Ela se inclinou para a frente novamente. — Meu pai sempre dizia que quando você está lutando com alguma coisa, olhe para todas as pessoas ao seu redor e perceba que cada uma delas que você vê está lutando com alguma coisa, e para elas, é tão difícil quanto o que você está passando.
— Seu pai parece ser um homem esperto.
— Minha mãe e meu pai são. Acho que os dois se formaram entre os cinco melhores na faculdade. Foi como eles se conheceram. Estudando na biblioteca. Educação era muito importante para os dois e eles meio que fizeram de mim seu projeto. Quer dizer, eu lia antes de ir pra o jardim de infância, mas eles nunca fizeram parecer com uma tarefa. E eles têm falado comigo como se eu fosse adulta desde que eu me lembro.
Por um momento, me perguntei o quanto minha vida seria diferente se eles tivessem sido meus pais, mas sacudi o pensamento para longe. Sabia que minha mãe tinha feito o melhor que podia, e eu não tinha nenhum arrependimento do modo como eu acabei. Arrependimentos sobre a jornada, talvez, mas não sobre o destino. Porque como quer que tivesse acontecido, de algum modo eu iria acabar comendo camarão em uma cabana deprimente do centro da cidade com uma garota que eu já sabia que nunca esqueceria.
Depois do jantar, voltamos para a casa, que estava surpreendentemente calma. A música ainda tocava, mas a maioria das pessoas estavam relaxando ao redor do fogo, como se antecipassem a manhã. Mari estava entre eles, concentrada em uma conversa séria. Me surpreendendo, Giana pegou minha mão, me parando no caminho antes de alcançarmos o grupo.
— Vamos dar uma caminhada, — ela disse. — Quero deixar o jantar assentar só um pouco antes de sentar.
Acima de nós, algumas nuvens finas estavam espalhadas entre as estrelas, e a lua, ainda cheia, pairava no horizonte. Uma brisa leve soprou na minha bochecha, e eu podia ouvir o movimento incessante das ondas enquanto elas rolavam para a costa. A maré tinha baixado e nós nos movemos para a areia mais dura e compacta perto da beira da água. Giana colocou uma mão no meu ombro para manter o equilíbrio enquanto ela tirava uma sandália, e depois a outra. Quando ela terminou, eu fiz o mesmo, e demos alguns passos em silêncio.
— É tão lindo aqui fora. Quer dizer, eu amo as montanhas, mas isso é maravilhoso a sua própria maneira. É cheio de... paz.
Senti que as mesmas palavras poderiam ser usadas para descrevê-la, e eu não tinha certeza do que dizer.
— Não acredito que só te conheci ontem, — ela adicionou. — Parece que eu te conheço há muito mais tempo.
A mão dela estava quente e macia na minha. — Estava pensando a mesma coisa. —falei.
Ela deu um sorriso sonhador, observando as estrelas. — Me pergunto o que Mari pensa sobre isso, — ela murmurou. Ela me olhou. — Ela acha que sou um pouco ingênua.
— Você é?
— Às vezes, — ela admitiu, e eu ri.
Ela continuou. — Quer dizer, se eu ver duas pessoas saindo para uma caminhada como essa, eu penso, "Ah, que fofo". Não penso, "eles vão transar atrás das dunas". O fato é que às vezes eles transam. Eu só nunca penso nisso de ante mão e sempre me surpreendo quando ouço sobre isso depois. Não posso evitar. Como noite passada, depois de você ir embora. Ouvi sobre duas pessoas aqui que fizeram isso e não pude acreditar.
— Eu teria ficado mais surpresa se não tivesse acontecido.
— É isso que eu não gosto na faculdade, à propósito. Muitas pessoas não acreditam que esses anos de atrevimento realmente contam, então é permitido você experimentar com... o que for. Há uma visão informal sobre coisas como sexo, bebidas e até drogas. Eu sei que isso soa muito careta, mas eu não entendo. Talvez tenha sido por isso que eu não quis ir sentar ao redor da fogueira como todo mundo. Pra ser honesta, estou um pouco desapontada com aquelas duas pessoas de quem ouvi falar, e eu não quero sentar lá e fingir que não estou. Sei que não devia julgar, e tenho certeza de que eles são boas pessoas por estarem aqui para ajudar, mas ainda assim, qual é o motivo? Você não deveria guardar coisas como essas para alguém que você ama? Para que realmente signifique alguma coisa?
Eu sabia que ela não queria respostas, e não ofereci nenhuma.
— Quem lhe contou sobre aquele casal? — eu perguntei, em vez disso.
— Mari. Acho que ela estava desapontada também, mas o que ela iria fazer? Expulsá-los?
Tínhamos percorrido um bom caminho pela praia, e nos viramos.
À distância, eu podia ver o círculo de figuras em silhueta contra o fogo. A névoa cheirava a sal, e caranguejos se espalhavam para suas tocas na areia enquanto nos aproximávamos.