— Talvez seja por isso que ele tenha aberto um restaurante, porque o barco dele afundou.
— Pode ser. Ou talvez alguém deixou isso aí e ele nunca se importou em removê-lo. Pronta?
— Como sempre estarei, — ela disse e eu empurrei a porta.
Não sei o que ela esperava, mas ela tinha uma expressão satisfeita no rosto enquanto entrava. Havia um longo bar em um lado, janelas que davam para o rio e na área central, bancos de piquenique de madeira. Algumas garçonetes com cabelos longos elas não pareciam ter mudado mais que a decoração se moviam entre as mesas, carregando bandejas de comida. O ar tinha o cheiro oleoso de comida frita e fumaça de cigarro, mas de alguma forma parecia certo. A maioria das mesas estava ocupada, mas eu indiquei uma perto do jukebox*. Estava tocando uma música country do oeste, embora eu não soubesse dizer quem era o cantor. Sou mais uma fã de trap.
Fizemos nosso caminho por entre as mesas. A maioria dos clientes pareciam trabalhar duro pelo seu sustento: trabalhadores de construção, jardineiros, caminhoneiros e etc. Eu nunca tinha visto tantos bonés de baseball da NASCAR desde... bem, eu nunca tinha visto tantos. Alguns caras do meu esquadrão eram fãs, mas eu nunca saquei a graça de assistir a um grupo de marmanjos dirigirem em círculo o dia todo ou descobri porque eles não publicavam os artigos na seção de automóveis do jornal em vez de na seção de esportes. Sentamos uma em frente a outra e eu observei enquanto Giana assimilava o lugar.
— Gosto de lugares assim, — ela disse. — Quando você morava aqui era esse seu destino habitual?
— Não, esse era mais um lugar para ocasiões especiais. Normalmente eu saía para um lugar chamado Leroy's. É um bar perto da praia de Wrightsville. — Ela pegou um menu laminado que estava entre um porta guardanapos de metal e garrafas de ketchup e molho picante Texas Pete.
— Isso é muito melhor, — disse. Ela abriu o menu. — Agora, pelo que esse lugar é famoso?
— Camarão, — eu disse.
— Nossa, sério? — ela perguntou.
— Sério. Todo tipo de camarão que você puder imaginar. Você sabe aquela cena de Forrest Gump quando Bubba estava contando a Forrest todos as formas de se preparar camarão? Grellhado, salgado, em churrasco, camarão Cajun, camarão ao limão, camarão Creole, coquetel de camarão... É esse o lugar.
— De qual você gosta?
— Eu gosto deles resfriados com molho de coquetel do lado. Ou fritos.
Ela fechou o menu. — Você escolhe, — disse, empurrando o menu em minha direção. — Eu confio em você.
Coloquei o menu de volta nos eu lugar, encostado no porta guardanapos.
— Então?
— Resfriados. Em um balde. É a experiência consumada.
Ela se inclinou por sobre a mesa. — Então quantas mulheres você já trouxe aqui? Para a experiência consumada, quero dizer.
— Incluindo você? Deixe-me pensar. — Bati os dedos na mesa. — Uma.
— Estou honrada.
— Este era mais um lugar pra mim e meus amigos quando queríamos comer em vez de beber. Não havia comida melhor depois de um dia de surf.
— Como eu descobrirei em breve.
A garçonete apareceu e eu pedi o camarão. Quando ela perguntou o que queríamos para beber, eu ergui as mãos.
— Chá, por favor, — Giana disse.
— Traga dois, — eu completei.
Depois que a garçonete saiu, nos acomodamos em uma conversa fácil, ininterrupta mesmo quando nossas bebidas chegaram. Falamos sobre a vida no exército novamente; por alguma razão, Giana parecia fascinada com ela. Ela também perguntou sobre crescer aqui. Contei a ela mais do que pensei que iria sobre meus anos no Ensino Médio e provavelmente demais sobre os três anos antes do meu alistamento.
Ela ouviu atentamente, fazendo perguntas aqui e ali, e eu me dei conta de que já fazia um bom tempo desde que eu havia tido um encontro como este; alguns anos, talvez mais. Não desde Fernanda, de qualquer forma. Eu não via nenhuma razão para isso, mas quando sentei diante de Giana, tive que repensar minha decisão. Eu gostava de ficar sozinha com ela, e queria ver mais dela. Não só esta noite, mas amanhã e no dia seguinte. Tudo, desde a maneira fácil como ela ria, ao seu humor, à sua óbvia preocupação com os outros me atingiam como novos e desejáveis. Então novamente, passar algum tempo com ela me fez perceber o quanto eu tinha sido solitária. Eu não tinha admitido isso para mim mesma, mas depois de apenas dois dias com Giana, eu sabia que era verdade.