Eu acho que deveria explicar porque pulei em direção as ondas para recuperar a bolsa dela. Não foi porque pensei que ela iria me ver como algum tipo de heroína, ou porque queria impressioná-la, ou nem mesmo porque eu me importava com quanto dinheiro ela iria perder. Teve a ver com a sinceridade do sorriso dela e pela amabilidade da sua risada. Até mesmo quando eu estava me atirando em direção a água, sabia o quão ridícula minha reação tinha sido, mas aí era muito tarde. Eu mergulhei, nadei pra baixo e emergi. Quatro rostos olhavam pra mim da grade. O de camisa rosa estava definitivamente irritado.
— Onde está? — Eu gritei pra eles.
— Bem ali! — a morena gritou. — Acho que ainda consigo ver. Está descendo...
Eu levei um minuto para localizá-la no crepúsculo que escurecia e o ritmo do oceano estava fazendo o que podia para me jogar contra o píer. Nadei para o lado, então segurei a bolsa fora da água do melhor jeito que pude, apesar do fato de que ela já estava ensopada. As ondas fizeram com que o nado de volta a costa fosse menos difícil do que eu temia, e de vez em quando eu olhava pra cima e via as quatro pessoas me seguindo.
Finalmente senti o raso e me arrastei pra fora das ondas. Sacudi a água do meu cabelo, comecei a andar na areia e encontrei com eles no meio da praia. Estendi a bolsa.
— Aqui está.
— Obrigada, — a morena disse, e quando os seus olhos encontraram os meus eu senti um click, como uma chave virando em uma fechadura. Acredite em mim, não sou romântica, e enquanto ouvia tudo sobre amor à primeira vista, nunca acreditei, e ainda não acredito. Mas mesmo assim, havia algo ali, algo reconhecidamente real, e eu não consegui desviar o olhar.
De perto ela era mais linda do que eu tinha me dado conta, mas tinha menos a ver com o que ela aparentava do que com o que ela era. Não era só o seu sorriso com uma brecha nos dentes da frente, era o jeito casual com que ela mexia em uma mexa de cabelo, o modo fácil com que ela abraçava a si mesma.
— Você não precisava ter feito isso, — ela disse com alguma coisa maravilhada em sua voz. — Eu teria pego.
— Eu sei. — eu afirmei. — Eu te vi se preparando para pular.
Ela inclinou a cabeça. — Mas você sentiu uma necessidade incontrolável de ajudar uma dama em perigo?
— Algo assim.
Ela avaliou minha resposta por um momento, então voltou sua atenção para a bolsa. Começou a remover itens-carteira, óculos de sol, viseira, protetor solar-e estendeu tudo para a loira antes de espremer a bolsa.
— Suas fotos molharam, — a loira disse, olhando a carteira.
A morena a ignorou, continuando a espremer de um lado e depois do outro.
Quando ela finalmente estava satisfeita, pegou de volta os objetos e encheu a bolsa novamente.
— Obrigada de novo, — ela disse. Seu sotaque era diferente daquele do leste da Carolina do Norte, mais nasalado, como se ela tivesse crescido nas montanhas ou perto de Boone, ou perto da fronteira da Carolina do Sul a oeste.
— Não foi grande coisa, — eu murmurei, mas não me mexi.
— Ei, talvez ela queira uma recompensa, — camisa rosa falou, com a voz alta.
Ela olhou pra ele e depois pra mim. — Você quer uma recompensa?
— Não. — Balancei uma mão. — Fico feliz em ajudar.
— Eu sempre soube que o cavalheirismo não estava morto ele ainda reina nas mulheres,— ela proclamou.
Tentei captar uma nota de provocação, mas não ouvi nada no seu tom que indicasse que ela estava zombando de mim.
Camisa laranja me olhou de cima a baixo, notando o meu crew-cut. — Você é da marinha? — perguntou. Ele apertou seus braços ao redor da loira de novo.
Balancei a cabeça. — Eu não sou uma das poucas ou o orgulho. Eu queria ser tudo que podia, então me juntei ao exército.
A morena riu. Diferente da minha mãe, ela tinha na verdade visto os comerciais.