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Eu desisti dos esportes também. Eu tinha jogado futebol americano, basquete e praticado corrida até o segundo ano, e embora minha mãe algumas vezes perguntasse como eu tinha ido quando eu chegava em casa, ela parecia desconfortável se eu entrasse em detalhes, visto que era óbvio que ela não sabia nada de esportes. Ela nunca participou de um time na vida. Ela apareceu para um único jogo de basquete durante o meu segundo ano. Sentou nas arquibancadas, uma estranha uma jaqueta de esportes usada e meias que não combinavam. Embora ela não fosse obesa, suas calças apertavam na cintura, fazendo-a parecer como se estivesse grávida de três meses, e eu sabia que não queria ter nada a ver com ela. Eu fiquei desconcertada com a sua aparência e depois do jogo eu a evitei. Não sinto orgulho de mim mesma por isso, mas era assim que eu era.

As coisas pioraram. No meu último ano, minha rebeldia atingiu um ponto alto. Minhas notas vinham escorregando por dois anos, mais por preguiça e falta de cuidado que por inteligência (eu gosto de pensar), e mais de uma vez minha mãe me pegou entrando às escondidas em casa com bafo de birita. Eu fui escoltada até em casa pela polícia depois de ser encontrada em uma festa onde drogas e bebida eram evidentes, e quando minha mãe me colocou de castigo, eu fiquei na casa de um amigo por algumas semanas depois de esbravejar com ela para cuidar da sua própria vida. Ela não disse nada quando eu voltei; ao invés disso, ovos mexidos, torradas e bacon estavam na mesa de manhã como sempre. Eu mal passei de ano, e suspeito que a escola deixou eu me formar simplesmente porque me queriam fora de lá. Eu sei que minha mãe estava preocupada, e ela às vezes, do seu modo tímido, abordava o assunto da universidade, mas nesse tempo, eu já tinha decidido não ir. Eu queria um emprego, eu queria um carro, eu queria aquelas coisas materiais que eu tinha vivido dezoito anos sem.

Eu não disse nada pra ela sobre isso de um jeito ou de outro até o verão depois da formatura, mas quando ela se deu conta que eu não tinha nem me inscrito em alguma universidade, ela se trancou em sua toca pelo resto da noite e não me disse nada durante o nosso ovos com bacon na manhã seguinte. Mais tarde naquele dia, ela tentou me envolver em outra discussão sobre moedas, como se estivesse se agarrando ao companheirismo que tinha de algum modo se perdido entre nós.

— Lembra quando nós fomos para Atlanta e foi você que achou aquele níquel de cabeça de búfalo que nós procuramos por anos? — ela começou. — Aquele dia que tiraram a nossa foto? Eu nunca vou esquecer o quanto você estava animada. Me lembrou do meu pai e eu.

Eu sacudi a cabeça, toda a frustração da vida com a minha mãe vindo à superfície.

— Eu estou de saco cheio e cansada de ouvir sobre moedas! — Eu gritei pra ela. — Não quero nunca mais ouvir falar sobre isso! Você devia vender essa maldita coleção e fazer outra coisa. Qualquer coisa!

Minha mãe não disse nada, mas eu nunca esquecerei a sua expressão de dor quando ela finalmente se virou e se arrastou de volta até sua toca. Eu tinha machucado ela, e embora tenha dito a mim mesma que não queria fazer isso, lá no fundo eu sabia que estava mentindo pra mim mesma. A partir daí minha mãe raramente puxou o assunto das moedas de novo. Nem eu. Se tornou um enorme abismo entre nós, e nos deixou sem nada a dizer uma a outra.

Alguns dias depois me dei conta de que a nossa única fotografia tinha desaparecido, como se ela acreditasse que até mesmo a mínima lembrança de moedas me ofenderia. Naquele tempo provavelmente me ofenderia, e mesmo eu supondo que ela tinha jogado a foto fora, essa descoberta não me incomodou nem um pouco.

Crescendo, eu nunca considerei entrar no exército. Apesar do fato de que o leste da Carolina do Norte é uma da áreas mais militarmente densas do país você pode ver sete bases em algumas horas de passeio de carro por Wilmington eu costumava pensar que a vida militar era para perdedores. Quem queria passar a vida recebendo ordem de um bando de homens|mulheres de uniforme com crew-cut? Eu não, e tirando os caras do ROTC, nem muitas pessoas na minha escola. Ao invés disso, muitos que tinham sido bons alunos iam para a Universidade da Carolina do Norte ou para a North Carolina State, enquanto as crianças que não tinham sido bons estudantes ficavam pra trás, vagabundeando de um péssimo emprego a outro, bebendo cerveja e saindo por aí, e evitando a qualquer custo alguma coisa que requeresse uma sombra de responsabilidade.

Reserve Officer Training Corps, Subdivisão deTreinamento de Oficiais da Reserva, um tipo de colégio militar.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora