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Finalmente, ela deu um longo suspiro. — Fico feliz que tenha se alistado então. Eu realmente precisava daquela bolsa.

— Que bom.

— O que mais?

— O que mais o que?

— O que mais você pode me contar sobre si mesmo?

— Não sei. O que você quer saber?

— Me diga alguma coisa que mais ninguém sabe sobre você.

Considerei aquela pergunta. — Eu posso te dizer quantas notas de dez dólares indianos com bordas onduladas foram cunhadas em 1907.

— Quantas?

— Quarenta e duas. Elas não eram para o público. Alguns homens da Casa da Moeda fizeram para eles próprios e alguns amigos.

— Você gosta de moedas?

— Não tenho certeza. É uma longa estória.

— Nós temos tempo. —Eu hesitei enquanto Giana se esticou para pegar sua bolsa. — Espera, — ela disse, remexendo na bolsa. Puxou um tubo de protetor solar. — Você pode me contar depois de colocar protetor nas minhas costas. Sinto que estou ficando queimada.

— Ah, eu posso, é?

Ela piscou. — É parte do trato.

Eu apliquei o protetor nas costas e ombros dela e provavelmente me entusiasmei um pouco, mas me convenci de que ela estava ficando rosa e que uma queimadura do sol iria fazer do trabalho dela no dia seguinte horrível. Depois disso, passei os próximos minutos contando a ela sobre o meu avô e minha mãe, sobre as exposições de moedas e o bom e velho Eliasberg. O que eu não fiz foi responder sua pergunta especificamente, pela simples razão de que eu não estava muito certa de qual era a minha resposta. Quando eu acabei ela se virou para mim.

— E sua mãe ainda coleciona moedas?

— O tempo todo. Pelo menos, eu acho. Nós não falamos mais de moedas.

— Por que não?

Contei a ela aquela estória também. Não me pergunte o por que. Eu sabia que deveria estar mostrando o melhor de mim e escondendo as coisas ruins para impressioná-la, mas com Giana não era possível. Por alguma razão, ela me fazia querer contar a verdade, mesmo que eu mal a conhecesse. Quando eu terminei, ela tinha uma expressão curiosa no rosto. — É, eu fui uma idiota, — eu disse, sabendo que haviam outras palavras, provavelmente mais precisas para me descrever naquela época, e todas eram profanas o suficiente pra ofendê-la.

— Parece que sim, — ela disse, — mas não era o que eu estava pensando. Eu estava tentando te imaginar naquela época, porque você não parece nada com aquela pessoa agora.

O que eu poderia dizer que não soaria falso, mesmo que fosse verdade? Incerto, eu optei pela tática da minha mãe não disse nada.

— Como é a sua mãe?

Dei-lhe uma rápida descrição. Enquanto eu falava, ela cavava a areia e deixava ela cair entre seus dedos, como se estivesse se concentrando na minha escolha de palavras. No fim, me surpreendendo de novo, eu admiti que nós fôssemos quase estranhas.

— Vocês são, — ela disse, usando aquele tom objetivo e sem julgamentos. — Você tem estado fora por alguns anos e até mesmo admite que mudou. Como ela poderia te conhecer?

Eu sentei. A praia estava lotada; era a hora do dia em que todo mundo que planejou vir já estava aqui e ninguém estava pronto para ir embora. Pablo e Luis estavam jogando Frisbee na borda da água, correndo e gritando. Alguns outros andavam para se juntar a eles.

— Eu sei, — eu disse. — Mas não é só isso. Sempre fomos estranhas em relação ao outro. Quer dizer, é tão difícil falar com ela.

Assim que falei isso, me dei conta de que ela era a primeira pessoa a quem eu tinha admitido isso. Estranho. Mas, a maioria das coisas que eu estava dizendo a ela soava estranha.

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora