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— Vamos colocar alguma música para tocar, — ela disse, interrompendo meus pensamentos.

Me levantei da minha cadeira, remexi meus bolsos à procura de alguma moeda de 25 cents, e depositei na máquina. Giana colocou as duas mãos no vidro e se inclinou para frente, como se lesse os títulos, depois escolheu algumas músicas.

Quando voltamos à mesa, a primeira já estava tocando.

— Sabe, acabei de me dar conta que só eu tenho falado a noite toda, — eu disse.

— Você é uma matraca, — ela observou.

Tirei meus talheres do guardanapo de papel que os envolvia. — E você? Você sabe tudo sobre mim, mas eu não sei nada sobre você.

— Claro que sabe, — ela disse. — Você sabe quantos anos eu tenho, qual faculdade eu frequento, minha especialização e o fato de que eu não bebo. Sabe que eu sou de Lenoir, moro em uma fazenda, amo cavalos, e passo meus verões construindo casas para o Habitat para a Humanidade. Você sabe muita coisa.

É, de repente me dei conta, eu sabia. Incluindo coisas que ela não tinha mencionado.

— Não é o bastante, — eu disse. — Sua vez.

Ela se inclinou para frente. — Pergunte o que quiser.

— Me conte sobre seus pais, — eu disse.

— Certo, — disse ela, pegando um guardanapo. Ela secou a condensação de seu copo. — Meu pai e minha mãe são casados há vinte e cinco anos e ainda estão muito felizes e loucamente apaixonados. Eles se conheceram na faculdade na Appalachian State, e minha mãe trabalhou em um banco alguns anos até eu nascer. Desde então ela tem sido uma mãe caseira e ela foi o tipo de mãe que estava lá pra todo mundo também. Ajudante de sala de aula, motorista voluntária, técnica do nosso time de futebol, cabeça da Associação de Pais e Mestres, todo esse tipo de coisa. Agora que eu vim embora ela passa o dia todo como voluntária de outras coisas a biblioteca, escolas, a igreja, o que for. Meu pai é professor de história na escola e é técnico do time de vôlei feminino desde que eu era pequena. Ano passado elas chegaram a final estadual, mas perderam. Ele também é diácono na nossa igreja e coordena o grupo de jovens e o coral. Quer ver uma foto?

— Claro, — eu disse.

Ela abriu sua bolsa e tirou a carteira. Ela a abriu e empurrou por cima da mesa, nossos dedos se tocando. — Estão um pouco esfarrapadas nas bordas por causa da água do mar, — ela disse, — mas dá pra ter uma idéia.

Virei a foto. Giana tinha mais características do pai do que da mãe, ou pelo menos tinha herdado os traços mais escuros dele.

— Belo casal.

— Eu os amo, — ela disse, pegando a carteira de volta. — Eles são os melhores.

— Por que você mora em uma fazenda se seu pai é professor?

— Ah, não é uma fazenda de trabalho. Era quando pertencia a meu avô, mas ele teve que vender pedaços para pagar os impostos dela. Quando meu pai a herdou estava reduzida a 4 hectares com uma casa, estábulos e um curral. É mais um grande quintal do que uma fazenda. É como sempre nos referimos a ele, mas acho que passa a imagem errada, né?

— Eu sei que você disse que fez ginástica olímpica, mas você jogou vôlei no time do seu pai?

— Não, — ela disse. — Quer dizer, ele é um ótimo técnico, mas sempre me encorajou a fazer o que era certo pra mim. E não era vôlei. Eu tentei e foi legal, mas não era o que eu amava.

— Você amava cavalos.

— Desde que era uma garotinha. Minha mãe me deu uma estátua de um cavalo quando eu era bem pequena, e foi isso que começou a coisa toda. Ganhei meu primeiro cavalo no Natal quando tinha oito anos e ainda é o melhor presente de Natal que eu já recebi. Slocum. Ela era uma velha égua muito gentil e era perfeita pra mim. O acordo era que eu deveria cuidar dela - alimentá-la, escová-la e manter sua baia limpa. Entre ela, a escola, a ginástica e tomar conta do resto dos animais, eu só tinha tempo pra isso.

— O resto dos animais?

— Quando eu estava crescendo, minha casa era tipo uma fazenda mesmo. Cachorros, gatos, até uma lhama por um tempo. Eu era louca por animais perdidos. Meus pais chegaram ao ponto de nem discutir mais comigo sobre eles. Geralmente tinha quatro ou cinco deles de uma vez. Algumas vezes um dono vinha, esperando achar seu bichinho perdido, e saía com uma de nossas adições recentes se não achasse. Éramos como uma casa de acolhimento animal.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora