DIFERENÇAS E VERDADES DURAS DE ENGOLIR

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Há dias que os desencontros em casa ficavam mais e mais constantes. Haviam mil compromissos que Ally insistia em espremer nas horas entre levar e buscar os filhos. Norman muitas vezes dormia no set perto dali, para estudar o script do filme.

Era uma sensação estranha para ambos. Naquela tarde gravou as cenas do filme, já tinha passado a madrugada com a equipe da série gravando as cenas noturnas. Estava exausto, estava com saudades de casa, e estava preocupado.

No decorrer daquele mês muitas coisas haviam mudado. Antes era comum receber sempre alguma mensagem, boa noite ou bom dia, alguma foto das crianças, qualquer coisa "para não esquecer que você ainda tem uma família", era como diziam um para o outro. Às vezes mandava alguma mensagem para dizer que estava com saudades, mas Ally demorava para responder, inclusive pedindo desculpas por não ter respondido antes.

Quando chegou na casa, tudo estava vazio, inclusive a garagem. Ally devia ter saído para buscar as crianças. Perambulou um pouco pela casa. A agenda de Ally estava aberta sobre a mesa de seu escritório, pilhas e pilhas de livros com marcadores e anotações. O notebook estava aberto. No exato momento em que decidiu fechá-lo, a caixa de mensagens mostrava um novo e-mail.

" Ally, conforme combinamos, terminei a minha parte e combinei com o seu texto. Ficou legal pra caramba. Se tiver alguma coisa que você queira mudar, me manda.

Se cuida bem, menina.

PS: Espero que não tenha levado a mal aquele dia que você veio aqui. Só fiquei preocupado quando vi você chegar sozinha, mas agora acho que entendi. Marco."

Aquelas palavras agitaram seus pensamentos. Quando isso aconteceu? Do que ele estava falando?

Marcou o e-mail como "não lido" e fechou o notebook como se ele estivesse pegando fogo. Não queria mais saber. Não queria imaginar.

Pegou um cigarro e saiu para a entrada da casa. Mal havia acendido quando o carro dela passou diante dele e entrou na garagem.

— Você chegou cedo! — Ela disse enquanto esperava o Ian subir a escada, carregando a Izzy e as mochilas no colo.

— Deixa que eu ajudo com isso. — Respondeu totalmente sem vontade de falar com ela. — Como foi o dia?

O sorriso de Ally desbotou um pouco, pois o tom seco não havia passado despercebido.

— Foi...tudo bem. Produtivo, acho. E o seu?

Ele tentava, tentava mesmo não demonstrar o que sentia. Mas não era seu forte, e seu olhar estava duro demais para que conseguisse acalmar os próprios ânimos.

— Bastante corrido também.

— Você vai ficar aqui hoje, ou já vai voltar?

— Acho que vou ficar aqui. Gravações externas ficaram para amanhã.

Ela apenas continuou a arrumar as coisas e conferia as lições de casa do filho enquanto ele estava parado ali, sem dizer palavra sequer.

— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, sentindo nos ossos que alguma briga nova estava começando. Ele apenas encolheu os ombros com os braços cruzados sobre o peito.

— Não...quer dizer, tudo parece estar indo muito bem, não é?

Ela revirou os olhos colocando a agenda aberta do filho sobre a bancada da cozinha.

— Melhor você me dizer logo, Norman. Eu odeio quando esses rodeios começam.

— Eu poderia deixar para conversar mais tarde, mas realmente, dessa vez não.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora