De algum modo, segui com a minha vida. Tanto quanto eu pensava em Giana, tanto quanto eu sentia falta dela, tinha um trabalho a fazer. Começando em setembro devido a uma série de circunstâncias que até o exército tinha problemas em explicar meu batalhão e eu fomos enviados a Kosovo pela segunda vez para nos juntarmos à Primeira Divisão Blindada em outra missão de paz enquanto todos os outros da infantaria estavam sendo mandados de volta pra Alemanha. Estava relativamente calma e eu não disparei minha arma, mas isso não significa que eu passei meus dias colhendo flores e sentindo falta de Giana. Limpei minha arma, fiquei de guarda procurando por algum louco e quando você é forçada a ficar alerta por horas, fica cansada quando a noite cai. Eu posso dizer honestamente que poderia passar dois ou três dias sem me perguntar o que Giana estava fazendo ou até mesmo pensar nela. Isso fazia do meu amor menos real? Me fiz essa pergunta dúzias de vezes durante a viagem, mas sempre decidia que não, pela simples razão de que sua imagem me emboscava quando eu menos esperava, me derrotava com a mesma dor que eu tinha sentido no dia em que parti. Qualquer coisa podia despertá-la: uma conversa com um amigo, a visão de duas mãos se segurando, ou até mesmo o modo que alguns moradores da aldeia sorriam quando passavam.
As cartas de Giana chegavam a cada dez dias mais ou menos e formavam uma pilha quando eu voltei pra Alemanha. Nenhuma era como a que eu li no avião; a maioria era casual e informal e ela guardou a verdade sobre seus sentimentos até o final.
Nesse meio tempo, eu conheci os detalhes de sua vida diária: que eles tinham acabado a casa um pouco depois do previsto, o que tinha feito as coisas mais difíceis na construção da segunda casa. Pra essa, eles tiveram que trabalhar durante longas horas, mesmo que todos envolvidos tivessem se aperfeiçoado mais em suas tarefas. Soube que depois de completar a primeira casa, tinham dado uma grande festa pra toda a vizinhança e que tinham brindado e brindado noite à dentro. Soube que os trabalhadores tinham celebrado indo ao Shrimp Shack e que Mariana tinha dito que tinha uma atmosfera melhor do que qualquer restaurante que ela já tivesse ido. Soube que ela tinha pegado a maioria das aulas de outono com os professores que tinha requerido e que estava animada para ter aulas de psicologia adolescente com um Dr. Barnes, que tinha um grande artigo publicado em algum exótico jornal psicológico. Eu não precisava acreditar que Giana pensava em mim toda vez que ela martelava um dedo ou ajudava a colocar uma janela no lugar, ou que no meio de uma conversa com Mariana, ela iria sempre desejar que fosse comigo que estivesse conversando. Eu gostava de pensar que o que tínhamos era mais fundo do que isso, e com o tempo, essa crença fez meu amor por ela ficar ainda mais forte.
Claro, eu queria saber que ela ainda se importava comigo, e nisso, Giana nunca me decepcionou. Acho que foi essa a razão pela qual guardei cada carta que ela mandou. No fim de cada carta sempre havia algumas frases, talvez até um parágrafo, que ela escrevia algo que me fazia parar, palavras que me faziam lembrar e eu me pegava relendo passagens e tentando imaginar sua voz enquanto as lia. Como isso, da segunda carta que recebi:
Quando penso em você e eu e no que nós compartilhamos, sei que seria fácil para outros desconsiderar nosso tempo juntas como um simples produto dos dias e noites passados à beira mar, uma aventura amorosa que, a longo prazo, não iria significar absolutamente nada. É por isso que eu não conto às pessoas sobre nós. Elas não entenderiam e eu não sinto necessidade de explicar, simplesmente porque meu coração sabe o quanto foi real. Quando penso em você, não posso evitar um sorriso, sabendo que você me completou de alguma forma. Eu te amo, não só por agora, e eu sonho com o dia em que você me pegará nos braços novamente.
Ou isso, da carta que ela enviou depois de eu ter mandado uma foto minha:
E finalmente, quero te agradecer pela foto. Já coloquei na minha carteira. Você parece saudável e feliz, mas eu tenho que lhe dizer que chorei quando a vi. Não porque eu fiquei triste, embora tenha ficado, sabendo que não a verei mas porque me fez feliz. Me lembrou de que você é a melhor coisa que já aconteceu comigo.
E isso, de uma carta que ela tinha escrito enquanto eu estava em Kosovo:
Tenho que dizer que a sua última carta me preocupou. Quero saber, eu preciso saber, mas prendo a respiração e fico assustada por você quando você me conta como é realmente a sua vida. Aqui estou, me preparando para ir pra casa pra Ação de Graças e me preocupando com provas, e você está em algum lugar perigoso, rodeada de pessoas que querem te machucar. Eu só queria que essas pessoas pudessem te conhecer como eu te conheço, porque aí você estaria segura. Exatamente como eu me sinto segura quando estou em seus braços.