— Quantas vezes você tem que alimentá-los?
— Duas vezes por dia, todos os dias. Mas há mais além da alimentação. Você ficaria surpresa em como eles são estabanados às vezes. O telefone do veterinário está na discagem rápida.
Eu sorri. — Parece muito trabalho.
— É mesmo. Dizem que ser dono de um cavalo é como viver como uma âncora. A menos que você tenha alguém para ajudar, é difícil ficar longe, mesmo por um fim de semana.
— Seus pais ajudam?
— Às vezes. Quando realmente preciso deles. Eles moram atrás do morro, do outro lado da cerca. Mas o meu pai está ficando velho, e há uma grande diferença entre cuidar de um cavalo e cuidar de sete.
— Vou acreditar na sua palavra.
No doce abraço da noite, ouvindo o zumbido constante das cigarras, eu respirava a paz daquele refugio, tentando aquietar meus pensamentos acelerados.
— Este é exatamente o tipo de lugar que imaginei como sua casa —finalmente disse.
— Eu também — ela afirmou. — Mas é muito mais difícil do que eu imaginava. Há sempre algo para consertar. Você não imagina quantos vazamentos havia no celeiro, e um bom pedaço da cerca desabou no último inverno. Foi nisso que trabalhamos durante toda a primavera.
Embora tenha ouvido ela usar “nós” e assumindo que se tratava de sua esposa, eu ainda não estava pronta para falar sobre ela. Nem ela, ao que parece.
— Mas é bonito aqui, mesmo com tanto trabalho. Em noites como esta, gosto de sentar no alpendre e apenas ouvir o mundo. Raramente se ouve barulho de carros e isso é tão... Pacífico. Ajuda a clarear a mente, especialmente depois de um longo dia.
Enquanto ela falava, observei como media as palavras, percebi seu desejo de manter a conversa em território seguro.
— Aposto que sim.
— Preciso limpar alguns cascos — ela anunciou. — Você quer ajudar?
— Não sei o que fazer — admiti.
— É fácil, disse. — Vou te mostrar. — Desapareceu no celeiro e saiu carregando o que parecia ser um par de pequenos pregos curvados. Ela me entregou um.
Enquanto os cavalos comiam, ela se aproximou de um deles.
— Você só tem agarrar perto do casco e levantar, enquanto segura a parte de trás da pata dele aqui — disse, demonstrando. Ocupado com o feno, o cavalo levantou a pata obediente. Ela apoiou o casco entre as pernas. — Então, basta tirar a terra do casco. É só isso.
Fui até o cavalo ao lado dela e tentei replicar suas ações, mas nada aconteceu. O cavalo era excessivamente grande e teimoso. Eu puxei a pata e segurei no lugar certo. Depois puxei e segurei mais um pouco. O cavalo continuou a comer, ignorando meus esforços.
— Ele não vai levantar a pata — reclamei.
Ela terminou o casco que estava limpando, então se inclinou para o lado do meu cavalo. Um puxão e um apertão mais tarde, o casco estava no lugar, entre as pernas dela.
— Claro que vai. Só que ele sabe que você não tem ideia do que esta fazendo e esta desconfortável perto dele. Você tem que ser confiante. — Ela deixou cair o casco e tomei o seu lugar para tentar novamente. O cavalo ignorou-me mais uma vez.
— Veja como eu faço — disse ela com cuidado.
— Eu estava observando — protestei.
Ela repetiu o procedimento, o cavalo levantou a pata. Um momento depois imitei o passo a passo e o cavalo me ignorou. Embora eu não possa alegar que consiga ler a mente de um cavalo, tive a estranha sensação de que ele se divertia com o meu sofrimento. Frustrada, bati e puxei incansavelmente até que, finalmente, como por magia, o cavalo levantou a pata. Apesar da precariedade do meu desempenho, senti uma onda de orgulho. Pela primeira vez desde que cheguei, Giana riu.
— Bom trabalho. Agora é só raspar fora a lama e partir para o próximo casco.
Giana tinha limpado os outros seis cavalos quando terminei meu primeiro. Quando terminamos, ela abriu a porteira e os cavalos trotaram para a pastagem escura. Eu não sabia o que esperar, mas Giana foi para o galpão. Ela trazia duas pás nas mãos.
— Agora é hora de limpar — disse ela, entregando-me uma pá.
— Limpar?
— O chorume — disse. — Caso contrário pode ficar muito espesso aqui.
Peguei a pá. — Você faz isso todo dia?
— A vida é doce, não é? —, ela provocou. Ela saiu novamente e voltou com um carrinho de mão.
Quando começamos a cavar o estrume, um pedaço de uma lua surgiu sobre as copas das arvores.
Trabalhamos em silêncio, o tilintar das pás em ritmo constante enchia o ar. Quando acabamos, inclinei-me sobre minha pá e a observei. No escuro do celeiro ela parecia linda e fugaz como uma aparição. Ela não disse nada, mas pude sentir que me analisava.
— Você esta bem? — finamente perguntei.
— Por que você veio, Lary?