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— Não posso, — eu disse, — tenho que encontrar minha mãe para jantar. Obrigado, mesmo assim.

— Ignore ela. Vai ser um estrondo. Clara vai estar lá.

Outra mulher do meu passado, outra lembrança que me fez estremecer por dentro. Eu mal podia suportar a pessoa que eu costumava ser. — Não posso, — eu disse, sacudindo a cabeça. Me levantei, deixando o copo quase cheio na minha frente.

— Eu prometi. E ela está me deixando ficar com ela. Você sabe como é. 

Isso fez sentido pra ele e ele assentiu.

— Então vamos sair esse fim de semana. Alguns de nós vão para Ocracoke surfar.

— Talvez, — eu disse, sabendo que não havia chance.

— Sua mãe ainda tem o mesmo número?

— Sim, — eu disse.

Eu fui embora, certo de que ele não ligaria e de que eu nunca mais retornaria ao Leroy's.

No caminho pra casa, comprei carne, um saco de salada, tempero e algumas batatas para o jantar. Sem um carro não era fácil carregar a sacola e minha prancha todo o caminho de volta pra casa, mas eu realmente não me importava de caminhar. Tinha feito isso por anos e meus sapatos eram muito mais confortáveis do que as botas que eu estava acostumada a usar.

Assim que cheguei em casa, arrastei a churrasqueira da garagem junto com um saco de carvão e álcool. A churrasqueira estava empoeirada, como se não tivesse sido usada por anos. Eu a coloquei na varanda de trás da casa e tirei as cinzas antes de limpar as teias de aranha com uma mangueira e a deixei secando no sol. Dentro de casa, eu coloquei sal, pimenta e pó de alho nas carnes, enrolei as batatas em papel alumínio e as coloquei no forno, depois coloquei a salada em uma tigela. Quando a churrasqueira secou, acendi os carvões e servi a mesa do lado de fora.

Minha mãe entrou no momento em que eu estava colocando as carnes na churrasqueira. — Oi, mãe, — eu disse por cima do ombro. — Pensei em fazer um jantar pra nós hoje à noite.

— Ah, — ela disse. Pareceu levar um instante para compreender o fato de que ela não cozinharia pra mim. — Certo, — ela finalmente adicionou.

— Como você quer sua carne?

— Média, — ela disse. Continuou em pé perto da porta de vidro corrediça.

— Parece que você não tem usado a churrasqueira desde que eu fui embora, — eu disse. — Mas você deveria. Não há nada melhor do que um bife grelhado. Minha boca estava se enchendo de água durante todo o caminho pra casa.

— Vou trocar de roupa. — Ela disse.

— As carnes estarão prontas em dez minutos.

Quando ela saiu eu voltei á cozinha, peguei as batatas e a tigela de salada junto com o tempero, a manteiga e o molho para carnes os coloquei na mesa. Ouvi a porta do terraço se abrir e minha mãe apareceu carregando dois copos de leite, parecendo uma turista de um cruzeiro. Ela vestia shorts, meias pretas, tênis e uma camiseta florida havaiana. Suas pernas eram dolorosamente brancas, como se ela não vestisse shorts há anos. Se é que ela já tinha vestido alguma vez. Pensando bem, acho que eu nunca tinha visto ela de shorts. Dei o melhor de mim pra fingir que ela parecia normal.

— Na hora certa, — eu disse, voltando para a churrasqueira. Enchi os dois pratos com carne e coloquei um na frente dela.

— Obrigado, — ela disse.

— Não há de que.

Ela colocou salada no seu prato e polvilhou o tempero, depois desenrolou sua batata. Colocou manteiga, depois molho de carne, fazendo uma pequena poça. Normal e esperado, a não ser pelo fato de que ela fez tudo isso em silêncio.

— Como foi seu dia? — eu disse, como sempre.

— O mesmo, — ela respondeu. Como sempre. Sorriu novamente, mas não disse mais nada.

Minha mãe, a antissocial. Me perguntei de novo porque ela achava tão difícil conversar e tentei imaginar como ela era na sua juventude. Como ela tinha achado alguém pra casar? Eu sabia que a última pergunta soava mesquinha, mas não tinha vindo sem querer. Eu estava curiosa de verdade. Comemos por um tempo, o ruído dos garfos era o único som que nos fazia companhia.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora