— Vai ficar tudo bem — disse. — Eles vão cuidar de você.
As mãos dela continuavam tremer. — Tudo bem —, ela disso com a voz praticamente inaudível.
Senti as lagrimas começando a se formar. — Quero dizer uma coisa para você ok? — respirei fundo, concentrando meus pensamentos. — Só quero que você saiba que acho você a melhor mãe do mundo. Você teve de ser ótima para aturar alguém como eu.
Minha mãe não respondeu. No silêncio, senti tudo o que eu sempre quis dizer a ela aflorar à superfície, palavras que se formaram durante toda uma vida.
— É verdade, mãe. Desculpe por todas as coisas horríveis que fiz você passar, e desculpe por não ter estado presente o suficiente. Você é a melhor pessoa que já conheci. Você é a única que nunca teve raiva de mim, você nunca me julgou e, ao seu modo, me ensinou mais sobre a vida do que qualquer filha poderia querer. Sinto muito não poder estar presente agora, e me odeio por fazer isso com você. Mas estou com medo, mãe. Eu não sei o que fazer.
Minha voz soou rouca e irregular aos meus próprios ouvidos, e não queria outra coisa além de um abraço.— Ok —, ela disse finalmente.
Sorri para sua resposta. Não pude evitar.
— Eu te amo, mamãe.
A isso, ela sabia exatamente o que responder, pois sempre fizera parte da rotina.
— Também te amo, Lary.
A abracei e em seguida me levantei para dar a ela a edição mais recente da Greysheet. Quando cheguei à porta, parei mais uma vez e olhei para ela.
Pela primeira vez desde que ela chegou, o medo tinha quase desaparecido.
Ela segurava o papel bem perto do rosto, e notei a página tremer ligeiramente. Seus lábios se moviam enquanto ela se concentrava nas palavras e detive-me a observá-la, na esperança de memorizar aquele rosto para sempre.Foi à última vez que a vi viva.
Minha mãe morreu sete semanas depois e eu recebi uma licença de emergência para ir ao funeral. O vôo de volta para os Estados Unidos foi um borrão. Tudo o que eu pude fazer foi olhar pela janela pra o cinza sem forma do oceano centenas de metros abaixo de mim, desejando que eu pudesse ter estado com ela em seus momentos finais.
Eu não tinha tomado banho ou até mesmo mudado minhas roupas desde que ouvi as notícias, como se seguir com minha vida diária significasse que eu teria aceitado completamente que ela tinha partido.
No terminal e na volta pra casa, me peguei ficando com raiva das cenas cotidianas ao meu redor. Vi pessoas dirigindo ou caminhando, entrando e saindo de lojas, agindo normalmente, mas para mim nada parecia normal de forma alguma.
Foi só quando voltei à casa que me lembrei de ter desativado os serviços quase dois meses antes. Sem luzes a casa parecia estranhamente isolada na rua, como se não pertencesse ali. Como minha mãe, eu pensei. Ou eu, me dei conta. De alguma forma aquele pensamento possibilitou que eu me aproximasse da porta.
Pendurado na moldura da porta havia um cartão de negócios de um advogado chamado William Benjamin; no verso, ele dizia representar minha mãe. Com o serviço telefônico desconectado, eu liguei da casa da vizinha e fiquei surpresa quando ele apareceu na casa cedo na manhã seguinte, maleta em mãos.
O levei pra dentro da casa suja e ele se sentou no sofá. Seu terno devia ter custado mais do que eu ganho em dois meses. Depois de se apresentar e lamentar minha perda, ele se inclinou pra frente.— Estou aqui porque gostava da sua mãe, — ele disse. — Ela foi uma dos meus primeiros clientes, e nada paga isso, a propósito. Ela veio até mim logo depois que você nasceu para fazer um testamento, e todo ano, no mesmo dia, eu recebia uma carta dela certificada que listava todas as moedas que ela tinha comprado. Expliquei a ela sobre impostos da propriedade, então ela os tem quitado pra você desde que você era criança.
Eu estava muito chocada para falar.
— De qualquer forma, seis semanas atrás ela me escreveu uma carta me informando que você finalmente estava de posse das moedas, e ela queria se certificar que tudo o mais estava em ordem, então eu atualizei seu testamento uma última vez. Quando ela me contou onde estava vivendo, percebi que ela não estava bem, então liguei pra ela. Ela não disse muito, mas me deu permissão pra falar com a diretora. A diretora me prometeu que iria me deixar saber quando ou se sua mãe viesse a falecer para eu poder encontrar você. Então aqui estou.
Ele começou a mexer em sua maleta. — Eu sei que você está lidando com os acordos do funeral e que essa não é uma boa hora. Mas sua mãe me disse que você não deve permanecer aqui por muito tempo e que eu deveria cuidar dos assuntos dela. Foram palavras dela, a propósito, não minhas. Certo, aqui está. — Ele me estendeu um envelope, cheio de papéis. — O testamento dela, uma lista de cada moeda da coleção, incluindo qualidade e o dia em que foi cunhada, e todos os acordos para o funeral que é pré-pago, a propósito. Prometi a ela que veria os impostos durante todo o tempo até que o testamento fosse aprovado também, mas isso não será um problema, visto que o imposto é pequeno e você é sua única filha. E se você quiser, posso achar alguém para vender qualquer coisa que você não quiser mais e preparar a casa pra venda também. Sua mãe disse que você não deve ter tempo pra isso também. — Ele fechou a maleta. — Como eu disse, gostava da sua mãe. Geralmente você tem que convencer as pessoas da importância dessas coisas, mas não sua mãe. Ela era uma mulher metódica.— É. — Assenti. — Ela era.