Passei o resto do dia surfando, ou em vez disso, tentando surfar. O oceano havia se acalmado durante a noite e as maro linhas não eram nada com o que se animar. Pra piorar, elas quebravam mais perto da costa do que estavam quebrando no dia anterior, então mesmo que eu achasse algumas que valessem a pena pegar, a experiência não duraria muito antes da onda se acabar. No passado, eu teria ido a Oak Island ou até dirigido até Atlantic Beach, onde eu poderia pegar uma carona até Shackleford Banks na esperança de achar algo melhor. Hoje eu apenas não estava no humor.
Em vez disso, surfei no mesmo lugar dos últimos dois dias. A casa era um pouco mais pra longe da praia e parecia quase inabitada.
A porta de trás estava fechada, as toalhas não estavam mais ali e ninguém passava pela janela ou saia para o deque. Me perguntei quando todos estariam voltando. Provavelmente lá pelas quatro ou cinco horas e eu já tinha tomado minha decisão de que já não estaria mais ali a essa hora. Não havia razão para estar aqui, em primeiro lugar e a última coisa que eu queria que Giana pensasse que eu era algum tipo de perseguidora.
Fui embora lá pelas três e fui ao Leroy's. O bar estava mais escuro e deprimente do que eu me lembrava e eu odiei o lugar assim que passei pela porta. Sempre pensei nele como um bar profissional, como um bar para alcoólatras profissionais e tive a prova disso quando vi homens solitários erguendo copos das melhores bebidas do Tennesse, procurando por refúgio contra os problemas da vida.
Leroy estava lá e ele me reconheceu quando eu entrei. Quando me sentei no bar, ele automaticamente trouxe um copo até a torneira de cerveja e começou a enchê-lo.
— Há quanto tempo, — ele comentou. — Você está se mantendo fora de problemas?
— Tentando, — grunhi. Olhei o bar enquanto ele escorregava o copo na minha frente. — Gostei do que você fez com o lugar,— eu disse, fazendo um sinal por cima do ombro.
— Que bom. É tudo pra você. Vai comer alguma coisa?
— Não. Isso está bom, obrigado.
Ele enxugou a bancada à minha frente depois lançou a toalha em trapos por cima do ombro e saiu para pegar o pedido de outra pessoa. Um momento depois, senti uma mão em meu ombro.
— Laryssa! O que você está fazendo aqui?
Me virei e vi um dos muitos amigos que eu tinha passado a desprezar. Era o jeito que era aqui. Eu odiava tudo no lugar, inclusive meus amigos e me dei conta de que sempre foi assim. Não tinha idéia de porque eu tinha ido, ou nem mesmo porque eu tinha feito dessa uma saída habitual, a não ser pelo fato de que tirando esse lugar eu não tinha mais nenhum aonde ir. — Oi, Caio, — eu disse.
Alto e raquítico, Caio se sentou ao meu lado e quando se virou para me encarar, vi que seus olhos já estavam injetados. Ele fedia como se não tivesse tomado banho há dias e sua camisa estava manchada. — Você ainda está fazendo o papel de Rambo? — ele perguntou, pronunciando as palavras indistintamente. — Parece que você andou malhando.
— É, — eu disse, não querendo entrar no assunto. — O que você está fazendo esses dias?
— Saindo, principalmente. Pelas últimas semanas, de qualquer forma. Eu estava trabalhando no Quick Stop até algumas semanas atrás, mas o dono era um verdadeiro babaca.
— Ainda morando em casa?
— Claro, — ele disse, parecendo quase orgulhoso do fato. Ele inclinou a garrafa e deu um longo gole, depois se concentrou nos meus braços. — Você parece bem. Andou malhando? — ele perguntou de novo.
— Um pouco, — eu disse, sabendo que ele não se lembrava de já ter perguntado aquilo.
— Você está grande.
Não pude pensar em nada pra dizer. Caio tomou outro gole.
— Ei, tem uma festa hoje na casa da Mah, — ele disse. — Você lembra da Mah, né?
É, eu lembrava. Uma garota do meu passado que durou menos que um final de semana. Caio ainda estava falando.
— Os pais dela estão em Nova York ou algum lugar assim e vai ser um estouro. Só estamos tendo uma pré-festa pra nos colocar no humor apropriado. Quer se juntar a nós?
Ele indicou por cima do ombro quatro caras em uma mesa de canto aninhados com três jarras vazias. Reconheci dois da minha vida passada, mas os outros eram desconhecidos.