Eu caí na última categoria. Nos dois primeiros anos depois da formatura, eu tive uma sucessão de empregos, trabalhando como garçonete no Outback Steakhouse, recolhendo canhotos de ingressos no cinema local, carregando e descarregando caixas na Staples, fazendo panquecas na Waffle House, e trabalhando como caixa em alguns lugares turísticos que vendiam porcarias para as pessoas de fora da cidade. Eu gastava cada centavo que ganhava, não tinha nenhuma ilusão sobre ascender na escala profissional, e acabei sendo despedida de todo trabalho que eu tive. Por um tempo, eu não me importava. Estava vivendo minha vida. Eu era profissional em surfar e dormir até tarde, e visto que eu ainda estava vivendo em casa, nada do que eu ganhava era necessário pra coisas como aluguel ou comida ou seguro ou preparação para o futuro.
Além disso, nenhum dos meus amigos estava melhor do que eu. Eu não me lembro de ser particularmente infeliz, mas depois de um tempo fiquei cansado da minha vida. Não a parte do surf, os furacões Bertha e Fran atingiram a costa, e aquelas foram algumas das melhores ondas em anos - mas ir pro bar Leroy's depois do surf. Eu comecei a perceber que toda noite era a mesma. Eu bebia cerveja e esbarrava com alguém que conhecia da escola, e eles perguntavam o que eu estava fazendo e eu lhes dizia, e eles me contavam o que estavam fazendo, e não precisava ser um gênio pra se dar conta de que os dois estavam na estrada mais rápida pra lugar nenhum. Mesmo se eles tivessem suas próprias casas, o que eu não tinha, eu nunca acreditei neles quando me contavam que gostavam de seus trabalhos como cavadores de valeta ou limpadores de janela ou transportadores de Porta Potti*, porque eu sabia muito bem que nenhum desses trabalhos era o tipo de ocupação que eles cresceram sonhando em ter. Eu posso ter sido preguiçosa na sala de aula, mas eu não era burra.
Eu fiquei com dúzias de garotas naquele período. No Leroy's sempre havia mulheres. A maioria eram relações que eu esquecia com facilidade. Eu usei mulheres, me permiti ser usada e sempre mantive meus sentimentos pra mim mesma. Apenas a minha relação com uma menina chamada Fernanda durou mais que alguns meses, e por um tempo antes de nós inevitavelmente nos separarmos, eu pensei que estava apaixonada por ela. Ela era estudante na UNC* Wilmington, um ano mais velha que eu, e queria trabalhar em Nova York depois de se formar.
— Eu me importo com você,— ela me disse na nossa última noite juntos, — mas você e eu queremos coisas diferentes. Você poderia fazer muito mais com a sua vida, mas por alguma razão, está contente em simplesmente flutuar por ela. — Ela hesitou antes de continuar. — Mas mais do que isso, eu nunca sei o que você realmente sente por mim. — Eu sabia que ela estava certa.
Logo depois ela foi embora em um avião sem se importar em dizer adeus. Um ano mais tarde, depois de conseguir o número com seus pais, liguei pra ela e nos falamos por vinte minutos.
Estava noiva de uma advogada, ela me disse, e estaria casada em Junho.
A ligação me afetou mais do que eu pensei que me afetaria. Veio em um dia em que eu tinha acabado de ser demitida- de novo - fui me consolar no Leroy's, como sempre. O mesmo grupo de perdedores estava lá, e eu de repente me dei conta de que não queria passar outra tarde sem sentido fingindo que tudo na minha vida estava bem.
Ao invés disso eu comprei um pacote de seis cervejas e fui sentar na praia.
Era a primeira vez em anos que eu realmente pensava no que estava fazendo com a minha vida, e me perguntei se deveria seguir o conselho do minha mãe e conseguir um diploma universitário. Porém, eu tinha ficado fora da escola por tanto tempo que a ideia me pareceu estranha e ridícula. Chame de sorte ou má sorte, mas nessa hora dois fuzileiros navais apareceram. Jovens e em forma, eles irradiavam fácil confiança. Se eles podiam fazer, falei pra mim mesmo, eu também podia.
Refleti sobre isso alguns dias, e no final, minha mãe teve alguma coisa a ver com a minha decisão. Não que eu tenha falado com ela sobre isso, claro nós não estávamos nos falando à essa altura. Eu estava indo a cozinha uma noite e a vi sentada à sua mesa, como sempre. Mas desta vez, eu realmente a analisei. Ela estava perto de se aposentar, e eu fui atingida pela noção de que eu não tinha o direito de continuar decepcionando-a depois de tudo que ela tinha feito por mim.
Então eu ingressei no exército. Meu primeiro pensamento foi que eu iria me juntar a Marinha, visto que eles eram com quem eu estava mais familiarizada.
A praia de Wrightsville estava sempre lotada com jarheads* de Camp Lejeune ou Cherry Point, mas quando a hora chegou, eu escolhi o exército. Me dei conta que seguraria um rifle de qualquer maneira, mas o que realmente foi decisivo foi que o recrutador da Marinha estava em horário de almoço quando eu apareci e não estava disponível imediatamente, enquanto o recrutador do exército - cujo escritório era do outro lado da rua - estava. No final, a decisão pareceu mais espontânea do que planejada, mas eu assinei na linha pontilhada pra um alistamento de quatro anos, e quando o recrutador deu palminhas nas minhas costas enquanto eu saía porta a fora, eu me encontrei me perguntando no que eu tinha me metido.