— Você está caçoando de mim?
—Só tomando notas. — Ela se encostou graciosamente na árvore. — Acho que a Mari está terminando.
Segui o seu olhar, não notando nada de diferente. — Como você sabe?
— Vê como ela juntou as mãos? Significa que ela está se preparando para se despedir. Em um segundo, ela vai estender a mão, sorrir e assentir, então estará no caminho pra cá.
Vi Mariana fazer exatamente como ela previu e caminhar em nossa direção.
Notei a expressão divertida dela. Ela encolheu os ombros. — Quando você vive numa cidade pequena como a minha não há muita coisa a fazer a não ser observar as pessoas. Você começa a ver padrões depois de um tempo.
Provavelmente havia muita observação de Mariana na minha humilde opinião, mas eu não ia admitir.
— Oi... — Mariana ergueu uma mão. — Prontas para voltar?
— Estávamos esperando por você, — ela ressaltou.
— Desculpe, — ela disse. — Começamos a conversar.
— Você começa a conversar com qualquer um e todo mundo.
— Eu sei, — ela disse. — Estou tentando ser mais formal.
Ela riu, e enquanto o papo familiar delas tinha me colocado momentaneamente fora do círculo de intimidade, tudo foi esquecido quando Giana enrolou o braço no meu em nosso caminho de volta ao carro.
Todos estavam acordados na hora que nós voltamos, e a maioria já estava em seus trajes de banho e trabalhando em seus bronzeados. Alguns preguiçavam no deque superior; a maioria se apinhava na praia. Música estrondava de um aparelho de som de dentro da casa, freezers de cerveja estavam reabastecidos e prontos, e alguns estavam bebendo; uma cerveja cairia bem, na verdade, mas levando em conta que eu tinha acabado de ir a igreja, achei que deveria passar.
Mudei as roupas, dobrando as de Mariana do jeito que eu tinha aprendido no exército, depois voltei à cozinha. Mariana tinha feito um prato de sanduíches.
— Sirva-se, — ela disse, com um gesto. — Temos toneladas de comida. Eu deveria saber fui eu quem passou três horas fazendo compras ontem. — Ela enxaguou as mãos e as secou numa toalha. — Certo. Agora é minha vez de trocar de roupa. Giana estará aqui em um minuto.
Ela deixou a cozinha. Sozinha, eu olhei ao redor. A casa estava decorada naquele tradicional jeito de praia: muita mobília colorida de madeira, lâmpadas feitas de conchas, pequenas estátuas de faróis no consolo da lareira, pinturas pastosas da costa.
Os pais de Fernanda tinham um lugar assim. Não aqui, mas em Bald Head Island. Eles nunca alugaram, preferindo passar os verões lá. É claro que o velho ainda tinha que trabalhar em Winston-Salem, e ele e a esposa voltavam alguns dias por semana, deixando a pobre Fernanda completamente sozinha. Exceto por mim, claro. Se eles soubessem o que acontecia naqueles dias, eles provavelmente não nos deixariam sozinhas.
— Olá, — Giana disse. Ela vestia o biquíni de novo, embora estivesse vestindo shorts por cima da parte de baixo. — Vejo que você voltou ao normal.
— Como você sabe?
— Seus olhos não estão inchados porque seu colarinho está muito apertado.
Eu sorri. — Mari fez alguns sanduíches.
— Ótimo. Estou morrendo de fome, — ela disse, se movimentando pela cozinha. — Você pegou um?
— Ainda não, — eu disse.
— Bem, vá em frente. Eu odeio comer sozinha.
Ficamos na cozinha enquanto comíamos. As garotas deitadas no deque não tinham percebido que nós estávamos lá e eu podia ouvir uma delas falando do que ela tinha feito com um dos caras na noite passada e nada do que ela dizia soava como se ela estivesse na cidade numa missão de boa vontade para com os pobres. Giana enrugou o nariz como se dissesse Muita informação, depois virou para a geladeira. — Preciso de uma bebida. Você quer alguma coisa?
— Água está bom.
Ela se inclinou para pegar duas garrafas. Eu tentei não olhar, mas olhei de qualquer jeito e, francamente, eu gostei. Me perguntei se ela sabia que eu estava olhando e supus que ela sabia, porque quando ela se levantou e se virou pra mim, tinha aquele olhar divertido novamente. Ela colocou as garrafas no balcão. — Depois disso, você quer ir surfar de novo?
Como eu poderia resistir a isso?