— Você já me perguntou isso.
— Sei que já perguntei — ela disse. — Mas você ainda não respondeu.
Estudei-a. Não, eu não tinha respondido. Não tinha certeza se podia me explicar, e transferi o peso de um pé para o outro.
— Não sabia para onde mais poderia ir.
Surpreendendo-me, ela concordou. — Uh-huh — admitiu.
Foi a aceitação sem reservas em sua voz que me fez continuar.
— Estou falando sério — disse. — De certo modo, você foi a melhor amiga que já tive.
Notei a expressão dela amolecer. — Tudo bem — ela disse. Essa resposta lembrou-me da minha mãe e, depois de falar, talvez ela tenha percebido isso. Obriguei-me a examinar a propriedade.
— Esta é a fazenda que você sonhava construir, não é? — perguntei. —Hope and Horses é para crianças altistas, não?
Ela passou a mão pelos cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha.
Parecia feliz de eu ter lembrado. — Sim — disse ela. — É.— É tudo o que você pensou que seria?
Ela riu e ergueu as mãos. — Às vezes — disse. — Mas é muito mais difícil do que eu imaginava, e não pense que rende o suficiente para pagar as contas. Nós trabalhamos em outros empregos, e todos os dias percebo que não aprendi tanto na faculdade quanto imaginava.
— Não?
Ela balançou a cabeça. — Algumas das crianças que aparecem aqui, ou no centro, são muito difíceis de tratar. — Ela hesitou, tentando encontrar as palavras certas. Finalmente, balançou a cabeça. — Acho que pensei que todas seriam como o Igor, sabe?
— Ela olhou para cima. — Você se lembra quando falei dele? — Assenti com a cabeça e ela prosseguiu. — Acontece que a situação do Igor era especial. Não sei, talvez por ele ter crescido em um rancho, mas ele se adaptou muito mais facilmente do que a maioria das crianças.Ela parou de falar, e olhei-a de modo inquisitivo. — Lembro que não foi assim que você me contou a história. Pelo que me lembro, Igor ficou apavorado no início.
— Sim, eu sei, mas enfim... Ele se acostumou. E esse é o ponto. Não sei quantas crianças temos aqui que não se adaptaram em nada, não importa quanto tempo trabalhamos com elas. Isto não é só uma coisa de final semana, algumas crianças frequentaram regularmente por mais de um ano. Trabalhamos em um centro de avaliação do desenvolvimento, portanto passamos muito tempo com a maioria das crianças. Quando criamos o rancho, insisti em abri-lo para todas as crianças, independentemente da gravidade do transtorno. Sentimos que seria algo importante, mas com algumas crianças... Eu só queria saber como me comunicar com elas. Às vezes parece que estamos apenas andando em círculos.
Percebi que Giana repassava suas lembranças. — Não quero dizer que estamos perdendo nosso tempo — ela prosseguiu. — Algumas crianças realmente se beneficiaram com o que estamos fazendo. Elas vêm aqui, passam alguns fins de semana e é como... um botão de flor lentamente desabrochando em algo belo. Assim como foi com Igor. É como se você pudesse sentir a mente deles se abrindo para novas ideias e possibilidades. E quando estão cavalgando com um grande sorriso nos rostos, nada mais importa no mundo. É um sentimento inebriante, e você quer que aconteça mais e mais, com cada criança que chega. Eu costumava achar que era questão de persistência, que podíamos ajudar a todos, mas não podemos. Algumas das crianças não querem nem mesmo chegar perto do cavalo, quanto mais, montar.— Você sabe que não é sua culpa. Eu também não ficava muito entusiasmada com a ideia de montar, lembra?
Ela riu. — Sim, eu lembro. Na primeira vez que você subiu em um cavalo, estava mais assustada do que boa parte das crianças.
— Não, não estava — protestei. — E, além disso, Pepper era arisco —insisti.
— Falou como uma verdadeira novata — ela provocou. — Mas mesmo que você esteja errada, fico tocada por ainda se lembrar.
Sua jovialidade evocou uma onda de lembranças.
— Claro que lembro — disse. — Aqueles foram os melhores dias da minha vida. Nunca vou esquecê-los. — Atrás dela, avistei o cão errante no pasto. — Talvez por isso eu ainda não esteja casada.Ao ouvir essas palavras, o olhar dela vacilou. — Eu também me lembro.
— Você?
— Claro — ela disse. — Você pode não acreditar, mas é verdade.
O peso das palavras dela encheu o ar.
— Você é feliz Giana? — finalmente perguntei.
Ela abriu um sorriso irônico. — A maior parte do tempo. Você não?
— Não sei — disse, e ela riu novamente.
— Essa é a sua resposta padrão, sabia? Quando é convidada a olhar para dentro de si e responder. É como um reflexo seu. Sempre foi. Por que você não pergunta o que realmente quer perguntar?
— O que eu realmente quero perguntar?
— Se amo a pessoa com quem me casei. Não é isso que você quer saber?
Por um estante fiquei muda, mas percebi que os instintos dela estavam corretos. Esse era o motivo real que me levara até ali.
— Sim — ela disse afinal, novamente lendo minha mente. — Eu amo.