora não importa mais, Norman, fica com o carro, devolve o carro, não me importa o que você fizer. Só por favor, não me faça mais nenhum favor, tá bom?

- Qual é, Shoo, eu tô tentando pedir desculpas, você...

- Vai se foder, Norman. Quem é você, afinal? Não parece que eu te conheço mais.

Apesar de ela estar bem ali, na sua frente, no quintal, ele não conseguia se obrigar a se aproximar dela. Ele mesmo não entendia porque tinha falado aquilo, e por isso mesmo, não sabia como consertar.

Mais tarde naquele dia, estava em uma reunião com Greg. Estavam comprando um pequeno restaurante nos arredores de Senoia, aquele que sempre frequentavam. O dono havia falecido e os filhos não sabiam como tocar o negócio adiante e Greg havia proposto que eles comprassem para manter o restaurante em pé. Era um lugar muito querido por eles.

Quando saiu, no final da tarde, mal conseguiu avisar Ally. Estava o tempo todo, ao que parecia, se virando de costas para ele.

Jamais ele diria, mas de certa forma, mesmo que ela tivesse razão, não tinha nenhuma intenção de se desfazer do carro. "Só escolhi a hora errada para fazer isso. Mas não precisava também me xingar daquele jeito."

Bem, Mingus estava com eles durante aquele período e provavelmente a teria distraído vendo algum filme. estavam assistindo muitos filmes juntos, praticamente todas as noites, assim que o Ian dormia.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora