— A maioria das pessoas da nossa idade diz isso sobre os pais.
Talvez, eu pensei. Mas isso era diferente. Não era uma diferença de geração, era o fato de que para a minha mãe, uma conversa informal normal era praticamente impossível, a não ser que tivesse a ver com moedas. Eu não disse mais nada, contudo, e Giana alisou a areia a sua frente. Quando falou, sua voz era suave. — Eu gostaria de conhecê-la.
Virei-me para ela. — É mesmo?
— Ela parece interessante. Eu sempre amei pessoas que tem essa... paixão pela vida.
— É uma paixão por moedas, não pela vida, — eu a corrigi.
— É a mesma coisa. Paixão é paixão. É a excitação entre os espaços tediosos, e não importa para onde ela é dirigida.
Ela arrastou os pés na areia. — Bem, na maioria do tempo, de qualquer forma. Não estou falando de vícios.
— Como você e a cafeína.
Ela sorriu, mostrando a pequena abertura entre seus dentes da frente. —Exatamente. Podem ser moedas, esportes, política, cavalos, música ou fé... As pessoas mais tristes que eu já encontrei na vida são aquelas que não dão a mínima para nada. Paixão e satisfação andam de mãos dadas, e sem elas, qualquer felicidade é apenas temporária, porque não há nada que a faça durar. Eu adoraria ouvir a sua mãe falar sobre moedas, porque é quando você vê o melhor de uma pessoa, e eu descobri que a felicidade alheia é geralmente contagiosa.
Eu estava paralisada com suas palavras. Apesar de Mariana ter dito que ela era ingênua, ela parecia muito mais madura do que a maioria das pessoas da nossa idade. E de novo, considerando o modo como ela ficava de biquíni ela poderia estar enumerando a lista telefônica que eu teria ficado impressionada.
Giana se sentou ao meu lado e o seu olhar seguiu o meu. O jogo de Frisbee estava a todo vapor; enquanto Pablo lançava o disco, outros dois vinham correndo pegar. Os dois mergulharam para pegá-lo simultaneamente, caindo na água rasa enquanto suas cabeças colidiam. O de short vermelho saiu sem nada, dizendo palavrões e segurando a cabeça, seu short coberto de areia. Os outros riram, e eu me peguei sorrindo e me contorcendo simultaneamente.
— Você viu isso? — perguntei.
— Espera, — ela disse. — Volto já. — Ela foi em direção ao cara de short vermelho. Ele a viu se aproximando e congelou, assim como o cara ao lado dele.
Giana, como eu me dei conta, tinha o mesmo efeito em todos os garotos, Eu podia vê-la falando e sorrindo, dando aquela olhada séria no cara, que assentia enquanto ela falava, parecendo uma adolescente submissa. Ela voltou para o meu lado e se sentou novamente. Não perguntei, sabendo que não era da minha conta, mas eu sabia que estava telegrafando a minha curiosidade.
— Normalmente eu não teria dito nada, mas pedi pra ele tomar cuidado com a linguagem por causa de todas as famílias que tem aqui, ela explicou. — Há muitas crianças pequenas por aqui. Ele disse que faria isso.
Eu devia ter adivinhado. — Você sugeriu que ele falasse 'Santa mãe' e 'Jesus' em vez do que ele disse?
Ela me deu um olhar travesso. — Você gostou dessas expressões, não foi?
— Estou pensando em passá-las para o meu esquadrão. Eles irão adicioná-las ao nosso fator intimidador quando estivermos derrubando portas e lançando LGFs.
Ela gargalhou. — Definitivamente mais assustador do que palavrões, mesmo que eu não saiba o que é um LGF.
— Lança-granadas-foguete. — Sem querer, eu gostava mais dela a cada minuto que passava. — O que você vai fazer hoje à noite?
— Não tenho planos. Bem, a não ser pelo encontro. Por quê? Quer me levar pra conhecer sua mãe?
— Não. Bem, não essa noite, de qualquer forma. Depois. Hoje, eu queria lhe mostrar Wilmington.
— Você está me chamando pra sair?
— Sim, — admiti. — Te trago de volta quando você quiser. Sei que você tem que trabalhar amanhã, mas tem esse lugar ótimo que eu quero te mostrar.
— Que tipo de lugar?
— Um lugar local. Especializado em frutos do mar. Mas é mais uma experiência. — Ela colocou os braços em volta de seus joelhos.
— Eu geralmente não saio com estranhas, — ela disse finalmente, — e nós só nos encontramos ontem. Acha que posso confiar em você?
— Eu não confiaria, — eu disse.
Ela riu. — Bem, nesse caso, acho que posso fazer uma exceção.
— É?
— É, — ela disse. — Tenho uma queda por pessoas honestas com crew cuts.
— Huuuumm, kkkk.