CANSADOS

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— Here I go again!! — ela cantou junto, forçando a voz a atravessar o nó apertado na garganta. Mas por algum motivo, aquilo estava fazendo um bem danado. Acendeu um cigarro depois de deixar o pincel sujo de tina amarelo ocre na paleta, ainda gritando a letra, cheia de determinação. "Pelo menos, está funcionando" pensou enquanto sentia o nó na garganta afrouxar e deixou as lágrimas que enchiam os olhos caírem livres.

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Não muito longe dali, Norman estava com uma determinação parecida.

Precisava chegar, precisava chegar logo.

Não importava o horário, nem que esperavam por ele no set. Nem o telefone que vibrava no bolso, o farol vermelho.

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Ally virou-se, não se lembrava onde havia colocado o maço de cigarros. Na verdade, naquela última hora sequer havia lembrado de fumar. Tomou um susto quando se virou e encontrou um homem parado na porta, o braço apoiado no batente, precisou de um segundo para o susto passar e ver melhor que não era um homem - era o Norman. O susto passou mas ainda sentia o coração esperando que ela respirasse para voltar a bater. Enquanto isso, ele tentava descobrir o que dizer. Suspirou fundo, os olhos estavam escuros debaixo das sobrancelhas pesadas. Havia uma expressão de cansaço em seu rosto como se tivesse atravessado um deserto até chegar lá.

— Você já cansou? Por que eu cansei.

Um nó apertou a garganta dela, e com os lábios contraídos e os olhos ardendo mais uma vez, disparou os três passos que precisava para alcançá-lo, ele a recebeu com os braços abertos em um abraço forte. O nó na garganta apertava mais ainda agora que estava com os braços em volta de seu pescoço, as lágrimas mornas escorriam e seus dedos apertavam a pele das costas dele como se existisse um risco de ele soltá-la e ir embora. Uma pressão pesada tornava a respiração difícil enquanto ele sentia o tecido da blusa úmido com as lágrimas dela. Apertou-a mais forte em seu abraço, acariciando com as pontas dos dedos atrás de sua cabeça.

— Você pode me desculpar? — ele perguntou com um sussurro. — Não quero ver você assim...não é essa a ideia...nunca foi...

Ela apenas balançou a cabeça devagar, os olhos fechados, recusando a diminuir a pressão dos dedos em suas costas.

— Não está mais sendo a vida que prometi, não é? — ele perguntou enquanto segurava seu rosto com as duas mãos, a testa encostada na dela. Por um momento, Ally pensou ter visto algumas lágrimas cobrindo os olhos azuis dele. Sabia o que devia responder, mas não quis. Não queria mais aquela discussão. Ele ainda segurava seu rosto, levantou-o para beijá-la. Em seguida, desviou o olhar para a tela que ainda estava preenchida apenas com a tinta mais diluída.

— Por que está pintando a vista da janela? — ele perguntou enquanto ela ainda estava com os braços em volta dele. Ela riu com um pouco de esforço, enquanto tentava limpar as lágrimas do rosto cheio de manchinhas vermelhas pelo choro repentino que já havia começado antes mesmo de ele chegar.

— Pensei que só eu reconheceria. Estava sem ideia do que fazer, resolvi pintar a vista da janela mesmo...

— Como eu não iria reconhecer? — ele riu enquanto a abraçava mais uma vez, a cabeça apoiada na dela. — Se bem que me fez lembrar...preciso terminar a minha obra também...

— Quando terminar as gravações, vai ter algum tempo para isso.

— Acho que agora vai levar mais um dia para terminar...Não sabia no que ia dar se voltasse agora.

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora