450 46 2
                                    

Em casa, guardei minha bagagem no meu antigo quarto. Tudo estava onde eu me lembrava dos troféus empoeirados na minha estante e uma garrafa vazia de Wild Turkey no fundo da minha gaveta de roupas de baixo. A mesma coisa no resto da casa.

O cobertor ainda cobria o sofá, a geladeira verde parecia gritar que aquele não era o seu lugar, e a televisão pegavam apenas quatro canais embaçados. Minha mãe cozinhou espaguete; sexta era sempre espaguete. No jantar, nós tentamos conversar.

— É bom estar de volta, — eu disse.

Seu sorriso foi breve. — Bom, — ela respondeu.

Tomou um gole de leite. No jantar, nós sempre bebíamos leite. Ela se concentrou na sua refeição.

— Você se lembra do Gaab? — Eu me aventurei. — Acho que eu o mencionei nas minhas cartas. De qualquer forma, veja só - ele acha que está apaixonado. O nome dela é.... ah esqueci o nome dela mais também não importa, e ela tem uma filha de seis anos. O alertei de que essa pode não ser uma boa ideia, mas ele não me ouve.

Ela cuidadosamente salpicou queijo Parmesão na sua comida, se certificando de que todos os lugares tivessem a quantidade perfeita. — Oh, — ela disse. — Certo. — Depois disso, eu comi e nenhuma de nós disse nada. Bebi leite. Comi mais um pouco. O relógio fez tique-taque na parede.

— Aposto que você está animada para se aposentar esse ano, — sugeri. — Pense que você poderá finalmente tirar umas férias, ver o mundo. — Eu quase disse que ela poderia vir me visitar na Alemanha, mas me segurei. Eu sabia que ela não iria e não queria colocá-la contra a parede. Enrolamos nossos macarrões simultaneamente enquanto ela parecia ponderar o melhor jeito de responder.

— Não sei, — disse finalmente.

Desisti de tentar falar com ela, e a partir daí os únicos sons eram aqueles vindos dos nossos garfos quando atingiam os pratos. Quando terminamos o jantar, tomamos nossos caminhos diferentes. Exausta por causa do vôo, fui para a cama, acordando a cada hora como eu fazia quando estava na base. Na hora que eu me levantei pela manhã, minha mãe já tinha ido para o trabalho.

Comi e li o jornal, tentei falar com um amigo, sem sucesso, então peguei minha prancha de surfe na garagem e fui à praia. As ondas não estavam ótimas, mas não importava. Eu não tinha estado numa prancha havia três anos e estava meio enferrujada a princípio, mas até mesmo os menores dribles me fizeram desejar que minha estação fosse perto do oceano. Era começo de junho, a temperatura já estava quente e a água era refrescante. Do meu ponto de vantagem na minha prancha, eu podia ver pais levando seus pertences a algumas das casas além das dunas. Como eu mencionei, a praia de Wrightsville estava sempre lotada com famílias que alugavam por uma semana ou mais, mas ocasionalmente estudantes universitários de Chapel Hill ou Raleigh faziam o mesmo. Era o último grupo que me interessava, e eu notei um grupo de estudantes de biquínis pegando seus lugares no deque de trás de uma das casas perto do píer. Fiquei as observando por um momento, apreciando a vista, depois peguei outra onda e passei o resto da tarde perdida no meu próprio mundinho.

Pensei em fazer uma visita ao Leroy's, mas me dei conta de que nada nem ninguém tinha mudado além de mim. Ao invés disso, peguei uma garrafa de cerveja da loja da esquina e fui sentar no píer para aproveitar o pôr-do-sol. A maioria das pessoas pescando já tinham começado a ir embora e os poucos que restavam estavam limpando sua captura e jogando os restos na água. Com o tempo, a cor do oceano começou a mudar de cinza para laranja e depois amarelo. Nas barricadas além do píer eu podia ver os pelicanos em cima de golfinhos enquanto eles surfavam pelas ondas. Eu sabia que a tarde iria trazer a primeira noite de lua cheia - meu tempo no campo fez da realização quase instintiva. Eu não estava pensando em muita coisa, só deixando minha mente vaguear. Acredite em mim, conhecer uma garota era a última coisa que eu tinha em mente.

Foi quando eu a vi subindo o píer. Ou melhor, duas delas andando. Uma era alta e loira, a outra uma morena atraente, as duas um pouco mais novas que eu. Estudantes universitárias pareciam. As duas vestiam shorts e blusas que deixavam os ombros à mostra, e a morena carregava uma daquelas bolsas grandes de tricô que as pessoas às vezes trazem a praia quando planejam ficar por horas com as crianças. Eu podia ouvi-las conversando e rindo, soando despreocupadas e prontas para as férias, quando elas se aproximaram....

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora