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— Nem eu. A pior parte é que meus pais são fluentes e eu tenho ouvido alemão em casa por anos, e até tive aulas antes de ir. Mas não entendia, sabe? Acho que fui sortuda de passar nas aulas, e tudo o que eu podia fazer era balançar a cabeça na mesa do jantar e fingir que entendia o que todo mundo dizia. A única coisa boa era que meu irmão estava no mesmo barco, então podíamos nos sentir como idiotas juntos.

Eu ri. Ela tinha um rosto aberto, honesto e sem querer, eu gostei dela.

— Ei, posso pegar alguma coisa pra você? — ela perguntou.

— Giana está tomando conta disso.

— Eu devia ter adivinhado. Anfitriã perfeita e tudo isso. Sempre foi.

— Ela disse que vocês duas cresceram juntas.

Ela assentiu. — A fazenda da família dela é logo ao lado da minha. Nós fomos às mesmas escolas e frequentamos a mesma igreja por anos, e depois nós estávamos na mesma universidade. Ela é tipo minha irmã caçula. Ela é especial. Apesar do comentário sobre a 'irmã', eu tive a impressão pelo modo como ela falou "especial" que seus sentimentos eram um pouco mais profundos do que ela deixava transparecer. Mas diferente de Luis, ela não pareceu com ciúmes sobre o fato de que ela tinha me convidado pra vir aqui. Antes que eu pudesse deixar minha imaginação vagar sobre isso, Giana apareceu nas escadas e desceu para a areia.

— Vejo que você conheceu a Mari — ela disse. Em uma mão estavam dois pratos com frango, salada de batata e batatas fritas; na outra, duas latas de Pepsi Diet.

— É, eu só quis aparecer e agradecer pelo que ela fez, — Mari explicou, — então decidi entediá-la com estórias de família.

— Bom. Eu estava esperando que vocês duas tivessem uma chance de se encontrar.

Ela ergueu suas mãos; como Mari, ela ignorou o fato de que eu estava sem camisa. — A comida está pronta. Você quer meu prato, Mari? Eu posso ir lá e pegar outro.

— Não, eu vou pegar, — Mari disse, se levantando. — Mas obrigado. Vou deixar vocês duas atacarem. — Ela sacudiu a areia dos shorts. — Ei, foi bom te conhecer, Lary. Se estiver na área amanhã, ou outro dia, você é sempre bem-vinda.

— Obrigado. Foi bom te conhecer também.

Um tempo depois, Mari estava subindo as escadas. Ela não olhou pra trás, apenas soltou um amigável olá para alguém vindo na direção oposta, depois seguiu o resto do caminho. Giana me estendeu o prato e alguns utensílios plásticos, trocou de mãos e me ofereceu um refrigerante, então sentou ao meu lado. Perto, eu notei, mas não tão perto para tocar. Ela apoiou o prato no colo, estendeu a mão para a lata antes de hesitar. Ela segurou a lata.

— Você estava bebendo cerveja mais cedo, mas disse pra pegar o que eu fosse pegar pra mim também, então eu te trouxe um desses. Eu não estava certa do que você queria.

— O refrigerante está bom.

— Tem certeza? Tem muita cerveja nos freezers e eu já ouvi falar de vocês, do exército.

Eu bufei. — Tenho certeza, — disse, abrindo minha lata. — Presumo que você não beba.

— Não, — ela disse. Nada de defensivo ou presunçoso em seu tom, eu notei, só a verdade. Gostei disso.

Ela mordeu um pedaço do frango. Eu fiz o mesmo, e no silêncio me perguntei sobre ela e Mariana e se ela sabia de como ela realmente se sentia em relação a ela. E me perguntei como ela se sentia em relação a ela. Havia algo ali, mas eu não conseguia descobrir o quê, a menos que Mari estivesse certa e fosse um negócio do tipo irmã. Eu de alguma forma duvidava que esse fosse o caso.

— O que você faz no exército? — ela perguntou, finalmente pousando o garfo.

— Sou sargento na infantaria. Esquadrão de armas.

— Como é? Quero dizer, o que você faz todo dia? Você atira, explode coisas ou o que?

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora