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Empurrei a porta da casa sem bater. Dois garotos que estavam sentados no sofá assistindo a um jogo de baseball me ouviram entrar. — Hey, — eles disseram, parecendo desinteressados e indiferentes.

— Vocês viram a Giana?

— Quem? — um deles perguntou, obviamente prestando pouca atenção em mim.

— Deixa pra lá. Eu encontro ela. — Cruzei a sala até o deque traseiro, vi o mesmo cara da noite anterior na churrasqueira novamente e alguns outros, mas nenhum sinal de Giana. Também não a vi na praia. Estava para voltar pra dentro quando senti alguém dando tapinhas no meu ombro.

— Quem você está procurando? — ela perguntou.

Eu me virei. — Uma garota, — eu disse. — Ela tem tendência a perder coisas em píers, mas é uma aprendiz rápida quando se trata de surf.

Ela colocou as mãos nos quadris e eu sorri. Estava de shorts e com uma blusa sem mangas com uma alça que passava pela sua nuca, deixando seu colo e a parte de cima das suas costas descobertos, com um indício de cor em suas bochechas, eu notei que ela tinha colocado um pouco de rímel e batom. Mesmo adorando sua beleza natural sou uma garota da praia ela estava ainda mais chamativa do que eu me lembrava. Senti o sopro de alguma fragrância de limão enquanto ela se inclinava em minha direção.

— É tudo o que eu sou? Uma garota? — ela perguntou. Soava ao mesmo tempo brincalhona e séria, e por um minuto eu fantasiei envolvê-la com meus braços ali mesmo, naquele momento.

— Ah, — eu disse, me fingindo de surpresa. — É você.

Os dois caras no sofá olharam rápido para nós e depois retornaram para a tela.

— Pronta pra ir? — perguntei.

— Só tenho que pegar minha bolsa, — ela disse. Ela pegou a bolsa do balcão da cozinha e começamos a caminhar para a porta. — E onde estamos indo, a propósito?

Quando a respondi, ela ergueu uma sobrancelha.

— Você está me levando para comer em um lugar com a palavra cabana no nome?

— Eu só sou uma mulher mal paga do exército. É tudo que eu posso bancar.

Ela me empurrou enquanto caminhávamos. — Tá vendo, é por isso que eu normalmente não saio com estranhos.

No carro

— Onde é este lugar? — Giana perguntou.

— Só um pouco mais adiante, — eu disse. — Lá em cima, no final.

— É um pouco fora do caminho, não é?

— É meio que uma instituição local, — eu disse. — O dono não se importa se os turistas vêm ou não. Nunca se importou.

Um minuto depois, diminuí a velocidade do carro e virei em um pequeno estacionamento ao lado de um dos armazéns. Algumas dúzias de carros estavam estacionados em frente ao Shrimp Shack, como sempre, e o lugar não havia mudado.

Desde que o conheci parecia desmantelado, com uma ampla varanda desarrumada, pintura descascada e um teto torto que fazia parecer que o lugar estava prestes a desabar, apesar do fato de estar enfrentando furacões desde 1940. O exterior estava decorado com redes, capotas e placas de carros, uma velha âncora, remos e algumas correntes enferrujadas. Uma canoa quebrada estava perto da porta.

O céu estava começando o seu escurecimento preguiçoso quando caminhamos até a entrada. Perguntei-me se deveria pegar na mão de Giana, mas no final eu não fiz nada. Apesar de ter tido algum sucesso, eu tinha pouquíssima experiência quando se tratava de garotas com quem eu me importava. Apesar do fato que apenas um dia tinha passado desde que nos conhecemos, eu já sabia que estava em território novo. Subimos na varanda envergada e Giana apontou para a canoa.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora