Ela assentiu, começando a chorar. Senti um nó se formar em meu peito.
—Vou escrever, — prometi.
— Certo, — ela disse. Limpou suas lágrimas e pegou sua bolsa. Tirou de lá uma caneta e um pequeno pedaço de papel. Começou a rabiscar. — Esse é meu telefone e meu endereço de casa, certo? E meu e-mail também.
Eu assenti.
— Lembre-se que eu vou mudar de dormitório no próximo ano, mas eu lhe digo o endereço assim que souber. Mas você sempre pode me alcançar pelos meus pais. Eles vão passar adiante qualquer coisa que você mandar.
— Eu sei, — eu disse. — Você ainda tem minhas informações, certo?
Mesmo que eu vá pra uma missão em algum lugar, as cartas chegam até mim. E-mail também. O exército é muito bom em arrumar computadores, mesmo que seja no meio do nada.
Ela abraçou os braços como uma criança triste. — Me assusta, — ela disse.— Você ser uma soldada, quero dizer.
— Eu vou ficar bem, — assegurei.
Abri a porta do carro, então peguei minha carteira. Coloquei o bilhete que ela rabiscou dentro, então abri meus braços novamente. Ela veio até mim e eu a segurei por um longo tempo, marcando a sensação do corpo dela contra o meu.
Dessa vez foi ela que se afastou. Enfiou a mão na bolsa novamente e puxou um envelope.
— Escrevi isso pra você ontem à noite. Pra você ter algo para ler no avião. Não leia até lá, certo?
Assenti e a beijei mais uma vez, então escorreguei para atrás do volante do carro. Liguei o carro e enquanto eu começava a andar ela gritou.
— Mande um olá a sua mãe por mim. Diga a ela que eu posso aparecer algum dia nas próximas semanas, está bem?
Ela deu um passo para trás quando o carro começou a balançar. Eu ainda podia vê-la pelo espelho retrovisor. Pensei em parar. Minha mãe entenderia. Ela sabia o quanto Giana significava pra mim e ela iria querer que nós tivéssemos uma última noite juntas. Mas continuei, vendo sua imagem no espelho ficar mais e mais pequena, sentindo meu sonho ir embora.
O jantar com minha mãe foi mais quieto do que o normal. Não tive energia para tentar uma conversa e até minha mãe se deu conta disso. Sentei na mesa enquanto ela cozinhava, mas ao invés de se focar na preparação, ela olhava em minha direção aqui e ali com uma preocupação muda em seus olhos. Me sobressaltei quando ela desligou o fogão e se aproximou de mim.
Quando estava perto, ela colocou uma mão na minhas costas. Não disse nada, mas não precisava. Eu sabia que ela entendia que eu estava sofrendo e ficou lá em pé sem se mexer, como se tentasse absorver minha dor na esperança de tirá-la de mim e fazê-la dela própria.
De manhã, minha mãe me levou até o aeroporto e ficou ao meu lado no portão enquanto eu esperava meu voo ser chamado. Quando chegou a hora eu levantei. Minha mãe estendeu a mão; a abracei ao invés disso. Seu corpo estava rígido, mas não me importei. — Te amo, mãe.
— Também te amo, Lary.
— Encontre algumas moedas boas, certo? — acrescentei, me separando dela.— Quero ouvir tudo sobre elas.
Ela olhou para o chão. — Eu gosto da Giana, — ela disse. — Ela é uma boa garota.
Veio do nada, mas era exatamente o que eu queria ouvir.
No avião, eu sentei com a carta que Giana tinha escrito para mim, segurando ela no meu colo. Embora eu quisesse abrir imediatamente, esperei até que tivéssemos decolado. Da janela eu podia ver a linha da costa e procurei primeiro pelo píer, depois pela casa. Me perguntei se ela ainda estaria dormindo, mas eu queria pensar que ela estava na praia esperando o avião passar. Quando estava pronta, abri o envelope. Nele ela tinha colocado uma fotografia dela mesma, e eu subitamente desejei que eu tivesse deixado uma de mim com ela também. Encarei seu rosto por um longo tempo, depois a coloquei de lado. Dei um longo suspiro e comecei a ler.
Querida Laryssa,
Há tanto que eu quero dizer a você, mas eu não tenho certeza por onde devo começar. Eu deveria começar lhe dizendo que te amo? Ou que os dias que passei com você foram os melhores da minha vida? Ou que no pequeno tempo que eu conheço você, comecei a acreditar que nós fomos feitas para ficar juntas? Eu poderia dizer todas essas coisas, e seriam todas verdade, mas enquanto eu as releio, tudo o que eu posso pensar é que eu queria estar com você, segurando sua mão e observando seu sorriso indescritível.
No futuro, eu sei que vou reviver nosso tempo juntas mil vezes. Ouvirei sua risada e verei seu rosto e sentirei seus braços ao meu redor. Vou sentir falta de tudo isso, mais do que você possa imaginar. Você é uma rara cavalheira, Lary, e eu dou grande valor a isso em você. Em todo o tempo que ficamos juntas, você nunca me pressionou para dormir com você e eu não posso lhe falar o quanto isso significou para mim. Fez o que nós tivemos parecer ainda mais especial e é assim que eu sempre quero me lembrar de meu tempo com você. Como uma pura luz branca, um suspiro em que eu possa me segurar.
Pensarei em você todos os dias. Parte de mim está com medo de que chegue um tempo em que você não se sinta da mesma forma em relação a mim, que você de alguma forma esqueça o que vivemos, então é isso que eu quero fazer. Onde quer que você esteja, não importa o que esteja acontecendo na sua vida, quando for a primeira noite de lua cheia como era na primeira vez que nos encontramos quero que você a encontre no céu noturno. Quero que você pense em mim e na semana que compartilhamos, porque onde quer que eu esteja, não importa o que esteja acontecendo na minha vida, é exatamente isso o que eu farei. Se não podemos ficar juntas, pelo menos podemos compartilhar isso e, talvez entre nós duas, podemos fazer isso durar pra sempre.
Eu te amo, Laryssa Cardoso e irei me segurar à promessa que você um dia me fez.
Se você voltar, eu caso com você. Se você quebrar sua promessa, quebrará meu coração.
Com amor, Giana.