— Me solta, — eu disse.
— Ela está bem? — ele exigiu.
— Me solta, — eu disse novamente, — ou eu quebro seu pulso.
— Ei, o que está acontecendo?— eu ouvi Mari gritar de algum lugar atrás de mim.
— O que você fez com ela? — Luis exigiu. — Por que ela está chorando? Você machucou ela?
Eu podia sentir a adrenalina surgir na minha corrente sanguínea. — Última chance, — eu alertei.
— Não há motivo pra isso! — Mariana gritou, mais perto dessa vez. — Se acalmem, pessoal! Deixem pra lá!
Senti alguém tentando me agarrar pelas costas. O que aconteceu em seguida foi reflexo, dentro de uma questão de segundos. Bati meu cotovelo com força na sua barriga e ouvi uma súbita expiração gemida; então agarrei a mão de Luis e rapidamente a torci até seu ponto de estalo. Ele gritou e caiu de joelhos e naquele instante senti mais alguém correndo em minha direção. Balancei um cotovelo cegamente e o senti conectar; senti cartilagem se esmigalhar enquanto me virei, pronto para o próximo que viesse.
— O que você fez? — ouvi Giana gritar. Ela deve ter vindo correndo assim que viu o que estava acontecendo.
Na areia, Luis estava se contraindo enquanto apertava o pulso; o cara que tinha me agarrado por trás estava arfando de quatro. — Você a machucou! — ela choramingou enquanto passava correndo por mim. — Ela só estava tentando parar a briga!
Eu me virei. Mari estava esparramada no chão, segurando o rosto, o sangue jorrando por entre seus dedos. A visão pareceu paralisar todos menos Giana, que se ajoelhou ao seu lado. Mariana gemeu e apesar das marteladas no meu peito, senti um caroço no meu estômago. Por que tinha que ter sido ela? Eu queria perguntar se ela estava bem; eu queria dizer a ela que não tinha tido a intenção de machucá-la e que não era minha culpa. Eu não tinha começado isso.
Mas não iria importar. Não agora. Eu não podia fingir que eles devessem perdoar e esquecer, não importava o quanto eu quisesse que não tivesse acontecido.
Eu mal podia ouvir Giana se preocupar quando eu comecei a me afastar.
Olhei para os outros cautelosamente, me certificando de que eles me deixariam partir, não querendo machucar mais ninguém.
— Ah, Jesus... ah, não. Você está realmente sangrando... temos que te levar ao médico...
Continuei a andar para trás, então me virei e subi as escadas.
Me movi rapidamente pela casa, depois de volta para o meu carro. Antes de me dar conta, eu estava na rua, amaldiçoando a mim e a toda a noite.
Eu não sabia aonde ir, então dirigi sem rumo por um tempo, os acontecimentos da noite passada se repetindo na minha cabeça. Ainda estava com raiva de mim mesmo e do que eu tinha feito com Mariana - não tanto com o que eu fiz com os outros, admito - e com raiva de Giana pelo que tinha acontecido no píer.
Eu mal podia me lembrar de como tinha começado. Em um minuto eu estava pensando em como eu a amava mais do que alguma vez já tinha imaginado possível, e no outro estávamos brigando. Eu estava revoltada com seu subterfúgio, mas ainda assim não conseguia entender porque estava com tanta raiva. Não era como se minha mãe e eu fôssemos próximas; não era como se eu pensasse que a conhecesse. Então porque eu tinha ficado com tanta raiva? E porque ainda estava com raiva? Porque, a voz dentro de mim perguntou, há uma chance de ela estar certa?
Não importava. Se ela fosse ou não, e daí? Como isso iria mudar alguma coisa? E por que isso era da conta dela?
Enquanto dirigia, continuava mudando de raiva para aceitação e de volta pra raiva de novo. Me peguei revivendo a sensação do meu cotovelo esmagando o nariz da Mari, o que só fez piorar as coisas. Por que ela tinha vindo até mim? Por que não eles?
Não tinha sido eu quem tinha começado.
E Giana... é, eu posso passar lá amanhã pra me desculpar. Eu sei que ela sinceramente acreditava no que dizia e que do jeito dela, estava tentando ajudar. E talvez, se ela estivesse certa, eu quisesse saber. Explicaria algumas coisas...
Mas depois do que eu fiz com a Mari? Como ela reagiria a isso? Ela era sua melhor amiga e mesmo que eu jurasse que tinha sido um acidente, importaria para ela?