Na estrada em frente, os faróis de um carro em movimento iluminaram a propriedade quando passaram em velocidade pela casa.
— Então acho que é isso — perplexa. — Foi bom ver você de novo.
— Você também, Lari. Estou contente que tenha vindo.
Concordei novamente. Quando ela desviou o olhar, tomei como um sinal para partir.
— Adeus — disse eu.
— Adeus.
Virei e comecei a andar para o carro, tonta ao pensar que tudo estava realmente acabando. Não sabia se esperava qualquer coisa diferente, mas o fim trouxe à tona todos os sentimentos represados desde que eu lera aquela última carta.
Eu estava abrindo a porta do carro quando a ouvi gritar.
— Ei, Lari?
— Sim?
Ela desceu da varanda e veio na minha direção. — Você vai estar por aqui amanhã?
Enquanto ela se aproximava, seu rosto parcialmente na sombra, tive certeza de que ainda estava apaixonada. Apesar da carta, apesar da sua mulher. Apesar do fato de que nunca mais poderíamos ficar juntas.
— Por quê? — perguntei.
— Estava imaginando se você gostaria de aparecer. Por volta das dez. Tenho certeza que a Mari gostaria de encontrar você...
Eu estava balançando a cabeça antes mesmo de ela ter terminar. — Não tenho tanta certeza de que seja uma boa ideia.
— Você faria isso por mim?
Sabia que ela queria que eu visse que a Mariana ainda era a mesma mulher de sempre e, de certo modo, sabia que ela estava me convidando porque queria meu perdão. Ainda assim...
Ela pegou minha mão. — Por favor. Significaria muito para mim.Apesar do calor da mão dela, eu não queria voltar. Não queria ver Mariana, não queria ver as duas juntas ou sentar-me à mesa fingindo que tudo parecia bem. Mas havia algo melancólico naquele pedido, que tornou impossível declinar.
— Ok — eu disse. — Dez horas.
— Obrigada.
Um momento depois, ela se virou para voltar. Permaneci no local, observando-a subir no alpendre antes de entrar no carro. Virei a chave e esperei.
Giana estava no alpendre, acenando uma última vez. Acenei de volta e peguei a estrada, a imagem dela cada vez menor no espelho retrovisor. Ao observá-la, senti uma súbita secura na garganta. Não porque ela estava casada com a Mari, e não porque iria vê-las juntas no dia seguinte. Mas porque, enquanto eu me afastava, vi Giana em pé no alpendre, chorando.Na manha seguinte encontrei Giana em pé no alpendre, e ela acenou quando entrei no rancho. Ela se aproximou enquanto eu estacionava. Eu meio que esperava ver Mariana na porta atrás dela, mas ela não apareceu.
— Oi —, disse ela, tocando meu braço. — Obrigada por ter vindo.
— Imagina —, eu disse, encolhendo os ombros relutante.
Vislumbrei um lampejo de compreensão em seus olhos quando ela perguntou: — Você dormiu bem?
— Não muito.
Ela deu um sorriso irônico. — Você está pronta?
— Como sempre.
— Tudo bem —, ela disse. — Deixe-me apenas pegar as chaves. A menos que você queira dirigir.
Não entendi de primeira o que isso queria dizer. — Vamos sair? — Indiquei a casa. — Pensei que iríamos ver a Mari.
— Nós vamos — ela disse. — Ela não está aqui.
— Onde ela está?
Foi como se ela não tivesse ouvido. — Você quer dirigir?
— Sim, acho que sim — disse, sem esconder a minha confusão, mas sabendo que ela de alguma forma esclareceria as coisas quando estivesse pronta. Abri a porta para ela e contornei o carro até o banco do motorista para sentar-me ao volante.
Giana passou a mão sobre o painel, como se estivesse tentando provar para si mesma que era real.— Eu me lembro deste carro. — Tinha uma expressão de nostalgia. — Era da sua mãe, certo? Uau, não acredito que ainda esteja andando.
— Ela não dirigia tanto assim — disse. — Só ia trabalhar e fazer compras.
— Ainda assim.
Ela colocou o cinto de segurança, e me perguntava se ela passou a noite sozinha.
— Para que lado? — perguntei.
—Vire à esquerda — disse ela. — Direto para a cidade.
Nenhuma de nós falou. Ela passou o tempo todo olhando pela janela do passageiro com os braços cruzados. Eu podia ter ficado ofendida, mas nada em sua expressão denunciava que aquela preocupação tinha a ver comigo, e deixei-a sozinha com seus pensamentos.
Nos arredores da cidade, ela balançou a cabeça, como se repentinamente tomasse consciência do silêncio em que estávamos. — Sinto muito, — disse. — Acho que minha companhia deixa muito a desejar.