— O que?
— Você quer ir comigo ou não?
— Eu não tenho nenhuma roupa. Quer dizer, isso é tudo que eu tenho, e eu duvido que daria tempo ir em casa, tomar banho, e voltar a tempo. Se não, eu iria.
Ela em olhou de cima a baixo. — Bom. — Deu palmadinhas no meu joelho, a segunda vez que ela tinha me tocado. — Vou pegar algumas roupas pra você.
— Você está ótima, — Maryana me assegurou. — O colarinho está um pouco apertado, mas eu não acho que alguém vá notar.
No espelho, eu vi uma estranha vestindo calças, uma camisa branca apertada. Não conseguia lembrar da última vez que tinha vestido uma roupa tão formal. Não tinha certeza se estava feliz sobre isso ou não. Mariana, enquanto isso estava muito animada com a coisa toda.
— Como ela te convenceu a isso? — ela perguntou.
— Não faço ideia.
Ela riu e se inclinando para amarrar seus sapatos, piscou. — Eu disse que ela gosta de você.
Nós temos capelães no exército, e a maioria deles são caras bem legais. Na base, eu conheci alguns deles muito bem, e um deles - Ted Jenkins - era o tipo de cara que você confiava. Ele não bebia, e eu não estou dizendo que ele era um de nós, mas era sempre bem vindo quando aparecia. Tinha uma esposa e dois filhos, e estava no serviço há quinze anos. Ele tinha experiência própria quando se tratava de brigas com a família e a vida militar em geral, e se você alguma vez sentasse para conversar com ele, ele realmente ouvia. Você não podia contá-lo tudo - afinal, ele era um oficial e ele acabou repreendendo alguns caras do meu pelotão que admitiram suas aventuras um pouco livremente demais, mas o negócio era que ele tinha um tipo de presença que fazia você querer contar a ele mesmo assim. Eu não sei o que era a não ser o fato de que ele era um bom homem e um ótimo capelão do exército. Ele falava sobre Deus tão naturalmente como você fala sobre o seu amigo, não daquele modo irritante e pregador que geralmente me tira a vontade. E ele não te pressionava a comparecer ao culto nos domingos. Ele tipo que deixava com você, e dependendo do que estava acontecendo ou de quanto as coisas estavam perigosas, ele podia se achar falando com uma pessoa, duas ou cem. Antes de meu batalhão ser mandado para os Balcãs, ele provavelmente batizou cinquenta pessoas.
Eu fui batizada quando criança, então eu não fui por aí, mas como disse, fazia muito tempo que eu tinha ido ao culto. Tinha parado de ir com minha mãe muito tempo atrás, e não sabia o que esperar. Também não podia dizer que eu estava ansiosa para ir, mas no fim, não foi tão ruim assim. O pastor foi discreto, a música foi legal, e o tempo não se arrastou do jeito que sempre fazia quando eu era pequena. Não estou dizendo que tirei muito proveito do culto, mas mesmo assim fiquei feliz em ir, só assim eu poderia falar sobre alguma coisa nova com minha mãe. E também porque me deu mais um pouquinho de tempo com Giana. Giana terminou se sentando entre Mariana e eu, e eu fiquei olhando pra ela de canto de olho enquanto ela cantava. Ela tinha uma voz calma, discreta, mas estava sempre afinada e eu gostei do jeito que ela soava. Mariana ficou concentrada na Sagrada Escritura, na saída, ela parou para falar com o pastor enquanto Giana e eu esperávamos na sombra de um corônios lá na frente. Mariana parecia animada enquanto conversava com o pastor.
— Velhos amigos? — eu perguntei, indicando Mariana com a cabeça. Apesar da sombra, eu estava ficando com calor e podia sentir trilhas de transpiração começando a se formar.
— Não. Acho que foi o pai dela que lhe falou desse pastor. Ela teve que usar o google maps noite passada pra achar esse lugar. — Ela se abanou com a mão; em seu vestido de verão, ela me lembrou uma típica bela mulher do sul. — Fico feliz que você tenha vindo.
— Eu também, — concordei.
— Está com fome?
—Começando a ficar com fome.
— Temos comida na casa, se você quiser. E você pode devolver a Mariana suas roupas. Posso notar que está com calor e desconfortável.
— Não é metade do calor que fazem capacetes, botas e roupa à prova de balas, acredite.
Ela inclinou a cabeça dela pra mim. — Eu gosto de ouvir você falar sobre roupas de soldados. Não tem muitos na minha classe que falam como você. Acho interessante.
