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Durante o jantar eu não perguntei sobre seu dia, sabendo que ela não responderia. Em vez disso, contei a ela sobre Giana e como tinha sido o nosso tempo juntas. Mais tarde, a ajudei com os pratos, continuando a nossa conversa de uma só via. Assim que acabamos, ela pegou o pano novamente. Limpou a bancada uma segunda vez, então girou os trituradores de sal e pimenta até eles ficarem na mesma posição que estavam quando ela chegou em casa. Eu tinha a sensação de que ela queria acrescentar alguma coisa a conversa mas não sabia como, mas eu supus que estava querendo fazer com que eu mesma me sentisse melhor. Não importava. Eu sabia que ela estava pronta para se recolher para a toca.

— Ei, mãe, — eu disse. — Que tal você me mostrar algumas das moedas que comprou recentemente? Eu quero ouvir tudo sobre elas.

Ela me encarou como se não tivesse certeza de que tinha me ouvido corretamente, então olhou para o chão. Tocou seu cabelo, quando ela olhou para mim novamente, parecia quase assustada.

— Certo, — ela disse finalmente.

Caminhamos até a toca juntas, e quando senti ela colocar uma mão gentil na minhas costas, tudo o que eu podia pensar era que não tinha me sentido próxima dela assim há anos.

Na noite seguinte, enquanto eu estava de pé no píer admirando a lua prateada no oceano, me perguntei se Giana apareceria. Na noite anterior, depois de passar horas examinando moedas com minha mãe e aproveitando a animação na sua voz enquanto ela as descrevia, dirigi até a praia. No assento ao meu lado estava o bilhete que eu escrevi pra Giana, pedindo à ela para me encontrar aqui. Deixei o bilhete em um envelope que coloquei no carro da Mariana. Eu sabia que ela passaria o envelope adiante sem abrir, não importava o quanto ela pudesse não querer. Pelo pequeno tempo em que eu a conhecia, acreditei que Mariana, como minha mãe, era uma pessoa muito melhor do que eu.

Foi a única coisa que eu pude pensar em fazer. Por causa da briga, eu sabia que não era mais bem vinda à casa da praia; também sabia que não queria ver Luis ou Nicole ou qualquer um dos outros, o que tornou impossível me comunicar com Giana. Ela não tinha celular, nem eu sabia o número da casa da praia, o que deixou o bilhete como minha única opção.

Eu estava errada. Tinha exagerado, e sabia disso. Não só com ela, mas com os outros na praia. Eu tinha simplesmente ido embora. Luis e seus amigos, mesmo que eles levantassem peso e se considerassem atletas, não tinham nenhuma chance contra alguém treinada para incapacitar pessoas rapidamente e eficientemente. Se fosse na Alemanha, eu teria sido trancada pelo que eu fiz. O governo não era muito carinhoso com aqueles que usavam habilidades adquiridas através dele de maneiras que o governo não aprovava.

Então eu deixei o bilhete, então olhei o relógio durante todo o dia seguinte, me perguntando se ela apareceria. Quando a hora que eu sugerira veio e passou, me achei olhando compulsivamente por cima do ombro, dando um suspiro de alívio quando uma figura apareceu à distância. Pelo modo que ela se movia, eu sabia que tinha que ser Giana. Me inclinei contra a cerca enquanto esperava por ela.

Ela diminuiu o passo quando me viu, então parou. Nenhum abraço, nenhum beijo a súbita formalidade me fez doer.

— Recebi seu bilhete, — ela disse.

— Fico feliz que tenha vindo.

— Tive que sair de fininho para ninguém saber que você estava aqui, — ela disse. — Escutei algumas pessoas falando sobre o que elas fariam se você aparecesse novamente.

— Desculpe, — comecei subitamente. — Sei que você só estava tentando ajudar e eu interpretei de maneira errada.

— E?

— E desculpe pelo que eu fiz com a Mariana. Ela é uma mulher incrível e eu deveria ter sido mais cuidadosa.

Ela não piscava. — E?

Arrastei meus pés, sabendo que não era realmente sincera no que estava prestes a dizer, mas sabendo que ela queria ouvir de qualquer forma. Suspirei. — E Luis e o outro cara também.

Ainda assim, ela continuou a me encarar. — E?

Fiquei sem resposta. Vasculhei na minha mente antes de encontrar seus olhos. — E... — parei aos poucos.

— E o quê?

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora