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Não me entenda mal. Eu ainda estava louca por Giana e havia momentos em que eu ainda sentia a força dos seus sentimentos por mim. Muitos momentos, de fato. Na maior parte, foi uma semana maravilhosa.

Enquanto ela estava fora, eu caminhava pelo campus ou corria pela pista perto da casa de campo, aproveitando meu merecido tempo relaxado. Dentro de um dia eu achei uma academia que me permitia malhar pelo tempo que eu estivesse lá e porque eu estava de licença eles nem me cobraram nada. Eu geralmente tinha acabado de malhar e tomar banho na hora que Giana voltava e nós passávamos o resto da tarde juntas. Na terça à noite nos juntamos a um grupo de colegas de classe dela para jantar no centro de Chapel Hill. Foi mais divertido do que eu pensei que seria, especialmente considerando que eu estava saindo com um grupo de caras da aeronáutica de escola de veraneio e a maior parte da conversa foi centrada em psicologia de adolescentes. Na quarta à tarde, Giana me deu um tour das suas aulas e me apresentou aos professores.

Mais tarde naquela tarde, nos encontramos com algumas pessoas as quais eu havia sido apresentada na noite anterior. Naquela noite, compramos comida chinesa e comemos na mesa do apartamento dela. Ela estava vestindo uma daquelas blusas de alças, que acentuavam seu bronzeado e tudo o que eu podia pensar era que ela era a mulher mais sexy que eu já havia visto.

Na quinta, eu queria passar algum tempo sozinha com ela e decidi surpreendê-la com uma noite fora especial. Enquanto ela estava em aula e trabalhando no estudo do caso, eu fui ao shopping e gastei uma pequena fortuna em um terno e outra pequena fortuna em um par de sapatos. Eu queria vê-la vestida formalmente e fiz reservas nesse restaurante que o vendedor de sapatos tinha me dito que era o melhor da cidade. Cinco estrelas, menu exótico, garçons vestidos impecavelmente, a coisa toda.

Certamente eu não contei a Giana sobre isso de antemão deveria ser uma surpresa afinal de contas mas assim que ela passou pela porta, eu descobri que ela já havia feito planos para passar outra noite com os mesmo amigos que nós havíamos visto nos últimos dias. Ela parecia tão animada que eu nem me incomodei em contá-la o que eu havia planejado.

Ainda assim, eu não estava apenas decepcionada, estava com raiva. Ao meu ver, eu estava mais do que feliz em passar uma noite com seus amigos, até mesmo uma noite adicional. Mas quase todo dia? Depois de um ano separadas, onde nós tivemos tão pouco tempo juntas? Me incomodava que ela não parecia compartilhar do mesmo desejo. Pelos últimos meses eu havia imaginado que nós passaríamos o máximo de tempo juntas que pudéssemos, compensar o ano que passamos separadas. Mas eu estava chegando à conclusão de que estava errada. O que significava... o que?

Que eu não era tão importante para ela como ela era pra mim? Eu não sabia, mas dado o meu humor, eu provavelmente deveria ter ficado no apartamento e a deixado ir sozinha. Em vez disso, sentei afastada, me recusei a tomar parte na conversa e praticamente desviei o olhar de todos que olhavam na minha direção. Tinha ficado boa em intimidação com o passar dos anos e eu estava em uma forma rara naquela noite. Giana sabia que eu estava com raiva, mas toda vez que ela perguntava se alguma coisa estava me incomodando, eu estava no meu melhor modo passivo agressivo de negar que alguma coisa estava errada.
— Só estou cansada, — eu disse.
Ela tentou melhorar as coisas, admito. Ela segurava minha mão aqui e ali e me dava um rápido sorriso quando achava que eu o veria, e me encheu de refrigerante e batatas fritas. Depois de um tempo, contudo ela se cansou da minha atitude e desistiu.
Não que eu a culpe. Eu tinha merecido e de alguma forma o fato de que ela tinha começado a ficar com raiva de mim me deixou enburrada com isso, ao invés de sentir satisfação. Nós mal nos falamos no caminho pra casa e quando fomos pra cama, dormimos em lados opostos do colchão. Pela manhã eu já tinha deixado pra lá, pronta para seguir em frente. Infelizmente, ela não.

Enquanto eu estava fora pegando o jornal, ela deixou o apartamento sem tocar no café e eu acabei bebendo meu café sozinha.
Eu sabia que tinha ido longe demais e planejei compensá-la assim que ela voltasse pra casa. Queria deixar clara as minhas preocupações, contá-la sobre o jantar que eu havia preparado e me desculpar pelo meu comportamento. Presumi que ela entenderia. Colocaríamos tudo para trás com um romântico jantar fora. Era o que eu achava que precisávamos, visto que íamos para Wilmington no dia seguinte para passar o fim de semana com a minha mãe.

Acredite ou não, eu queria vê-la e assumi que ela estava ansiosa para a minha visita também, do seu próprio modo. Diferente de Giana, minha mãe se superava em se tratando de expectativas. Pode não ter sido justo, mas Giana tinha um papel diferente na minha vida naquela época. Balancei a cabeça. Giana. Sempre Giana.
Tudo nessa viagem, tudo na minha vida, me dei conta, sempre tinha a ver com ela.

À uma hora, eu tinha acabado de malhar, tomado banho, arrumado a maioria das minhas coisas e ligado para o restaurante para renovar minha reserva. Eu sabia da agenda de Giana àquela altura e presumi que ela estaria chegando a qualquer minuto. Sem mais nada pra fazer, sentei no sofá e liguei a televisão. Programas de jogos, séries, programas de vendas e entrevistas eram entremeados com comerciais de advogados oportunistas. O tempo se arrastou enquanto eu esperava. Eu continuava andando até o pátio para olhar a vaga dela no estacionamento e chequei meu equipamento três ou quatro vezes. eu pensei que Giana estava certamente no caminho de casa, e eu me ocupei limpando a lava-louças. Alguns minutos depois, escovei meus dentes pela segunda vez, então olhei pela janela mais uma vez. E nada dela.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora