E ainda assim...
Minha mãe estava feliz e eu sabia disso. Eu podia ver o modo como seus olhos brilhavam quando ela indicava uma moeda, chamando atenção para a marca da Casa da Moeda, ou quão novo o selo tinha sido, ou como o valor de uma moeda podia variar se ela tivesse flechas ou coroas. Ela mostrou a Giana provas de moedas, moedas cunhadas em West Point, um dos seus tipos favoritos pra colecionar. Ela pegou uma lupa para mostrá-la as imperfeições na moeda e quando Giana segurou a lupa, eu podia ver a animação no rosto da minha mãe. Apesar dos meus sentimentos sobre moedas, eu não pude evitar sorrir, simplesmente por ver minha mãe tão feliz.
Mas ela ainda era minha mãe e não havia milagre. Uma vez que ela tinha mostrado as moedas e contado a Giana tudo sobre elas e como elas tinham sido coletadas, seus comentários ficaram mais e mais escassos. Ela começou a se repetir e percebeu isso, se refugiando e ficando ainda mais quieta. Com o tempo, Giana deve ter sentido seu desconforto crescente porque ela indicou as moedas em cima da mesa.
— Obrigada, Sra. Cardoso. Sinto como se realmente tivesse aprendido algo. — Minha mãe sorriu, obviamente esgotada e eu tomei isso como minha deixa para me levantar.
— É, foi ótimo. Mas nós deveríamos ir, — eu disse.
— Ah... certo.
— Foi ótimo conhecê-la.
Quando minha mãe assentiu novamente, Giana se inclinou e lhe deu um abraço.
— Vamos fazer isso de novo alguma hora, — ela sussurrou e embora minha mãe tivesse abraçado ela, me lembrou dos abraços sem vida que eu recebera quando criança. Me perguntei se Giana se sentia tão esquisita como ela obviamente se sentia.
No carro, Giana parecia perdida em pensamentos. Eu teria perguntado sobre suas impressões da minha mãe, mas não estava certa se queria ouvir a resposta. Sei que minha mãe e eu não tínhamos a melhor relação, mas Giana estava certa quando disse que minha mãe era a única família que eu tinha e tinha me criado. Eu podia reclamar dela, mas a última coisa que eu queria ouvir era alguém fazendo isso também.
Ainda assim, eu não acho que ela iria dizer alguma coisa negativa, simplesmente porque não era da sua natureza e então ela se virou para mim.
— Obrigada por me trazer pra conhecê-la, — ela disse. — Ela tem um coração tão... caloroso.
Eu nunca tinha ouvido ninguém descrevê-la dessa forma, mas eu gostei.
—Fico feliz que você tenha gostado dela.
— Eu gostei, — ela disse, parecendo sincera. — Ela é... gentil. — Ela me olhou. — Mas eu acho que entendo por que você teve tantos problemas quando era mais jovem. Ela não me pareceu o tipo de mãe que estabelece leis.
— Ela não era, — eu concordei.
Ela me mostrou uma carranca brincalhona. — E o seu antigo eu maligno tirou proveito disso.
Eu ri. — É, eu suponho que sim.
Ela balançou a cabeça. — Você deveria saber.
— Eu era só uma criança.
— Ah, a velha desculpa da juventude. Você sabe que isso não justifica, não sabe? Eu nunca tirei proveito dos meus pais.
— Sim, a criança perfeita. Acho que você já mencionou isso.
— Você está zombando de mim?
— Não, é claro que não.
Ela continuou a me encarar. — Eu acho que está, — ela finalmente decidiu.
— Certo, talvez um pouco.
Ela pensou na minha resposta. — Bem, talvez eu tenha merecido isso. Mas só pra você saber; eu não era perfeita.
— Não?
— Claro que não. Eu lembro claramente, por exemplo, que na quarta série eu tirei um B num teste.
Eu fingi choque. — Não! Não me diga isso!
— É verdade.
— Como você conseguiu se recuperar?
— Como você acha? — Ela encolheu os ombros. — Disse a mim mesma que isso nunca mais aconteceria novamente.
Eu não duvidava. — Já está com fome?
— Pensei que você nunca perguntaria.
— O que você quer comer?
Ela amarrou o cabelo em um coque desarrumado, depois respondeu.
— Que tal um grande e suculento cheesburguer?