Quando a onda nos atingiu, eu empurrei a prancha, nos dando algum impulso e Giana pegou a onda. Eu não sei o que estava esperando, só que não era ver ela subir na prancha direto, manter o equilíbrio e pegar a onda todo o caminho de volta a costa, onde ela finalmente se extinguiu. Na água rasa, ela pulou da prancha enquanto diminuía a velocidade, e se virou num estilo dramático pra mim.
— Como foi? — ela gritou.
Apesar da distância entre nós, eu não podia olhar pra outro lugar. Ah cara, eu pensei de repente, estou realmente com problemas.
— Eu fiz ginástica olímpica por anos, — ela admitiu. — Sempre tive um bom senso de equilíbrio. Acho que deveria ter dito algo sobre isso quando você estava me dizendo que eu ia cair.
Passamos mais de uma hora na água. Ela subiu na prancha e pegou as ondas até a costa todas as vezes com facilidade; embora não conseguisse guiar a prancha, eu não tinha dúvidas de que se ela quisesse, seria capaz de controlar isso em pouco tempo.
Mais tarde, retornamos para a casa. Esperei do lado de fora enquanto ela subia as escadas. Enquanto algumas pessoas tinham se levantado três garotas estavam no deque olhando o oceano a maioria ainda estava se recuperando da noite anterior e não estavam em nenhum lugar a vista. Giana apareceu alguns minutos depois vestindo shorts e uma camisa, segurando duas xícaras de café. Ela sentou ao meu lado nos degraus enquanto nós olhávamos a água.
— Eu não disse que você ia cair, — eu esclareci lembrando do que ela disse na água. — Eu só disse que se você caísse, deveria seguir a onda.
— Aham, — ela disse sua expressão travessa. Ela apontou a minha xícara.
— Seu café está bom?
— Está ótimo, — eu disse.
— Tenho que começar meu dia com café. É meu único vício.
— Todo mundo tem que ter um.
Ela me olhou. — Qual é o seu?
— Eu não tenho nenhum, — eu respondi, e ela me surpreendeu me dando uma cotovelada brincalhona.
— Sabia que a noite passada foi a primeira noite de lua cheia?
Eu sabia, mas pensei que seria melhor não admitir.
— Sério? — eu disse.
— Eu sempre amei luas cheias. Desde que era criança. Eu gostava de pensar que elas eram uma profecia de organização. Eu queria acreditar que elas sempre precediam coisas boas. Como se, se eu estivesse cometendo um erro, teria a chance de começar de novo.
Ela não disse mais nada sobre isso. Em vez disso levou a xícara aos lábios, e eu olhei enquanto o vapor cobria sua face. — O que tem na sua agenda hoje? — eu perguntei.
— Temos que ter uma reunião alguma hora hoje, mas, além disso, nada. Bem, tirando a igreja. Pra mim, quero dizer. E, bem, quem mais quiser ir. O que me lembra, que horas são?
Chequei meu relógio. — Um pouco depois das nove.
— Já? Acho que isso não me dá muito tempo. O culto é às dez.
Eu assenti, sabendo que nosso tempo juntas tinha quase acabado. — Você quer ir comigo? — eu a ouvi perguntar.
— Pra igreja?
— Sim. Pra igreja, — ela disse. — Você não vai?
Eu não tinha certeza do que dizer. Obviamente era importante pra ela, e embora eu tivesse a impressão de que minha resposta a desapontaria, não quis mentir.
— Na verdade, não, — eu admiti. — Eu não vou à igreja há anos. Quero dizer, eu costumava ir quando era criança, mas... — desconversei. — Não sei o porquê, — eu finalizei.
Ela esticou as pernas, esperando pra ver se eu acrescentaria mais. Quando eu não o fiz, ela arqueou uma sobrancelha. — Então?