— É difícil para ela — disse. — Ela sabe que você está sofrendo.
— Eu sei. — Ela tomou outro gole de vinho.
— Você vai comer, não vai? —, apontei para o prato intocado.
— Não estou com fome — disse ela. — É sempre assim quando a Mari está no hospital... Esquento alguma coisa, estou com vontade de comer, mas assim que coloco no prato, meu estômago vira. — Ela olhou para o prato, disposta a experimentar, em seguida, balançou a cabeça.
— Faça por mim — pedi. — Dê uma garfada. Você tem que comer.
— Vou ficar bem.
Parei o garfo a caminho da boca. — Faça por mim, então. Não estou acostumada com pessoas me olhando comer. É esquisito.
— Ok. — Ela levantou o garfo, pegou um pedacinho minúsculo de comida e colocou na boca. — Feliz agora?
— Sim — bufei. — Foi exatamente o que eu quis dizer. Estou muito mais confortável. Talvez possamos dividir um par de migalhas para a sobremesa. Até lá continue segurando o garfo e fingindo.
Ela riu. — Estou feliz por você estar aqui. — Disse. — Atualmente, você é a única que sequer pensaria em falar assim comigo.
— Assim como? Honestamente?
— Sim — disse ela. — Acredite ou não, pó exatamente o que quis dizer. Ela largou o garfo e empurrou o prato de lado, ignorando meu pedido. — Você sempre foi boa.
— Eu lembro de pensar a mesma coisa sobre você.
Ela jogou o guardanapo sobre a mesa. — Tempo bom aquele, hein?
O jeito que ela me olhou fez o passado retornar como uma avalanche, e por um momento revivi cada emoção, cada esperança e cada um de nossos sonhos. Ela era de novo a moça que conheci na praia com a vida toda pela frente, uma vida da qual eu queria fazer parte.
Então, ela passou a mão pelos cabelos, e a aliança em seu dedo refletiu a luz.
Baixei os olhos, concentrando-me no meu prato.
— Algo assim.
Dei mais uma garfada, tentando sem sucesso apagar as imagens. Assim que engoli, ataquei a lasanha novamente.
— O que há de errado? — ela perguntou. — Você está irritada?
— Não. — menti.
— Você está agindo como se estivesse.
Ela era a mulher de que eu me lembrava, porém casada. Tomei um gole de vinho, observei, equivalia a todos os golinhos que ela tomara. Eu me recostei na cadeira.
— Por que estou aqui, Giana?
— O que quer dizer? — disse ela.
— Isso — eu disse, indicando a cozinha ao redor. — Me convidar para jantar, mesmo sem vontade de comer. Relembrar os velhos tempos. O que está acontecendo?
— Não está acontecendo nada — ela insistiu.
— Então o que é? Por que você me convidou para entrar?
Em vez de responder a pergunta, ela levantou e encheu a taça de vinho.
—Acho que só preciso de alguém para conversar — ela sussurrou. — Como eu disse, não posso falar com minha mãe ou meu pai não posso falar nem com a Mari desse jeito. — Ela parecia quase derrotada. — Todo mundo precisa de alguém para conversar.
Ela estava certa, e eu sabia disso. Foi a razão pela qual vim para Lenoir.— Eu entendo — disse, fechando os olhos. Quando abri os olhos de novo, vi que Giana estava me avaliando. — É só que não sei ao certo o que fazer com tudo isso. O passado. Nós. Você casada. Mesmo o que está acontecendo com a Mariana. Nada disso faz muito sentido.
Seu sorriso estava cheio de desgosto. — E você acha que faz sentido para mim?
Eu não disse nada e ela colocou a taça de lado. — Você quer saber a verdade? — ela perguntou, sem esperar por uma resposta. — Só estou tentando chegar ao fim do dia com energia suficiente para enfrentar o dia seguinte. — Ela fechou os olhos como se fosse doloroso admitir, em seguida abriu-os novamente. — Sei o que você ainda sente por mim, e gostaria de te dizer que desejo secretamente saber tudo que aconteceu com você desde que enviei aquela carta horrível. Mas, sendo honesta? — ela hesitou. — Não tenho certeza se quero realmente saber. Só sei que quando você apareceu ontem, me senti... melhor. Não ótima, não bem, mas também não me senti mal. É isso. Nos últimos seis meses, eu só me senti mal. Acordo todo dia nervosa, tensa, irritada, frustrada e aterrorizada com a idéia de perder a mulher com quem casei. É só isso que sinto até o sol se pôr — ela prosseguiu. — Todos os dias, o dia inteiro, nos últimos seis meses. Essa é a minha vida agora, mas a parte mais difícil é que daqui em diante só vai piorar. Agora tenho a responsabilidade adicional de tentar encontrar algum jeito de ajudar a Mariana. De tentar encontrar um tratamento que a ajude. De tentar salvar a vida dela.
Ela fez uma pausa e olhou atentamente para mim, tentando avaliar minha reação.
Sei que havia palavras para confortar Giana, mas como de costume, não sabia o que dizer. Só sabia que ela ainda era a mulher por quem me apaixonei, a mulher que eu amava, mas que jamais poderia ter.
— Sinto muito — disse ela por fim soando cansada. — Não quero colocar você em uma situação difícil. — Ela abriu um sorriso frágil. — Apenas queria que você soubesse que estou feliz por você estar aqui.
Eu me concentrei nos veios da madeira da mesa, tentando manter meus sentimentos sob controle. — Bom — eu disse.
Ela perambulou em volta da mesa. Serviu mais um pouco de vinho na minha taça, embora eu só tivesse tomado um gole. — Abro meu coração e tudo o que você diz é ‘Bom’?