Giana alternou-se entre a cabeceira de Mariana e cadeira ao meu lado. Quando ela se aproximava, falávamos da doença, de câncer de pele em geral, e das especificidades dos possíveis tratamentos alternativos. Ela passou semanas pesquisando na internet e conhecia em detalhes todas as pesquisas em curso. Sua voz nunca subiu acima do sussurro, ela não queria que Igor ouvisse. Quando ela terminou, eu sabia mais sobre melanoma do que imaginava ser possível.
Pouco depois da hora do jantar, Giana finalmente se levantou. Mariana tinha dormido a maior parte da tarde, e pelo beijo de despedida que ela lhe deu, ela acreditava que ela continuaria dormindo à noite também. Ela a beijou uma segunda vez, depois pegou sua mão e indicou a porta. Saímos em silencio.
— Direto para o carro — disse ela quando estávamos no corredor.
— Você vai voltar?
— Amanhã. Se ela acordar, não quero dar motivo para ela achar que tem que ficar acordada. Ela precisa descansar.
— E o Igor?
— Ele vai de bicicleta — disse ela. — Ele vem de bicicleta todas as manhãs e volta de bicicleta à noite. Ele não vai comigo, mesmo se eu pedir. Mas ele vai ficar bem. Vem fazendo a mesma coisa há meses.
Poucos minutos depois, saímos do estacionamento do hospital e pegamos o trânsito da noite. O céu estava ficando cinza escuro, e nuvens pesadas se formavam no horizonte, pressagiando o mesmo tipo de tempestade que se vê no litoral. Giana perdeu-se pensamentos e falou pouco. Em seu rosto, vi refletido o mesmo esgotamento que eu sentia. Não conseguia imaginar ter que voltar amanhã, depois de amanhã e no dia seguinte, sabendo o tempo todo que havia uma possibilidade de ela melhorar em outro lugar.
Quando chegamos à entrada, olhei para Giana e notei uma lágrima escorrendo lentamente em seu rosto. Essa visão partiu meu coração, mas quando ela notou que eu a observava, pareceu surpresa de estar chorando. Decidi estacionar embaixo do salgueiro, ao lado do caminhão velho. Foi quando as primeiras gotas de chuva começaram a bater no para-brisa.
À medida que diminuía a marcha, me perguntei de novo se seria adeus.
Antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, Giana virou-se para mim. — Você está com fome? — perguntou. — Há uma tonelada de comida na geladeira.
Algo naquele olhar me advertia que eu deveria declinar, mas acabei aceitando. — Adoraria comer algo — disse.
— Estou contente —, ela respondeu, com voz suave. — Realmente não quero ficar sozinha hoje à noite.
Saímos do carro, a chuva aumentou. Corremos até a porta da frente, mas quando chegamos ao alpendre, minhas roupas estavam molhadas. Muna nos ouviu, e assim que Giana abriu a porta, a cadela me ultrapassou disparada pela cozinha na direção da sala de estar. Observando o cão, pensei na minha chegada no dia anterior e o quanto as coisas haviam mudado no período em que ficamos separadas. Era demais para processar. E como havia feito nas patrulhas no Iraque, blindei-me para focar apenas no presente e permanecer alerta ao que poderia vir a seguir.
— Tem um pouco de tudo — ela gritou a caminho da cozinha. — É assim que minha mãe lida com isso. Cozinhando. Temos cozido, chili, empadão de frango, porco grelhado, lasanha... — Ela tirou a cabeça de dentro da geladeira quando entrei na cozinha. — Alguma coisa te parece apetitosa?
— Qualquer coisa — disse. — O que você quiser está ótimo.
Notei um flash de decepção em seu rosto e imediatamente percebi que ela estava cansada de ter de tomar decisões. Limpei a garganta.
— Lasanha parece bom.
— Tudo bem — ela disse. — Vou esquentar um pouco agora. Você está super faminta ou só com fome?
Pensei a respeito. — Só com fome, eu acho.
— Salada? Posso colocar azeitonas pretas e tomate. Fica ótimo com molho rancheiro e crótons.
— Parece ótimo.
— Bom — disse ela. — Não vai demorar.
Observei Giana tirar um pé de alface e tomates da gaveta inferior da geladeira. Ela lavou-os na torneira, cortou os tomates e a alface e jogou-os na tigela de madeira. Então cobriu a salada com azeitonas e colocou-a sobre a mesa. Serviu generosas porções de lasanha em dois pratos e pôs o primeiro no microondas. Havia uma firmeza em seus movimentos, como se as tarefas simples a tranquilizassem.
— Eu não sei você, mas vou querer uma taça de vinho. — Ela apontou para um rack pequeno na bancada, perto da pia. — Tenho um bom Pinot Noir.
— Vou experimentar uma taça — disse. — Você quer que eu abra?
— Não, eu abro. Meu abridor é meio temperamental.
Ela abriu o vinho e serviu dois copos. Logo ela se sentou à minha frente, nossos pratos servidos. A lasanha estava fumegante, e o aroma me fez lembrar como eu estava com fome. Experimentei e continuei a comer.
— Uau — comentei. — Está muito bom.
— Está, não é? — ela concordou. Em vez de comer, porém, ela tomou um gole de vinho. — Também é a favorita da Mari. Depois que casamos, ela sempre pedia para minha mãe fazer uma travessa. Ela adora cozinhar, e fica feliz quando as pessoas gostam da comida dela.
Observei-a correr o dedo pela borda do copo. O vinho vermelho capturava a luz como a faceta de um rubi.
— Se você quiser mais, tem bastante — acrescentou ela. — Acredite em mim, você estaria me fazendo um favor. Na maioria das vezes, a comida vai para o lixo. Sei que deveria dizer para ela fazer menos, mas ela não aceitaria bem.