— Foi aqui que passei os últimos dois dias, — ela quase sussurrou na quietude da noite. — O que você acha?
— É ótimo, — eu disse. — Aposto que a família está emocionada.
— Eles estão. E eles são uma família tão boa. Realmente merecem esse lugar, tem sido um esforço tão grande para eles. O furacão Fran destruiu sua casa, mas como muitos outros, eles não tinham seguro de inundação. É uma mãe solteira com três filhos o marido dela saiu de casa anos atrás e se você conhecesse a família, os amaria. As crianças tem boas notas e cantam no coral jovem da igreja. E eles são tão educados e carinhosos... você percebe que a mãe deles deu duro pra se certificar que eles se dessem bem, sabe?
— Você os conheceu, eu presumo?
Ela acenou em direção a casa. — Eles estiveram aqui nos dois últimos dias.
— Ela se endireitou. — Você quer olhar por dentro?
Relutante, eu a soltei. — Vá na frente.
Não era um lugar grande mais ou menos do mesmo tamanho da casa da minha mãe. Giana me levou pela mão e me mostrou todos os cômodos, ressaltando características, a imaginação dela se enchendo com os detalhes. Ela refletiu sobre o papel de parede ideal para a cozinha e a cor dos ladrilhos da entrada, o tecido das cortinas da sala e como decorar a bancada em cima da lareira. Sua voz tinha a mesma admiração e alegria que ela tinha expressado quando viu os botos. Por um momento, eu tive uma visão de como ela devia ter sido quando criança.
Ela me levou de volta para a porta da frente. À distância, os primeiros estrondos de trovões podiam ser ouvidos. Enquanto estávamos em pé no vão da porta, me aproximei dela.
— Vai ter uma varanda também, — ela disse, — com espaço suficiente para cadeiras de balanço ou até um balanço mesmo. Eles vão poder sentar aqui em noites de verão e se reunir depois da igreja. — Ela apontou. — Aquela é a igreja deles. É por isso que esse lugar é tão perfeito pra eles.
—Parece que você realmente os conheceu.
— Não realmente, — ela disse. — Falei com eles um pouco, mas estou só chutando tudo isso. Fiz isso com todas as casas que ajudei a construir fico andando por elas e tentando imaginar como a vida dos donos vai ser. Fica muito mais divertido trabalhar assim.
A lua estava escondida por nuvens, escurecendo o céu. No horizonte, um clarão, e um momento depois uma chuva fina começou a cair, batendo no chão. Os carvalhos alinhando a rua, pesados com folhas, farfalhavam na brisa enquanto os trovões ecoavam pela casa.
— Se você quiser ir, é melhor irmos antes de a tempestade começar.
— Nós não temos nenhum lugar pra ir, lembra? Além disso, eu sempre amei tempestades de trovões.
Puxei ela mais pra perto, inalando seu perfume. Seu cabelo tinha um cheiro doce, como morangos maduros.
Enquanto observávamos, a chuva se intensificou em um constante toró, caindo do céu em diagonal. As lâmpadas da rua forneciam a única luz, deixando metade do rosto de Giana nas sombras.
Os trovões explodiam acima de nossas cabeças e a chuva começou a cair em chapas. Eu podia ver a chuva caindo no chão coberto de serragem, formando grandes poças na sujeira e eu estava agradecido porque apesar da chuva, a temperatura estava amena. Ao lado, eu notei alguns caixotes vazios. Sai do lado dela para pegá-los, depois comecei a empilhá-los em um assento improvisado. Não seria tão confortável, mas era melhor do que ficar em pé.
Quando Giana sentou ao meu lado, eu de repente soube que vir aqui tinha sido a melhor coisa a se fazer. Era a primeira vez que nós estávamos realmente sozinhas, mas sentadas lado a lado era como se estivéssemos juntas desde sempre.
Os caixotes, duros e impiedosos, me fizeram questionar a minha sabedoria, mas Giana não pareceu se importar. Ou fingiu não se importar. Ela se inclinou pra trás, sentiu a beira do caixote traseiro pressionar sua pele, depois sentou direito novamente.
— Desculpe, — eu disse, —Pensei que seria mais confortável.
— Tudo bem. Minhas pernas estão exaustas e meus pés doem. Isso é perfeito.
Sim, eu pensei, era. Pensei nas noites que eu estava no dever de guarda e ficava imaginando sentar ao lado da garota dos meus sonhos e sentindo que tudo estava certa com o mundo. Agora eu sabia do que tinha sentido falta todos esses anos. Quando senti Giana descansar a cabeça em meus ombros, me peguei desejando que não tivesse me alistado no exército. Queria que a minha base não fosse depois de um oceano, e queria ter escolhido um caminho diferente na vida, um que teria me deixado permanecer como uma parte do mundo dela. Ser uma estudante em Chapel Hill, passar parte do verão construindo casas, cavalgar com ela.