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Mas como eu disse, eu tinha mudado. Entrei no exército como uma fumante e quase coloquei um pulmão pra fora no Boot Camp, mas diferente de praticamente todos da minha unidade, eu parei e não encosto nessas coisas há mais de dois anos. Moderei minha bebedeira até o ponto que uma ou duas cervejas por semana eram suficientes, e deve fazer um mês que eu não tomo nenhuma. Meu recorde era sem sentido. Eu fui promovida de soldado raso à cabo e depois, seis meses mais tarde, à sargento, e descobri que tinha uma habilidade de liderar. Eu liderava em fogo cruzados e meu esquadrão estava envolvido na captura de um dos criminosos de guerra mais perigosos dos Balcãs. Meu oficial comandante me recomendou à Escola para Candidatos a Oficial (OCS), e eu estava debatendo se iria me tornar um oficial ou não, mas isso às vezes significava um emprego de escritório e ainda mais papelada, e eu não estava certa se queria isso. Tirando o surfe eu não tinha feito exercício por anos antes de ingressar no serviço; na época que eu tirei minha terceira licença, ganhei 7 quilos de músculos e acabei com os pneuzinhos da minha barriga. Passava a maior parte do meu tempo livre correndo, praticando boxe e levantando peso com Gaab, um fortão de Nova York que sempre gritava quando falava, jurava que tequila era um afrodisíaco, e era de longe o meu melhor amigo na unidade. Ele me convenceu a fazer tatuagens nos dois braços assim como ele, e a cada dia que passava, a memória de quem eu fora um dia se tornava mais e mais distante.

Eu lia bastante também. No exército você tem um bocado de tempo pra ler, e as pessoas negociam livros aqui e ali ou alugam da biblioteca até que as capas estejam desgastadas. Eu não quero que você tenha a impressão de que eu me tornei uma erudita, porque eu não me tornei. Eu não estava interessada em Chaucer, Proust, Dostoievski ou qualquer um desses caras mortos; eu lia principalmente mistérios, suspenses e os livros do Stephen King, criei uma ligação particular com Carl Hiaasen porque as palavras dele fluíam facilmente e ele sempre me fazia rir. Eu não podia evitar pensar que se a escola tivesse indicado esses livros nas aulas de inglês, nós teríamos muito mais leitores no mundo.

Diferente dos meus colegas eu evitei qualquer perspectiva de companhia feminina. Parece estranho certo? No auge da vida, um trabalho cheio de estrese e tensão que poderia ser mais natural do que procurar por uma pequena libertação com ajuda feminina? Não era para mim. Embora alguns dos caras que eu conhecia namoravam e até casavam com algumas moradoras locais enquanto estavam com estação em Wiirzburg, eu tinha ouvido bastante estórias para saber que esses casamentos raramente davam certo. O exército era duro com relações em geral-eu havia visto bastante divórcios para saber disso - e embora eu não tivesse achado ruim a companhia de alguém especial, nunca aconteceu. Gaab não entendia.

— Você tem que vir comigo, — ele suplicou. — Você nunca vem.

— Não estou a fim.

— Como você pode não estar a fim? Giulia jura que a amiga dela é linda, e além de tudo ela e bi vamo, por favor.... e ela adora tequila.

— Leve o Lucas. Eu tenho certeza de que ele gostaria de ir.

— Krausche? De jeito nenhum. Giulia não o suporta.

Eu não disse nada.

— Nós só vamos nos divertir um pouco.

Balancei minha cabeça, pensando que eu preferia ficar sozinha a voltar a ser o tipo de pessoa que eu era, mas me peguei me perguntando se acabaria sendo tão monja quanto minha mãe. Sabendo que não poderia me fazer mudar de ideia, Gaab não se importou em esconder sua chateação no seu caminho até a porta.

— Eu não te entendo às vezes.

Quando minha mãe me pegou no aeroporto, ela não me reconheceu a princípio e quase pulou quando dei umas palmadinhas no ombro dela. Ela parecia ser menor do que eu me lembrava. Ao invés de me oferecer um abraço, apertou minha mão e me perguntou sobre o vôo, mas nenhuma de nós sabia o que dizer depois disso, então saímos do aeroporto. Era estranho e desorientador estar de volta em casa, e eu me sentir com os nervos à flor da pele, como da última vez que tinha tirado licença. No estacionamento, enquanto eu jogava minha bagagem na mala, vi na traseira do Ford Escort ancião dela um adesivo de para-choque que dizia para as pessoas APOIEM NOSSAS TROPAS. Eu não estava certa do que aquilo significava para a minha mãe, mas fiquei contente em ver.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora