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— Eu não estou mentindo!

— Você estava sentada lá com ela, fingindo estar interessada em suas moedas, mas na verdade estava avaliando ela como um macaco na gaiola.

— Não foi assim! — ela disse, se levantando. — Eu respeito sua mãe.

— Porque você acha que ela tem problemas e os superou, — eu rosnei, terminando a frase para ela. — Sim, eu entendi.

— Não, você está errada. Eu gosto da sua mãe...

— Por isso você administrou seu pequeno experimento, não foi? — Minha expressão era dura. — É, eu devo ter esquecido de que quando você gosta de alguém, faz coisas assim. É isso que você está tentando dizer?

Ela balançou a cabeça. — Não! — Pela primeira vez, ela parecia questionar o que tinha feito e seu lábio começou a tremer. Quando falou novamente, sua voz tremeu. — Você está certa. Eu não devia ter feito isso. Mas eu só queria que você a entendesse.

— Por quê? — eu disse, dando um passo na direção dela. Eu podia sentir meus músculos tensos. — Eu a entendo bem. Cresci com ela, lembra? Eu vivi com ela.

— Eu estava tentando ajudar, — ela disse, os olhos abatidos. — Eu só queria que você fosse capaz de se relacionar com ela.

— Eu não pedi a sua ajuda. Eu não quero a sua ajuda. E desde quando isso é da sua conta, de qualquer forma?

Ela se virou e limpou uma lágrima. — Não é, — ela disse. Sua voz estava quase inaudível. — Eu achei que você iria querer saber.

— Saber o que? — eu exigi. — Que você acha que tem alguma coisa de errado com ela? Que eu não deveria esperar ter uma relação normal com ela? Que eu tenho que falar sobre moedas se quiser falar com ela??

Eu não escondi a raiva na minha voz e do canto dos meu olhos, vi alguns pescadores se virarem em nossa direção. Meu olhar os impediu de chegarem mais perto, o que provavelmente foi uma boa coisa. Enquanto nos encarávamos, eu não esperava que Giana respondesse e francamente, eu não queria que ela respondesse. Eu ainda estava tentando tirar minha mente do fato de que as horas que ela tinha passado com minha mãe não eram nada mais que uma farsa.

— Talvez, — ela sussurrou.

Eu pisquei, incerta de que ela tinha dito o que eu pensei que ela tinha dito.

— O que?

— Você me ouviu. — Ela me deu um pequeno encolher de ombros. —Talvez essa seja a única coisa sobre a qual você irá conversar com sua mãe. Pode ser tudo o que ela possa fazer.

Senti minhas mãos se fecharem em punhos. — Então você está dizendo que tudo depende de mim?

Eu não esperava que ela fosse responder, mas ela respondeu.

— Eu não sei, — ela disse, encontrando meus olhos. Eu ainda podia ver suas lágrimas, mas sua voz estava surpreendentemente firme. — Foi por isso que eu comprei o livro. Pra que você possa ler. Como você disse, você conhece ela melhor do que eu. E eu nunca disse que ela é incapaz de funcionar, porque obviamente ela funciona. Mas pense nisso. Suas rotinas imutáveis, o fato de ela não olhar para as pessoas quando fala com elas, a inexistência da sua vida social...

Eu girei, querendo atingir alguma coisa. Qualquer coisa. — Por que você está fazendo isso? — perguntei, minha voz baixa.

— Porque se fosse comigo, eu iria querer saber. Eu não estou dizendo isso porque eu queria machucar você ou insultar sua mãe. Eu lhe disse por que queria que você a entendesse.

Sua honestidade fez com que ficasse dolorosamente claro que ela acreditava no que estava dizendo. Mesmo assim, não me importei. Me virei e fui em direção ao píer. Eu só queria ir embora. Daqui, dela.

— Onde você vai? — eu a ouvi gritar. — Laryssa! Espera!

Eu a ignorei. Acelerei o passo e um minuto depois eu tinha alcançado as escadas. Corri escada abaixo, cheguei na areia e segui em direção à casa. Não fazia idéia se Giana estava atrás de mim e enquanto me aproximava do grupo, rostos viravam em minha direção. Eu parecia zangada, e sabia disso. Luis estava segurando uma cerveja e deve ter visto Giana se aproximando porque ele se moveu para bloquear meu caminho. Alguns dos seus irmãos de fraternidade fizeram o mesmo.

— O que está acontecendo? — ele falou. — O que há de errado com a Giana? — o ignorei e senti ele agarrando meu pulso. — Ei, eu estou falando com você.

Nenhum movimento. Eu podia sentir seu hálito de cerveja e sabia que o álcool tinha lhe dado coragem.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora