SOBRE PLANOS E ESPINHOS

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Não era nenhum incômodo para Ally. Preferia as confusões entre seu fuso horário com o dele, mesmo que fosse para acordar sozinha e ver roupas enlameadas esquecidas no chão do banheiro. Era melhor do que meses seguidos no apartamento de NY. E o inverno de lá.

Às vezes recebia visitas. Em alguns dias ele chegava no meio da tarde ou aproveitava algumas horas de descanso para voltar para a casa. Como Marianne ainda estava lá, assim como Mingus, vez ou outra escapavam para um passeio de moto ou passar a noite com a equipe no recém-inaugurado restaurante que Norman abrira com Greg, a maioria das vezes na companhia de Iza e Jeffrey.

Mas na última semana de gravações, depois de todo o estresse para descobrir quem seria "limado" da série no final da temporada, ele voltou para casa no meio da madrugada. Esperava que, como de hábito Ally estivesse dormindo, mas estava bem acordada, com o celular ao ouvido em uma conversa animada.

— Desculpa, Shoo, mas fazia muito tempo que não conversava com o Marco.

— Boas notícias?

— As melhores. O livro está no prelo, e tem mais...

— O que mais então?

— Uma peça...

— Como assim, uma peça?

— Começamos a criar juntos uma peça. Eu e ele. Não é legal?

— Uau...Legal! Mesmo...parabéns. — ele disse enquanto a abraçava. Não havia tanta sinceridade quanto ela esperava em sua voz.

— Vou aproveitar durante as férias. Vamos para São Paulo e aí...

— Espera, espera um pouco...durante as férias...mês que vem?

— Isso.

— E o "Ride"...esqueceu?

— A gente conversou sobre isso...Não posso ficar num trailer para cima e para baixo seguindo você de moto. Eu vejo o roteiro de viagem e o que você gravou e aí faço um texto. Você só precisa narrar sobre o vídeo depois...

— Enquanto isso, você fica em São Paulo, as crianças ficam com a sua mãe enquanto você passa a madrugada no Teatro com o Marco?

— Não toda madrugada...mas algumas, com certeza. Se vamos trabalhar juntos...mas qual é o problema com isso?

— Nenhum...só acho...não sei...vou pensar a respeito, ok?

— Pensar a respeito do quê? Eu já decidi...

— Shoo...tem certeza? Afinal, vai ser uma viagem longa...e além do mais...Eu preferia que vocês estivessem comigo...ou ficassem aqui mesmo até eu voltar.

— Você quer dizer: enquanto você passeia de moto com novos e velhos amigos, bebe, se diverte...eu fico aqui parada te esperando? Acho que não, Norman.

— Você não pode pelo menos adiar isso até a Izzy estar maior?

Ally olhou para ele, a descrença e surpresa estampados no rosto.

— Você sabe quem você está parecendo, quando fala isso?

— Não tem nada a ver com o seu pai, Ally...eu não estou te proibindo de trabalhar...Mas você sabia que ia ter que esperar um tempo...

— Se não tivesse jeito, eu não aceitaria, Norman...Mas não estou indo para nenhum lugar desconhecido, nem vou largar as crianças em qualquer lugar! Eles vão ficar com a minha mãe!

— E eles deviam ficar com você, não com a avó.

— Talvez eles devessem ficar com a mãe...e com o pai, mas ONDE você vai estar? Você não precisa nem pensar a respeito deles para fazer seus planos, não é?

— Ally, você está sendo injusta! Eu nunca deixei de estar por perto...

— Não deixou agora, mas já tem os seus planos...E tudo bem, Norman, mas eu tenho os meus também. E eles incluem a Izzy e o Ian.

— Só eu que estou de fora dos seus planos.

— Tanto quanto eu estou fora dos seus!

Ambos ficaram em silêncio, chocados com o que estavam dizendo um para o outro. Ally pegou um cigarro do maço que tinha no bolso e saiu para a varanda, deixando Norman parado ali no meio da sala. 

Problemática- (Sometimes) Bad Can Do You Some Good.Onde histórias criam vida. Descubra agora