O Boot Camp* em Fort Benning foi tão horrível como eu pensei que seria. A coisa toda parecia projetada para humilhar e fazer uma lavagem nos nossos cérebros pra seguirmos ordens sem perguntas, não importando o quão estúpidas elas fossem, mas eu me adaptei mais rapidamente do que muitos. Uma vez que eu passei por isso, escolhi a infantaria. Nós passamos os próximos meses fazendo muitas simulações em lugares como Lousisiana e o bom e velho Fort Bragg, onde nós basicamente aprendemos a melhor maneira de matar pessoas e quebrar coisas; e depois de um tempo, minha unidade, como parte da Primeira Divisão de Infantaria - mais conhecida como a Grande Vermelha - foi mandada para a Alemanha. Eu não falava uma palavra em alemão, mas não importava, visto que todo mundo com quem eu lidava falava inglês.
Foi fácil no começo, então a vida no exército se instalou. Eu passei sete meses preguiçosos nos Bálcãs - primeiro na Macedônia, depois em Kosovo onde eu fiquei até o final da primavera. A vida no exército não pagava muito, mas considerando que não havia aluguel, gastos com comida e realmente nada com o que gastar meus salários até mesmo quando eu os recebia, eu tinha dinheiro no banco pela primeira vez. Não muito, mas o suficiente.
Eu passei a minha primeira licença em casa completamente entediada. A minha segunda licença eu passei em Las Vegas. Um dos meus colegas tinha crescido lá, e três de nós ficaram na casa dos pais dele. Eu acabei com praticamente tudo que tinha economizado. Na minha terceira licença, depois de voltar de Kosovo, eu estava desesperadamente necessitando de uma pausa e decidi voltar pra casa, esperando que o tédio da visita fosse acalmar a minha mente. Por causa da distância, minha mãe e eu raramente falávamos no telefone, mas ela me escrevia cartas que eram sempre seladas no primeiro dia de cada mês. Elas não eram como as que meus colegas recebiam de suas mães, irmãs e esposas. Nada muito pessoal, nada piegas, e nunca uma palavra que sugerisse que ela sentia a minha falta. E ela tão pouco mencionava moedas. Ao invés disso, els escrevia sobre mudanças na vizinhança e muito sobre o tempo; quando eu escrevi para contar a ela sobre um fogo cruzado bem cabeludo que eu tive nos Balcãs, ela escreveu de volta pra dizer que estava feliz que eu tinha sobrevivido, mas não disse mais nada sobre isso. Eu sabia pelo modo que ela tinha expressado sua resposta que ela não queria ouvir sobre as coisas perigosas que eu fazia.
O fato de eu estar em perigo a aterrorizava, então eu comecei a omitir as coisas assustadoras. Ao invés disso, eu mandava cartas sobre como o dever de guarda era, sem sombra de dúvida, o emprego mais entediante e a única coisa excitante que acontecia comigo era tentar adivinhar quantos cigarros os outros guardas fumariam em uma única tarde. Minha mãe terminava cada carta com a promessa de que escreveria de novo logo, e mais uma vez, a mulher não me decepcionou. Ela era, eu comecei a acreditar nisso a muito tempo, uma mulher muito melhor do que eu jamais serei.
Mas eu tinha crescido nos últimos três anos. Sim, eu sei, sou um clichê ambulante-entrar como uma garota, sair como uma mulher e tudo isso. Mas todo mundo no exército é forçado a crescer, especialmente se você é da infantaria como eu. Você é confiado com equipamento que custa uma fortuna, outros põem sua confiança em você, e se você estragar alguma coisa, a penalidade é bem mais séria do que ser mandado pra cama sem o jantar. Claro, há muita papelada e tédio, e todo mundo fuma e não consegue completar uma frase sem xingar e têm caixas de revistas safadas embaixo de suas camas, e você tem que responder aos caras da ROTC que acabaram de sair da universidade que acham que brutos como eu têm o QI de um Neandertal; mas você é forçada a aprender a lição mais importante da vida, que é o fato de que você tem que aprender a viver com as suas responsabilidades, e é melhor você fazer isso direito.
Quando recebe uma ordem você não pode dizer não. Não é exagero dizer que vidas estão por um fio. Uma decisão errada e o seu colega pode morrer. É esse fato que faz o exército funcionar. É esse o grande erro que as pessoas cometem quando se perguntam como os soldados podem colocar suas vidas em risco dia após dia ou como eles podem lutar por algo em que não acreditam. Nem todo mundo desacredita. Eu trabalhei com soldados de todos os lados do espectro político; encontrei alguns que odiavam o exército e outros que queriam fazer dele uma carreira. Encontrei gênios e idiotas, mas quando tudo é dito e feito, nós fazemos o que fazemos uns pelos outros. Por amizade.
Não pelo país, não por patriotismo, não por que somos máquinas programadas para matar, mas por causa do cara ao seu lado. Você luta pelo seu amigo, para manter ele vivo, e ele luta por você e tudo no exército é construído sobre essa simples premissa.