Eu não estava muito feliz em ir, mas o jeito que ela pediu fez com que fosse impossível pra mim dizer não. Estava me acostumando a isso, eu imagino, mas eu preferiria ter ela toda só para mim pelo resto da tarde. Também não entendi porque ela queria ver minha mãe esta noite, a não ser que significasse que ela não estava tão animada quanto eu com a perspectiva de ficarmos sozinhas. Pra ser honesta, essa idéia me deprimiu. Ainda assim, ela estava de bom humor enquanto falava do trabalho que eles tinham feito nos últimos dois dias. Amanhã, planejavam começar as janelas. Luis, ela soltou, estava trabalhando ao seu lado nos dois dias, o que explicava a "amizade recém descoberta" deles. Foi como ela descreveu. Eu duvidava que Luis teria descrito seus interesses da mesma maneira.
Estacionamos na garagem alguns minutos depois e eu notei uma luz na toca da minha mãe. Quando desliguei o motor, brinquei com as chaves antes de sair do carro.
— Eu te disse que minha mãe é quieta, não disse?
— Sim, — ela disse. — Mas não importa. Eu só quero conhecê-la.
— Por quê? — eu perguntei. Sei o que pareceu, mas eu não pude evitar.
— Porque, — ela disse, — ela é sua única família. E foi ela quem te criou.
Uma vez que minha mãe tinha superado o choque do meu retorno com Giana a reboque e as apresentações tinham sido feitas, minha mãe passou a mão rapidamente por seu cabelo encarou o chão.
— Desculpa nós não termos ligado antes, mas não culpe a Lary, — ela disse.— Foi tudo minha culpa.
— Ah, — ela disse. — Tudo bem.
— Pegamos você em uma má hora?
— Não. — Ela olhou pra cima, depois para o chão novamente. — É um prazer conhecê-la, — ela disse.
Por um momento, ficamos todos em pé na sala, nenhum de nós dizendo nada. Giana estava com um sorriso fácil, mas eu me perguntei se minha mãe sequer tinha notado.
— Você quer beber alguma coisa? — minha mãe perguntou, como se de repente lembrasse que era pra fazer o papel de anfitriã.
— Estou bem, obrigada, — ela disse. — Lary me disse que você é uma colecionadora de moedas.
Minha mãe se virou para mim, como se se perguntasse se deveria responder. — Eu tento, — ela disse finalmente.
— Foi isso que nós interrompemos tão rudemente? — ela perguntou, usando o mesmo tom provocador que ela usava comigo. Para minha surpresa, ouvi minha mãe dar uma risada nervosa. Não alta, mas uma risada surpreendente.
— Não, vocês não interromperam. Só estava examinando uma moeda nova que eu comprei hoje.
Enquanto ela falava, eu podia senti-la tentar calcular como eu reagiria. Ou Giana não notou ou fingiu não notar. — Sério? — ela perguntou, — De que tipo?
Minha mãe mudou o peso de um pé para o outro. Então, para a minha perplexidade, ela olhou para cima e perguntou, — Você quer ver?
Passamos quarenta minutos na toca. Na maior parte do tempo eu sentei na toca e ouvi minha mãe contar estórias que eu sabia de cor. Como os colecionadores mais sérios, ela mantinha só algumas moedas em casa e eu não fazia a menor idéia de onde o resto delas estavam guardadas. Ela alternava parte da coleção a cada duas semanas, novas moedas aparecendo como se por mágica. Geralmente não havia mais do que uma dúzia por vez em seu escritório e nunca nada de valor, mas eu tinha a impressão de que ela poderia estar mostrando a Giana um centavo comum de Lincoln e ela teria ficado encantada. Ela fez dúzias de perguntas, perguntas que eu ou qualquer livro de coleção de moedas poderiam ter respondido, mas enquanto os minutos passavam, suas perguntas se tornaram mais perspicazes. Em vez de perguntar por que uma moeda era particularmente valiosa, ela perguntava quando e onde ele a tinha encontrado e ela foi convidada a escutar contos de finais de semana tediosos da minha juventude, passados em lugares como Atlanta, Charleston, Raleigh e Charlotte.
Minha mãe falou muito sobre essas viagens. Bem, para ela, de qualquer forma.
Ela ainda tinha a tendência de se refugiar nela mesmo por longos períodos de tempo, mas provavelmente tinha falado mais nesses quarenta minutos do que tinha falado comigo desde que voltei pra casa. Da minha posição estratégica, vi a paixão a que Giana tinha se referido, mas era uma paixão que eu já tinha visto antes milhares de vezes e não alterou minha opinião de que ela usava as moedas como um modo de evitar a vida ao invés de enfrentá-la. Eu tinha parado de conversar com ela sobre moedas porque queria conversar sobre outra coisa; minha mãe parou de conversar porque ela sabia como eu me sentia e não podia falar de mais nada.
