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— Você não precisa me dizer de volta, — eu comecei. — Não foi por isso que eu disse...

— Eu sei, — ela interrompeu. — Você não entende. Eu não estava assustada por que você me contou. Fiquei assustada porque eu também queria dizer: eu te amo, Laryssa.

Mesmo agora, ainda não tenho certeza de como aconteceu. Em um instante estávamos conversando e no seguinte ela se inclinou em minha direção. Por um segundo, me perguntei se beijá-la iria quebrar o feitiço sob o qual nós duas estávamos, mas era tarde demais para parar. E quando os seus lábios encontraram os meus, eu sabia que poderia viver até os cem anos e visitar todos os países do mundo, mas nada iria se comparar àquele momento que eu beijei pela primeira vez a garota dos meus sonhos e soube que meu amor duraria para sempre.

Acabamos ficando fora até tarde. Depois que deixamos a casa, levei Giana de volta à praia e nós andamos o grande pedaço de areia até ela começar a bocejar. Levei-a até a porta e nos beijamos novamente enquanto mariposas zumbiam na luz da varanda. Embora parecesse que eu tinha pensado muito em Giana no dia anterior, não se comparava ao quão obcecada eu estava no dia seguinte, embora o sentimento fosse diferente. Peguei-me sorrindo sem razão aparente, algo que até minha mãe notou quando chegou em casa do trabalho. Ela não comentou, eu não esperava que ela comentasse, é claro, mas ela não se surpreendeu quando eu dei tapinhas nas suas costas quando descobri que ela planejava fazer lasanha.

Falei incessantemente sobre Giana e depois de umas duas horas ela voltou à sua toca. Mesmo que tivesse falado pouco, acho que ela estava feliz por mim e mais feliz ainda por eu querer compartilhar isso. Tive certeza disso quando voltei pra casa mais tarde naquela noite e encontrei um prato de recém-cozinhados biscoitos de manteiga de amendoim na bancada, junto com um bilhete que me informava que leite podia ser encontrado na geladeira.

Levei Giana pra tomar sorvete, depois a levei para a parte turística de Wilmington. Passeamos pelas lojas, onde eu descobri que ela tinha um interesse por antiguidades. Mais tarde a levei pra ver o encouraçado, mas não ficamos muito tempo.

Ela estava certa; era chato. Depois a levei pra casa, onde nos sentamos ao redor da fogueira com seus amigos.

Nas duas noites seguintes, Giana foi à minha casa. Minha mãe cozinhou nas duas noites. Na primeira Giana não perguntou nada sobre moedas a minha mãe e a conversa foi um esforço. Minha mãe escutou na maior parte e embora Giana continuou com um tom agradável e tentou incluí-la, a força do hábito levou nós duas a falarmos uma com a outra enquanto a minha mãe se focava no seu prato. Quando ela foi embora, sua sobrancelha estava levantada e embora eu não quisesse acreditar que a primeira impressão dela a respeito da minha mãe havia mudado, eu sabia que isso tinha acontecido.

Surpreendentemente, ela pediu pra voltar na noite seguinte, onde mais uma vez ela e minha mãe ficaram na toca, discutindo moedas. Enquanto os observava, me perguntei o que Giana achava dessa situação a qual eu cresci acostumada. Ao mesmo tempo, eu rezei para que ela fosse mais compreensiva do que eu tinha sido. Assim que fomos embora, eu sabia que não tinha nada com o que me preocupar. Enquanto voltávamos de carro para a praia, ela falou sobre a minha mãe em termos brilhantes, particularmente elogiando o trabalho que ela tinha feito me criando. Enquanto eu não estava certa do que achava disso, suspirei de alívio ao perceber que ela parecia ter aceitado minha mãe pelo que ela era.

Quando chegou o fim de semana, minha aparição na casa da praia estava se tornando um acontecimento regular. A maioria das pessoas na casa tinha aprendido meu nome, embora eles ainda demonstrassem pouco interesse em mim, tão exaustos que estavam pelo dia de trabalho duro. A maioria deles estava apinhada ao redor da televisão lá pelas sete ou oito, ao invés de bebendo e paquerando na praia. Todos pareciam queimados do sol e tinham Band-Aids nos dedos para cobrir suas bolhas.

No sábado à noite as pessoas tinham achado reservas adicionais de energia e eu apareci na hora em que um grupo de garotos estavam descarregando caixas e mais caixas de cerveja da mala de uma van. Eu os ajudei a carregá-las e me dei conta de que desde a primeira noite que eu tinha visto Giana, eu não tinha bebido nem um gole de álcool. Como no final de semana anterior, a churrasqueira estava acesa e nós comemos perto da fogueira; depois saímos para uma caminhada na praia. Eu tinha levado um cobertor e uma cesta de piquenique cheia de lanches e enquanto estávamos deitadas, assistimos a um show de estrelas cadentes, maravilhadas com os fios brancos que cruzavam o céu. Foi uma daquelas noites perfeitas com brisa suficiente pra não nos deixar com frio ou com calor e nós conversamos e nos beijamos por horas antes de adormecer nos braços uma da outra.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora