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Se Mariana teve alguma suspeita do efeito que Giana tinha em mim ou que eu estaria visitando de novo no dia seguinte, ela não deu nenhuma indicação. Em vez disso se concentrou em dirigir, se certificando de que estava indo na direção certa. Ela era o tipo de motorista que parava o carro mesmo que o sinal estivesse amarelo e ela pudesse ter passado.

— Espero que você tenha se divertido, — ela disse. — Eu sei que é sempre estranho quando você não conhece ninguém.

— Eu me diverti.

— Você e Giana realmente se deram bem. Ela é uma coisa, não é? Acho que gostou de você.

— Tivemos uma boa conversa, — eu disse.

—Fico feliz. Estava um pouco preocupada sobre ela vir aqui. Ano passado os pais dela estavam conosco, então essa é a primeira vez que ela está por conta própria assim. Sei que é uma grande garota, mas esse não é o tipo de pessoa que ela geralmente convive, e a última coisa que eu queria era que ela ficasse se defendendo de garotos a noite toda.

— Tenho certeza que ela aguentaria.

— Você provavelmente está certa. Mas eu tenho a sensação que alguns desses garotos são muito persistentes.

— É claro que eles são. Eles são garotos.

Ela riu. — Acho que você está certa. — Ela indicou a janela. — Pra onde agora?

A direcionei através de uma série de viradas, então finalmente disse para diminuir a velocidade do carro. Ela parou em frente a casa, onde eu podia ver a luz da toca da minha mãe, brilhando amarela.

— Obrigada pela carona, — eu disse, abrindo a porta.

— Sem problemas. — Ela se debruçou sobre o assento. — E escute, como eu disse, sinta-se livre para aparecer na casa a qualquer hora. Nós trabalhamos durante a semana, mas finais de semana e noites geralmente são folgas.

— Vou manter isso em mente, — eu prometi.

Uma vez dentro de casa, fui à toca da minha mãe e abri a porta. Ela estava fitando o Greysheet e deu um pulo. Dei-me conta de que ela não tinha me ouvido entrar.

— Desculpe, — eu disse, me sentando no único degrau que separava a toca do resto da casa. — Não quis assustá-la.

— Tudo bem,— foi tudo o que ela disse. Debateu se colocaria o Greysheet de lado, então colocou.

— As ondas estavam ótimas hoje, — eu comentei. — Tinha quase esquecido o quanto a água é fantástica.

Ela sorriu mas não disse nada. Mudei ligeiramente de posição no degrau. — Como foi o trabalho?— perguntei.

— O mesmo, — ela disse.

Mergulhou novamente em seus próprios pensamentos e tudo em que eu podia pensar era que a mesma coisa poderia ser dita de nossas conversas.

Surf é um esporte solitário, no qual longos períodos de tédio são alternados com atividades frenéticas, e lhe ensina a seguir a natureza em vez de lutar com ela... é sobre entrar na área. Isto é o que as revistas dizem, de qualquer modo, e eu concordo em grande parte. Não há nada tão excitante quanto pegar uma onda e ficar entre uma parede de água enquanto ela se enrola em direção a costa. Mas eu não sou como muitos dessas pessoas bronzeadas e com dreads no cabelo que surfam o dia todo, todos os dias, porque elas acham que é a coisa mais importante da sua existência. E não é. Pra mim, é mais pelo fato de que o mundo é loucamente barulhento quase todo o tempo e quando você está surfando, não é. Você é capaz de ouvir a si mesmo pensar.

Era isso que eu estava dizendo a Giana, de qualquer forma, quando estávamos indo em direção ao oceano no domingo de manhã. Pelo menos, era o que eu pensei que estava dizendo. Na maior parte, eu estava meio que só falando coisas desconexas, tentando não parecer tão óbvio sobre o fato de que eu realmente gostei de como ela ficava de biquíni.

— Como andar a cavalo, — ela disse.

— Hã?

— Se ouvir pensando. É por isso que eu gosto de montar também.


Quebra de tempo...


Eu tinha chegado lá alguns minutos antes. As melhores ondas eram geralmente de manhã cedo, e era um daqueles dias claros e com céu azul, um presságio de calor, o que significava que a praia ficaria lotada novamente. Giana estava sentada nos degraus da varanda, enrolada em uma toalha, com os restos da fogueira diante dela. Apesar de que não havia dúvidas de que a festa tinha durado horas depois da minha partida, não havia uma única lata vazia ou lixo em lugar nenhum. Minha impressão do grupo se elevou um pouco.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora