— Me desculpe, — ela disse. — Eu estava errada.
— Sobre o que?
— Por ficar tão... chateada sobre isso. Eu não deveria julgar. Não é o meu lugar.
— Todo mundo julga, — eu disse. — É a natureza humana.
— Eu sei. Mas... eu também não sou perfeita. No fim, é apenas o julgamento de Deus que importa e eu aprendi o bastante para saber que ninguém pode saber qual é a vontade de Deus.
Eu sorri.
— O que? — ela perguntou.
— O modo como você fala me lembra o nosso capelão. Ele diz a mesma coisa.
Nós caminhamos pela praia e quando nos aproximamos da casa, nos distanciamos da beira da água, em direção a areia fofa. Nossos pés deslizavam a cada passo e eu podia sentir Giana colocar mais força no aperto de nossas mãos. Me perguntei se ela as soltaria quando chegássemos perto do fogo e fiquei desapontada quando ela o fez.
— Hey, — Mariana nos chamou, sua voz amigável. — Vocês estão de volta.
Luis estava lá também e tinha no rosto sua expressão emburrada habitual.
Francamente, eu estava ficando um pouco cansada do ressentimento dele. Pablo estava atrás de Nicole, que se apoiava em seu peito. Nicole parecia estar indecisa entre fingir estar feliz, para poder descobrir os detalhes com Giana e ficar chateada em apoio a Luis. Os outros, obviamente indiferentes, voltaram para suas conversas. Mariana se levantou e veio até nós.
— Como foi o jantar?
— Foi ótimo, — Giana disse. — Provei um pouco da cultura local. Fomos ao Shrimp Shack.
— Parece divertido, — ela comentou.
Me esforcei para detectar algum traço de ciúme mas não achei nenhum. Mariana fez um movimento por sobre o ombro e falou.
— Querem se juntar a nós? Estamos só relaxando, nos preparando para amanhã.
— Na verdade, estou com um pouco de sono. Eu só ia levar a Lary até o carro dela e depois ia entrar. À que horas devemos nos acordar?
— Seis. Tomaremos café e estaremos na construção amanhã às sete e meia. Não esqueça seu protetor solar. Ficaremos no sol o dia todo.
— Vou me lembrar. Você deveria relembrar todo mundo.
— Tenho que fazer isso, — ela disse. — E lembrarei amanhã de novo. Mas espere só algumas pessoas não irão ouvir e vão fritar.
— Te vejo pela manhã, — ela disse.
— Certo. — Ela virou sua atenção pra mim. — Fico feliz que você tenha aparecido hoje.
— Eu também, — eu disse.
— E escute, se você ficar entediada pelas próximas semanas, podemos sempre usar uma ajuda extra.
Eu ri. — Sabia que isso estava vindo.
— Sou quem eu sou, — ela disse, estendendo sua mão. — Mas de qualquer modo, espero vê-la novamente.
Apertamos as mãos. Mariana voltou para o seu lugar e Giana indicou a casa com a cabeça. Andamos em direção a duna, paramos para colocar nossas sandálias de volta e depois seguimos o caminho de madeira, pela grama e ao redor da casa. Um minuto depois, estávamos no carro. No escuro, eu não podia enxergar a expressão dela.
— Me diverti essa noite, — ela disse. — E hoje.
Eu engoli. — Quando eu posso te ver de novo?
Foi uma pergunta simples, até mesmo já esperada, mas fiquei surpresa ao ouvir o desejo no meu tom. Eu ainda nem a tinha beijado.
— Eu acho, — ela disse, — que isso depende de você. Você sabe onde eu estou.
— Que tal amanhã à noite? — Falei sem pensar. — Sei de outro lugar que tem uma banda e é muito divertido.
Ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Que tal na noite depois de amanhã? Tudo bem? É só que o primeiro dia na construção é sempre... excitante e cansativo ao mesmo tempo. Temos um grande jantar em grupo que eu realmente não deveria perder.
— Sim, tudo bem, — eu disse, achando que não estava tudo bem de jeito nenhum.
Ela deve ter ouvido alguma coisa na minha voz. — Como Mari disse, você é bem vinda para aparecer se quiser.
— Não, tudo bem. A terça á noite está bom.