Então, em tom de provocação, ela acrescentou: — Assim como no Exército, certo?
— Oh sim. Exatamente igual.
Ela deu uma risadinha, depois ficou séria novamente.— Como foi no Iraque?
Eu estava prestes a fazer o meu comentário usual sobre a areia, mas disse: — É difícil descrever.
Giana esperou, e alcancei meu copo de vinho, detendo-me. Mesmo com ela, não tinha certeza se queria entrar nesse terreno. Mas estava acontecendo algo entre nós, algo que eu desejava, mas também não desejava. Obriguei-me a olhar para a aliança de Giana e imaginar a traição que, sem dúvida, ela sentiria mais tarde.
Fechei os olhos e comecei pela noite da invasão.
Não sei quanto tempo falei, mas foi o suficiente para a chuva passar. Com o sol ainda completando sua lenta descendente, brilhavam no horizonte as cores do arco-íris. Giana reabasteceu sua taça. Quando terminei, estava totalmente exausta e sabia que não falaria daquilo nunca mais.
Giana permaneceu em silêncio, fazendo apenas perguntas ocasionais para demonstrar que estava ouvindo a tudo que eu contei.— É diferente do que eu imaginava — ela observou.
— Sim? — perguntei.
— Quando você passa os olhos pelas manchetes ou lê as histórias na maior parte do tempo, os nomes de soldados e de cidades iraquianas são apenas palavras. Mas para você, é pessoal... é real. Talvez real demais.
Eu não tinha mais nada a acrescentar, e senti que ela tomava minha mão. Seu toque fez algo pular dentro de mim.
— Queria que você não tivesse que ter passado por isso.
Apertei a mão dela e senti a resposta na mesma intensidade. Quando ela finalmente soltou, a sensação do toque permaneceu e, como um velho hábito redescoberto, a vi colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha. A visão me doeu por dentro.
— É estranho como funciona o destino — disse, sua voz quase em um sussurro. — Você imaginou que sua vida iria acabar assim?
— Não — eu disse.
— Nem eu — ela respondeu. — Quando você voltou para a Alemanha, sabia que nós nos casaríamos um dia. Isso era mais certo do que qualquer coisa na minha vida.
Olhei para meu copo enquanto ela continuava.
— Então na sua segunda licença, tive ainda mais certeza. Especialmente depois que fizemos amor.
— Não... — balancei a cabeça. — Não vá por aí.
— Porquê? — ela perguntou. — Você se arrepende?
— Não. — Não podia suportar olhar para ela. — Claro que não. Mas você está casada agora.
— Mas aconteceu — disse ela. — Você quer que eu esqueça?
— Não sei — disse. — Talvez.
— Não posso — ela disse, parecendo surpresa e magoada. — Foi minha primeira vez. Nunca vou esquecer, e a seu próprio modo, será sempre especial para mim. O que aconteceu entre nós foi lindo.
Não confiava em mim para responder, e depois de um momento, ela se recompôs. Inclinando-se à frente, ela perguntou: — Quando você descobriu que eu tinha casado com a Mari, o que achou?Esperei para responder, escolhendo minhas palavras com cuidado. — Meu primeiro pensamento foi que, de certa forma, fazia sentido. Ela estava apaixonada por você há anos. Percebi assim que a conheci. — Passei a mão sobre o rosto. — Depois, me senti... em conflito. Fiquei feliz por você ter escolhido alguém como ela, porque ela é uma mina legal, e vocês duas têm muito em comum, mas então eu... fiquei triste. Não teríamos que esperar muito. Eu teria saído do exército há quase dois anos agora.
Ela apertou os lábios. — Lamento — murmurou.
— Eu também. — Tentei sorrir. — Se você quer minha opinião honesta, acho que você deveria ter esperado por mim.
Ela riu honestamente, e fiquei surpreendida com o olhar de saudade em seu rosto. Ela pegou a taça de vinho.
— Também estive pensando sobre isso. Onde estaríamos, onde seria nossa casa, o que estaríamos fazendo com nossas vidas. Especialmente, recentemente. Ontem à noite, depois que você saiu, só conseguia pensar nisso. Sei que parece terrível, mas, nos últimos dois anos, tenho tentando me convencer que nosso amor, mesmo sendo real, nunca teria durado. — Ela tinha a expressão desolada. — Você realmente teria se casado comigo, não é?
— Em um piscar de olhos. E ainda casaria, se eu pudesse.
O passado de repente parecia pairar sobre nós, em sua esmagadora intensidade.
— Foi real, não foi? — Sua voz tremia. — Você e eu?
O cinza do crepúsculo refletia em seus olhos enquanto ela esperava a resposta. Nos momentos que se seguiram, senti o peso do prognóstico de Mariana pairando sobre nós. Meus pensamentos desembestados eram mórbidos e errados e, no entanto, eles existiam. Eu me odiava só de pensar na vida depois de Mariana, desejando afastar tais pensamentos.
E ainda assim, não conseguia. Só queria tomar Giana em meus braços, abraçá-la, reconquistar tudo o que havíamos perdido nos anos que ficamos separadas.Instintivamente, comecei a inclinar-me para ela.