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—Você me lembra ele.— ela tinha dito algumas vezes.

Até hoje, eu nunca falei uma única palavra com ele, nem tenho nenhum desejo de falar.

Eu acho que minha mãe era feliz. Eu coloco assim porque ela raramente mostrava suas emoções. Abraços e beijos eram uma raridade pra mim quando eu estava crescendo, e quando aconteciam, eles geralmente pareciam sem vida, algo que ela tinha feito porque sentiu que tinha que fazer, não porque ela quisesse fazer. Eu sei que ela me amava pelo modo que ela se dedicou a cuidar de mim, mas ela tinha 30 anos quando me teve, e uma parte de mim acha que minha mãe se daria melhor como uma monja do que como uma mãe. Ela era a mulher mais quieta que eu já conheci. Fazia poucas perguntas sobre o que estava acontecendo na minha vida, e do mesmo jeito que raramente ficava com raiva, ela raramente brincava. Vivia para a rotina. Fazia ovos mexidos, torradas e bacon para mim todas as manhãs e ouvia eu falar sobre a escola, no jantar que ela também tinha nos preparado. Ela marcava visitas ao dentista com dois meses de antecedência, pagava suas contas no sábado de manhã, lavava a roupa no domingo à tarde e saía de casa todo dia exatamente às 7:35 da manhã. Ela era socialmente estranha e passava longas horas sozinha todos os dias, deixando pacotes e maços de cartas nas caixas de correio ao longo da sua rota. Ela não namorava, nem passava noites de fim de semana jogando poker com seus colegas; o telefone podia ficar em silêncio por semanas. Quando tocava, ou era engano ou telemarketing. Eu sei o quanto deve ter sido difícil pra ela me criar sozinha, mas ela nunca reclamava, nem mesmo quando eu a desapontava.

Eu passava a maioria das minhas tardes sozinha. Com as obrigações do dia finalmente finalizadas, minha mãe ia pra sua toca ficar com as suas moedas. Essa era a maior paixão da vida dela. Ela ficava muito contente quando sentada na sua toca, estudando uma carta de um negociador de moedas apelidado de Greysheet e tentando descobrir qual era a próxima moeda que ela devia adicionar a sua coleção. O herói do meu avô era um homem chamado Louis Eliasberg, um financiador de Baltimore que é a única pessoa a ter reunido uma coleção completa das moedas dos Estados Unidos, incluindo várias datas e marcas da Casa da Moeda. Sua coleção se igualava se não superasse a coleção do Smithsonian*, e depois da morte da minha avó, meu avô ficou obcecado com a ideia de construir uma coleção com a filha. Durante os verões, meu avô e minha mãe viajavam de trem pra várias Casas da Moeda para coletar moedas de primeira mão ou visitavam vários eventos de moedas no sudeste. Logo, meu avô e minha mãe estabeleceram relações com negociadores de moedas por todo o país, e meu avô gastou uma fortuna negociando e melhorando a coleção todos esses anos. Mas diferente de Eliasberg, contudo, meu avô não era rico-ele tinha um armazém em Burgaw que faliu quando a Piggly Wiggly abriu suas portas por toda a cidade nunca teve chance de alcançar a coleção do Eliasberg. Mesmo assim, todo dólar extra se transformava em mais moedas. Meu avô vestiu a mesma jaqueta por trinta anos, dirigiu o mesmo carro a vida toda, e eu tenho certeza que minha mãe foi trabalhar para o correio ao invés de ir para a faculdade porque não sobrou um centavo para pagar qualquer coisa além do Ensino Médio. Ele era um cara estranho, com certeza, assim como minha mãe. Tal pai, tal filha, como diz o velho ditado. Quando o velho finalmente passou dessa pra melhor, ele especificou no testamento que a casa seria vendida e o dinheiro seria usado para comprar mais moedas, o que provavelmente seria o que minha mãe teria feito de qualquer forma.

Instituição educacional e de pesquisa associada a um complexo de museus, administrada e fundada pelo governo dos Estados Unidos. Rede de supermercados.

Quando minha mãe herdou a coleção, já era bem valiosa. Quando a inflação subiu para o telhado e o ouro atingiu $850 a onça, valia uma pequena fortuna, mais do que o suficiente para a minha mãe econômica se aposentar algumas vezes e mais do que valeria 25 anos depois. Mas nem meu avô nem minha mãe tinham começado a colecionar pelo dinheiro; eles estavam nisso pela emoção da caçada e pelo laço que se criou entre eles.

Tinha alguma coisa excitante em longas e duras procuras por uma moeda específica, finalmente localizá-la, depois negociar para consegui-la pelo preço certo.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora