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— Você queria ficar sozinha comigo? — ela exigiu. — Bem, deixa eu te dizer, você não está agindo como se quisesse. Estávamos sozinhas essa manhã. Estávamos sozinhas quando eu entrei ainda agora. Estávamos sozinhas quando eu tentei ser legal e deixei tudo isso pra trás, mas tudo o que você quer fazer é brigar.

— Eu não quero brigar! — eu disse, dando o melhor de mim pra não gritar, mas sabendo que tinha falhado. Me virei, tentando manter minha raiva sob controle, mas quando falei novamente podia ouvir o agouro implícito em minha voz. — Só quero que as coisas voltem a ser o que eram. Como no verão passado.

— O que tem o verão passado?
Odiei isso. Não queria contar a ela que já não me sentia importante. O que eu queria era como pedir a alguém para amar você e isso nunca funcionava. Ao invés disso, tentei usar o assunto.

— No verão passado, parecia que tínhamos mais tempo juntas.

— Não, não tínhamos, — ela replicou. — Eu trabalhava nas casas o dia todo. Lembra?
Ela estava certa, é claro. Pelo menos parcialmente. Tentei novamente.

—Não estou dizendo que faz sentido, mas parece que tínhamos mais tempo para conversar ano passado.

— E isso está incomodando você? Que eu estou ocupada? Que eu tenho uma vida? O que você quer que eu faça? Abandonar as aulas a semana toda? Dizer que estou doente quando tenho que dar aulas? Pular as tarefas de casa?

— Não...

— Então o que você quer?

— Eu não sei.

— Mas você quer me humilhar na frente dos meus amigos?

— Eu não humilhei você, — protestei.

— Não? Então por que a Isa me colocou de lado hoje? Por que ela sentiu a necessidade de me dizer que nós não tínhamos nada em comum e que eu podia fazer muito melhor?
Essa doeu, mas não tenho certeza se ela se deu conta de como isso soou.

A raiva às vezes torna isso impossível, como eu bem sabia. — Eu só queria ficar sozinha com você na noite passada. É tudo o que eu estou tentando dizer.
Minhas palavras não tiveram efeito nela.

— Então por que você não me disse isso? — ela exigiu. — Disse algo como 'Tudo bem se fizermos outra coisa? Não estou a fim de sair com outras pessoas.' Era tudo o que você tinha que dizer. Eu não leio mentes, Laryssa.
A
bri minha boca para responder, mas não disse nada. Ao invés disso, me virei e andei até o outro lado da sala. Olhei para a porta do pátio, não estava com raiva pelo que ela disse, só... triste. Me veio a mente que eu tinha de alguma forma, perdido ela, e eu não sabia se era porque eu estava fazendo uma tempestade em um copo d'água ou se porque eu entendia muito bem o que estava realmente acontecendo entre nós.

Eu não queria mais falar sobre isso. Nunca fui boa em conversas e me dei conta de que o que eu realmente queria era que ela atravessasse a sala e colocasse seus braços ao meu redor, dissesse que ela entendia o que estava me incomodando e que eu não tinha nada com o que me preocupar.

Mas nada disso aconteceu. Ao invés disso eu falei com a janela, me sentindo estranhamente sozinha. — Você está certa, — eu disse. — Deveria ter lhe contado. E me desculpe por isso. E me desculpe pelo modo que eu agi na noite passada e me desculpe por ficar chateada com o seu atraso. É só que eu realmente queria te ver o máximo que pudesse nessa viagem.

— Você diz isso como se não achasse que eu quero o mesmo.

Me virei. — Pra ser honesta, — eu disse, — não tenho certeza se você quer.— Com isso, caminhei até a porta.

Não sabia pra onde ir nem porque tinha saído, mas eu precisava ficar sozinha. Caminhei para o campus debaixo de um sol escaldante e me peguei me mudando de uma sombra de árvore para outra. Não chequei para ver se ela estava me seguindo; sabia que ela não estaria.

Depois de um tempo, parei e comprei uma água gelada no centro dos estudantes, mas embora estivesse relativamente vazio e o ar fosse refrescante, eu não fiquei. Senti a necessidade de suar, como se para me purificar da raiva, tristeza e decepção que eu não podia, das quais eu não conseguia me livrar.

Uma coisa era certa: Giana tinha entrado pela porta pronta para uma discussão. Suas respostas tinham vindo muito rápidas e me dei conta de que elas pareciam menos espontâneas do que ensaiadas, como se sua própria raiva estivesse cozinhando pela maior parte do dia. Ela sabia exatamente como eu agiria e embora eu merecesse sua raiva baseado na forma como eu agi na noite anterior, o fato de que ela não parecia se importar com a sua própria culpa ou meus sentimentos me atormentaram pela maior parte da tarde.

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Até segunda... 👋😊

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora